Prefeito de SP usará estratégia de Bolsonaro para se reeleger
Foto: Governo do Estado de São Paulo e Fábio Vieira/Metrópoles
Enquanto negocia apoio de partidos da centro-direita para sua campanha à reeleição no ano que vem, como o PL de Jair Bolsonaro e o Republicanos de Tarcísio de Freitas, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), vem reunindo esforços, com apoio do mercado imobiliário, para tentar desarmar o deputado federal Guilherme Boulos (PSol), seu principal adversário até o momento, no terreno onde ele tem mais força: a luta por moradia.
Beneficiado com cifras recordes de arrecadação e o maior volume de dinheiro em caixa na história da cidade –R$ 31,8 bilhões —, Nunes vai investir na entrega de milhares de unidades habitacionais até 2024 e tentar convencer o eleitorado de que ele pode fazer mais do que o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que há anos mobiliza milhares de pessoas para realizar ocupações e pressionar o poder público a construir moradias populares.
O plano de entregas de imóveis da Prefeitura paulistana, segundo a gestão Nunes, será acelerado por um programa lançado por ele no fim do ano passado, o Pode Entrar, que prevê a compra imóveis já construídos pela iniciativa privada por parte da Prefeitura.
O programa tem até uma categoria chamada “entidades” que, da mesma forma que o programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, prevê que entidades que lutam por moradias possam organizar suas próprias filas de sem-teto para distribuir as unidades construídas ou adquiridas pelo estado, desde que se associem ao poder público.
Os técnicos da gestão Nunes estimam que a Prefeitura possa comprar e entregar 14 mil unidades até o ano que vem, quando ele tentará se reeleger prefeito. Além disso, o governo municipal está construindo 12,7 mil moradias de forma direta, por meio da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab). O Prefeitura calcula já ter entregue outras 6 mil unidades.
Além das novas construções, algumas ocupações de sem-teto deverão ter atenção especial da gestão emedebista. No centro, por exemplo, a Ocupação Prestes Maia, em um edifício de 23 andares, símbolo do movimento sem-teto na região, deverá dar lugar a um prédio que passou por retrofit e virar 270 unidades habitacionais para baixa renda.
No extremo da zona sul paulistana, a Ocupação Nova Palestina, que fica em área de manancial e cuja criação teve participação direta de Guilherme Boulos, deve virar um parque depois de todos os seus moradores serem transferidos para moradias regulares, segundo os planos da Prefeitura.
Aliados de Nunes pretendem usar imagens das futuras entregas de casas e apartamentos bem-acabados como contraponto aos vídeos divulgados pelo grupo de Boulos com “casas sustentáveis” feitas de barro.
A estratégia de Nunes já foi detectada pela oposição, que minimiza seu potencial eleitoral. A avaliação é de que Boulos poderá facilmente tirar proveito político dessas ações, dizendo que elas só foram adotadas por causa da mobilização feita pelo MTST. Além disso, para as famílias que não vivem nesta situação, o impacto eleitoral seria menor, avaliam.
Adversários de Nunes lembram que apenas o ex-prefeito Paulo Maluf conseguiu ganhar votos com política habitacional no campo da direita. Mas, para isso, criou uma marca própria, o “Projeto Cingapura”, e investiu milhões em publicidade, o que Nunes ainda não deu mostras de que irá fazer.
Outro ponto questionado pela oposição são os preços pagos pela Prefeitura por unidades adquiridas de incorporadoras privadas pelo programa Pode Entrar.
Na quarta (15/3), militantes do MTST montaram um acampamento em frente ao prédio da Prefeitura, no centro de São Paulo, para cobrar o cumprimento de compromissos que, de acordo com o movimento, a gestão de Ricardo Nunes assumiu e não entregou. O prefeito, no entanto, estava no Palácio do Planalto negociando com o PT apoio a um projeto ligado à revitalização do centro.