Bolsonarista do BC não quer baixar juros nem com inflação baixa
Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (12/4), em reunião com investidores em Washington, que, apesar da desaceleração dos preços em março, a pressão inflacionária ainda é significativa no Brasil, em meio a um componente de demanda da inflação “relativamente forte”.
A análise de Campos Neto foi divulgada pelo BC e faz parte de uma apresentação feita a investidores, em uma reunião promovida pela XP Investimentos. A avaliação contraria o entendimento de setores do governo, para os quais haveria um problema de oferta, e não de demanda, que não poderia ser enfrentado com juros mais altos.
A inflação de demanda acontece quando a demanda agregada − a procura total de bens e serviços na economia − é maior do que a oferta.
“A inflação caiu, mas as pressões permanecem. O componente de demanda da inflação no Brasil é relativamente forte”, afirmou Campos Neto.
“Expectativas de inflação de longo prazo estavam ancoradas em 2022, mas desde novembro iniciou um processo de deterioração”, completou o presidente do BC.
Segundo o chefe da autoridade monetária, desde fevereiro o mercado voltou a precificar cortes na taxa básica de juros da economia, a Selic, como já havia acontecido entre agosto e novembro do ano passado.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país e teve variação de 0,71% em março, ficou em 4,65% no acumulado de 12 meses. Trata-se do patamar mais baixo em mais de dois anos, desde janeiro de 2021.
O resultado de março veio abaixo das estimativas do mercado. O consenso Refinitiv projetava inflação de 0,77% no mês passado e de 4,7% no acumulado de 12 meses.
A inflação mais branda em março animou o mercado financeiro, que teve um dia de euforia na terça-feira (11/4), e pode aumentar as pressões do governo para que o BC reduza a Selic.