STF julgará se todo negro é bandido?!

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

 

Eduardo Guimarães

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o percentual de pessoas que se autodeclaram brancas é de 43%, de pretas 9,1%. e de pardas 47%. Os afrodescentes brasileiros, portanto, somam 56,1% dos 212,7 milhões de habitantes deste país.

Mais importante ainda, talvez, é o contingente quase microscópico de supostos “brancos” que haveria neste país – e digo supostos porque sabe-se que muita gente que não é branca assim se declara para evitar currículos descartados por possíveis empregadores se contiverem o que os racistas chamam de “raça”, como se a espécie humana tivesse raças.

Após o evento mundial que foi o movimento “Black Lives Matter”, que eclodiu nos EUA e envergonhou o racismo renitente até no Brasil, as coisas ficaram um pouco menos absurdas. Olhe só, caro leitor: em um país eminentemente preto, já é possível ver negros nas novelas e na publicidade.

Comemoramos ou lamentamos chegarmos ao ponto de comemorar o que deveria ser tão natural quanto o raiar de cada dia?

Seja como for, julgamento que está em curso no Supremo mostra que além de não haver motivos reais para comemorar, ainda estamos longe de fazer com que um país onde a maioria esmagadora da população é ou descende de negros pare de tratar essa maioria como intrusa e uma ameaça em seu próprio país.

Está sendo julgado no STF o caso de um homem preso com 1,53 grama de cocaína em Bauru, no interior paulista. No depoimento, os policiais citam explicitamente que o suspeito era uma pessoa negra que estaria “em cena típica do tráfico de drogas”, em pé, junto ao meio-fio, em via pública”, próximo ao um veículo parado.

Diretor da Conectas Direitos Humanos, Gabriel Sampaio, e sua organização participam do julgamento como parte interessada. Para ele, é necessário que os agentes do Estado apresentem provas concretas que justifiquem a necessidade de abordagem de uma pessoa.

Todos sabemos que não é isso o que acontece. O racismo brasileiro não é apenas uma opressão moral e econômica, é uma ameaça à integridade física da maioria esmagadora da população brasileira, exposta o tempo todo a violência policial.

São Inúmeros os casos de pessoas afrodescendentes que foram presas ou até mortas pelas polícias simplesmente porque ostentavam um bem considerado acima das condições de pessoas negras, como um carro novo ou de valor mais alto.

Falar em democracia, nesse cenário, é um deboche. Que democracia é essa em que a Suprema Corte de Justiça de um país discute se as pessoas podem ser presas simplesmente com base na cor da pele? A própria existência desse julgamento é uma afronta.

Redação