A ‘estranha’ relação de Bolsonaro com a Arábia Saudita

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Foto: Jacques Witt / AFP

A Polícia Federal agendou para esta quarta-feira (5) os depoimentos de Jair Bolsonaro (PL) e de seu ajudantes de ordens na Presidência, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, sobre as joias recebidas de autoridades da Arábia Saudita em outubro de 2021.

Naquela ocasião, um militar que assessorava o então ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) tentou desembarcar no Brasil, após viagem ao Oriente Médio, com artigos de luxo na mochila. Como não tinham sido declarados, os bens foram apreendidos pela Receita Federal —o caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Bolsonaro e Cid serão interrogados pelos investigadores sobre o caso, incluindo as tentativas de reaver as joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões.

Como mostrou a Folha, o ex-mandatário chegou a discutir o assunto com o então chefe da Receita Federal Julio Cesar Vieira Gomes em dezembro passado.

Um segundo pacote, que inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, todos também da marca suíça de diamantes Chopard e depois entregues a Bolsonaro, estava na bagagem de um dos integrantes da comitiva e não foi interceptado pela Receita, como mostrou a Folha.

Um recibo oficial registrou a entrega desse segundo conjunto à Presidência em novembro de 2022, para compor o acervo pessoal do ex-presidente.

Por determinação do TCU (Tribunal de Contas da União), esses artigos que estavam no acervo pessoal de Bolsonaro foram entregues por seus advogados à Caixa Econômica Federal para que fiquem guardados até o término de uma apuração instaurada na corte de contas.

Mesmo procedimento foi adotado nesta terça (4) sobre um terceiro estojo de joias, oferecido pessoalmente ao ex-presidente quando ele esteve na Arábia Saudita em 2019.

Bolsonaro visitou a Arábia Saudita uma vez, em outubro de 2019, semanas após afirmar, na ONU, que sua gestão aprofundaria as relações com parceiros asiáticos, incluindo aquele país do Oriente Médio.

No encontro, o ex-presidente disse ter “certa afinidade” e que se sentiu “quase irmão” do príncipe Mohammed bin Salman, líder polêmico pelo desrespeito aos direitos humanos e acusado de ter ordenado a morte de jornalista nas dependências da embaixada saudita na Turquia.

As importações brasileiras de produtos da Arábia Saudita atingiram recorde em 2022, último ano da gestão Bolsonaro. Foram US$ 5,3 bilhões, valor mais alto em série histórica do governo com informações a partir de 1997. O recorde anterior era US$ 3,3 bilhões (2014). Petróleo e fertilizantes são os principais produtos importados.

Dados do Portal da Transparência do governo, segundo levantamento de adversários de Bolsonaro no Congresso Nacional, indicam mais de 150 missões de autoridades brasileiras ao pais do Oriente Médio entre 2019 e 2022.

Entre elas está a comitiva à Arábia Saudita comandada pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que retornou ao Brasil com os artigos de luxo na bagagem oferecidos pelos sauditas.

Bolsonaro convidou o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman para vir ao Brasil em março do ano passado, mas a visita não se concretizou.

Folha