Bolsonaro arrasta seus subordinados para a lama

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Foto: Marcos Corrêa/PR

Não existe uma régua para medir o grau de fidelidade de servidores públicos a um presidente da República. Em tese, todos lhe são fiéis, e os que não são acabam afastados. Mas, sem dúvida, alguns se destacam por serem mais devotados do que os outros.

Se o presidente se dá bem, eles escalam a pirâmide social. Se o presidente se dá mal, pode arrastá-los para a lama em que se meteu. É o que se vê agora. Tocou o alarme de salve-se quem puder entre os que fizeram todos os gostos de Bolsonaro.

O tenente-coronel Mauro Cid, seu ajudante de ordens, que seria recompensado com o comando de uma unidade estratégica do Exército, não só teve sua nomeação cancelada como será obrigado a se explicar em inquérito aberto pela Polícia Federal.

Foi ele, a mando de Bolsonaro, que às vésperas da fuga do ex-presidente para o exílio nos Estados Unidos, despachou o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva à caça do estojo de joias de Michelle, apreendido pela Receita Federal de São Paulo.

Por dois dias, 28 e 29 de dezembro, Moreira da Silva fez tudo ao seu alcance para cumprir a missão, sempre esbarrando na falta de documentos que atestassem o que dizia. Ou seja: que as joias, de fato, seriam incorporadas ao patrimônio do Estado brasileiro.

No dia 30, uma sexta-feira, baixou o silêncio. Moreira da Silva não procurou mais os agentes da Receita. Cessaram os telefonemas de autoridades de Brasília, pressionando-os a entregar as joias. Na tarde daquele dia, Bolsonaro embarcou para os Estados Unidos.

Por que, desde a apreensão das joias em outubro de 2021, o governo não cumpriu as formalidades para liberar as joias que ficariam com o Estado, e não com Michelle ou seu marido? A Polícia Federal quer saber. O que dirá Mauro Cid a respeito?

O almirante Bento Albuquerque, que como ministro das Minas e Energia foi portador das joias remetidas para Bolsonaro pela ditadura da Arábia Saudita, contou uma história esquisita. Em meio à sua bagagem, ele trouxe as joias, mas sem saber o que era.

Abriu o pacote no dia seguinte. E por mais de um ano, as joias foram guardadas no ministério. Bolsonaro só as recebeu depois de perder as eleições, levando-as com ele. Devolveu-as porque a Justiça mandou. Devolveu também outras joias que escondera.

Ministro que retorna de viagem oficial escreve um relatório narrando tudo o que se passou por lá. O relatório de Albuquerque, obtido pelo Metrópoles, não menciona as joias para Bolsonaro que entraram ilegalmente no país, nem as de Michelle, retidas.

Em pior situação está o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, preso depois que foi encontrada em sua casa uma minuta de golpe. Ele afirmou que a minuta era “lixo”, e que a recebeu de sua secretária. A secretária desmentiu-o.

Ao fim do primeiro turno da eleição perdida por Bolsonaro, a delegada Marília Alencar, diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, mapeou as cidades onde Lula teve mais votos. Na véspera do segundo turno, Torres desembarcou em Salvador.

À seção baiana da Polícia Federal, Torres disse dispor de informações de que o PT havia montado um esquema para aumentar a vantagem de Lula sobre Bolsonaro na Bahia. E exigiu que ela se juntasse à Polícia Rodoviária Federal para impedir isso.

Como? Criando barreiras nas estradas no dia do segundo turno e inspecionando com rigor o transporte de eleitores do PT. A Polícia Rodoviária Federal seguiu a orientação de Torres, a Polícia Federal não, porque esse tipo de serviço não lhe cabe.

Bolsonaro está perto de se tornar inelegível. Torres está ameaçado de ser condenado e de continuar preso. A não ser que colabore com a justiça contando tudo o que sabe, e que não é pouca coisa.

Metrópoles