Vereador no Rio, filho 02 só ficava em Brasília

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Foto: Nelson Almdeira/AFP

Vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos) esteve no gabinete pessoal do pai, no Palácio do Planalto, ao menos 141 horas no período de outubro de 2019 a junho de 2021. Ainda segundo informações obtidas pela Fiquem Sabendo, agência de dados independente especializada na Lei de Acesso à Informação, em um único dia, 16 de junho de 2020, o vereador chegou ao prédio em Brasília às 9h45 e permaneceu até 22h42, somando quase 13 horas ininterruptas.

Os registros de visitas dos filhos do ex-presidente ao Planalto foram liberados após a Controladoria-Geral da União (CGU) derrubar o sigilo das informações. O filho de Bolsonaro que passou mais tempo em seu gabinete foi o “04″, Jair Renan, que totalizou 151 horas de visitas em menos de dois anos. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (eleito pelo PSL de São Paulo, hoje no PL) esteve no Planalto ao menos quatro vezes, somando 7 horas. O nome do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) não aparece nos registros de visitas ao gabinete pessoal do pai.

Ao todo, os três filhos adultos do ex-mandatário totalizam aproximadamente 300 horas no Palácio do Planalto entre outubro de 2019 a junho de 2021. O ex-presidente Bolsonaro é pai também de Laura, filha com a ex-primeira-dama Michelle. Alguns registros possuem apenas horário de entrada, o que inviabiliza o cálculo de duração dos encontros. Esses casos foram desconsiderados na contabilidade feita pelo Estadão.

Carlos é o mais influente do clã Bolsonaro nas redes sociais e colecionou ao longo do último governo episódios no qual teve participação ativa em vários atos do pai. Em março de 2020, por exemplo, participou da elaboração do texto lido por Bolsonaro em pronunciamento transmitido na TV e no rádio, no qual o ex-presidente pediu o fim do “confinamento em massa” diante da escalada da pandemia do coronavírus.

No dia em que Carlos passou 13 horas no gabinete do pai, 16 de junho de 2020, a Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão contra apoiadores do ex-chefe do Executivo. As ações da PF, autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foram realizadas no âmbito da Operação Lume, parte do inquérito que investigava a organização e o financiamento de atos antidemocráticos. As informações levantadas pela PF nessa apuração deram origem a outro inquérito ainda em andamento, o das milícias digitais.

No segundo ano da pandemia, Carlos Bolsonaro permaneceu no gabinete pessoal do ex-presidente da República por 10 horas no dia 18 de março de 2021. No mesmo dia, a agenda de Bolsonaro afirmava que ele teve seis encontros, sendo cinco no mesmo período em que o vereador esteve no Palácio do Planalto. A agenda oficial previa também a participação dos então ministros Braga Netto (Casa Civil) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), além de Augusto Heleno (GSI), Jônathas Assunção Salvador Nery de Castro (secretário da Secretaria de Governo da Presidência da República); André de Souza Monteiro (secretário de Relações Institucionais), Eduardo Gomes da Silva (secretário de Relações Institucionais); e André Luís Boratto Braga (secretário de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Governo da Presidência da República).

À noite, naquela quinta-feira, 18 de março, ao falar sobre a pandemia de covid-19 durante uma live, Bolsonaro imitou uma pessoa com falta de ar e criticou o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta.

Carlos Bolsonaro é apontado como principal articulador do chamado “Gabinete do ódio”, revelado pelo Estadão em setembro de 2019. Composto à época pelos assessores Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz, além do próprio Carlos, o grupo influenciava as redes sociais com publicações agressivas contra opositores de Bolsonaro e integrantes da imprensa.

Na posse do pai, em 1º de janeiro de 2019, Carlos quebrou o protocolo e desfilou no Rolls Royce presidencial junto a Bolsonaro e a Michelle na Esplanada dos Ministérios. À época, o irmão Eduardo disse que Carlos foi escolhido porque era o “pitbull da família”.

Enquanto o então presidente Jair Bolsonaro estava em Tóquio, participando da cerimônia de ascensão ao trono do imperador japonês, Jair Renan registrava sua visita mais longa no gabinete pessoal de Bolsonaro. No dia 22 de outubro de 2019, o “04″ chegou na Sala de Audiência do prédio às 12h27 e saiu às 19h53, totalizando pouco mais de 7 horas.

Os registros mostram que Jair Renan teve outra visita de 7 horas, um mês após a primeira. Em 21 de novembro, ele entrou no gabinete do pai às 9h31 e saiu às 16h39. O dia foi marcado pelo lançamento do Aliança pelo Brasil, partido político que Bolsonaro e apoiadores tentaram criar. O Aliança não alcançou as adesões necessárias para a formalização na Justiça Eleitoral.

No dia 17 de abril de 2020, o Comando do Exército revogou, a pedido de Jair Bolsonaro, três portarias do Comando Logístico (Colog), voltadas para o rastreamento, identificação e marcação de armas e munições. Em sua rede social, Bolsonaro divulgou a ação, direcionando o conteúdo para atiradores e colecionadores, os chamados CACs. O deputado Eduardo Bolsonaro comemorou a conquista nas redes.

 

Os registros de publicação dos tuítes mostram que eles foram feitos entre 13h16 e 13h18. Segundo os dados de visita ao Palácio do Planalto, Eduardo Bolsonaro estava no gabinete pessoal do presidente da República no momento das postagens. Os dados mostram que ele chegou no prédio às 9h41 e saiu 14h38. Eduardo é o filho do ex-presidente mais ligado à temática armamentista.

Ao contrário dos irmãos mais novos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) não aparece nos registros de visitas ao gabinete pessoal do pai. Ao menos no período examinado pela Fiquem Sabendo, entre outubro de 2019 e junho de 2021. Na disputa pela reeleição, em 2022, Flávio foi um dos coordenadores da campanha presidencial.

O Estadão entrou em contato com os gabinetes de Eduardo e Carlos na semana passada e também na quarta-feira, 15, e não obteve retorno por telefone e e-mail. Jair Renan não foi localizado pela reportagem.

Estadão