Americanos e Europeus desconfiam de aliança entre Brasil, China e Rússia

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Foto: Ministério das Relações Exteriores da Rússia/Reprodução

O chanceler russo, Sergei Lavrov, chegou nesta segunda-feira, 17, a Brasília, para a primeira visita de um representante da primeira linha do Kremlin ao Brasil desde o início da guerra na Ucrânia, em meio a críticas dos Estados Unidos. Em artigo na agência de notícias russa RIA, o jornalista e propagandista Dmitry Kosyrev pediu que os americanos “não atrapalhem” a diplomacia brasileira. Lavrov tem encontros marcados com o alto escalão do Itamaraty e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nos bastidores, há uma percepção na diplomacia americana de que o Brasil está “adotando a versão russa” para a guerra, e que está “ecoando a propaganda chinesa e russa”.

Os Estados Unidos, que travam uma disputa cada vez mais intensa com a China por influência mundial, também receberam mal algumas das declarações de Lula na China. Durante discurso no Novo Banco de Desenvolvimento – o chamado Banco dos Brics –, o presidente criticou a dolarização da economia e, em declaração conjunta com o líder chinês, Xi Jinping, se comprometeu a fortalecer o comércio em moedas locais, o que reduziria o poder econômico americano. “Grande parte do esforço da diplomacia americana nos últimos anos foi dedicada a garantir que nenhum dos aliados dos Estados Unidos ouse fazer negócios com [a Huawei] e dezenas de outras [empresas]”, disse Kosyrev no artigo publicado nesta segunda-feira, fazendo referência à visita de Lula a um centro de pesquisas da gigante de tecnologia chinesa.

Celso Amorim, agente informal da diplomacia brasileira que foi ministro das Relações Exteriores dos governos Lula nos anos 2000, justificou a relação com a China: “Nós, brasileiros, cooperamos com essa corporação há muito tempo, mas apenas escolhemos o melhor. Quando eles nos oferecem o melhor, nós tiramos deles.” Durante a viagem à Pequim, o presidente Brasileiro também defendeu a união de economias emergentes contra a hegemonia americana para “mudar a governança mundial”, representada pelo bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Sobre isso, Kosyrev escreveu que “o BRICS só pode ser considerado uma aliança antiamericana em uma situação – se os Estados Unidos e seus aliados impedirem que esses cinco países desenvolvam relações entre si da forma que consideram correta e benéfica (e os Estados Unidos o fazem)”.

O propagandista russo declarou ainda que, enquanto China e Brasil discutiam seus assuntos bilaterais, a mídia internacional escolheu falar sobre a guerra na Ucrânia, ressaltando que ambas as nações “se recusaram a condenar” a Rússia e “se recusaram a fornecer” armas a Kiev. O Brasil, desde o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, adota uma postura de distanciamento do conflito, evitando condenar a invasão do líder russo, Vladimir Putin, e defendendo o início de negociações de paz. Essa posição inclui não atender aos pedidos para vender armas à Ucrânia. No fim de semana, Lula afirmou, mais uma vez, que a guerra foi uma decisão tomada por dois países (Rússia e Ucrânia), e criticou a estratégia de fornecer armamentos a Kiev e não iniciar negociações de paz. Segundo ele, a postura dos Estados Unidos e da Europa “prolongam o conflito”. “Os Estados Unidos deveriam parar de apoiar a guerra e começar a falar em paz. A União Europeia deveria começar a falar em paz”, declarou.

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