Bolsonaro distribuiu R$ 67 mi a aliados

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Foto: Allan Santos/ PR

Prática comum em governos, o pagamento dos chamados jetons permite que altos funcionários escolhidos a dedo pelos poderosos de ocasião engordem seus rendimentos com valores bem acima do teto do funcionalismo público, que é o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal, de R$ 39,3 mil.

Sob Jair Bolsonaro, que gostava de dizer que “a mamata acabou”, a prática não foi diferente. Ministros, militares e até parentes de figuras próximas ao então presidente que ocupavam postos menos destacados na estrutura do governo receberam pelo menos R$ 67 milhões em extras.

A cifra, por si já bastante vistosa, ainda está abaixo do somatório final porque nem todos os pagamentos nem os nomes de todos os beneficiários estão disponíveis nos sistemas de consulta pública.

Os jetons são pagos a funcionários nomeados para participar de conselhos de empresas públicas, como a Petrobras – alguns também recebem para participar de conselhos de empresas privadas nas quais o governo tem participação acionária. As nomeações são feitas, normalmente, pelo próprio presidente ou pelos ministérios.

Ainda que incompletos, os dados disponíveis mostram por exemplo que Tarcísio de Freitas, então ministro da Infraestrutura e atual governador de São Paulo, recebeu R$ 420 mil em extras de 2020 a 2022 para participar do conselho de Senac, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.

Fábio Faria, ministro das Comunicações de Bolsonaro, e Rogério Marinho, ministro do Desenvolvimento Regional, receberam, cada um, pelo menos R$ 294 mil para além de seus salários. Os dois foram conselheiros do Sesc, o Serviço Social do Comércio – Faria de 2021 a 2022 e Marinho, atualmente senador pelo Rio Grande do Norte, de 2019 a 2021.

Os dados disponíveis mostram ainda que o embaixador Otávio Brandelli, número 2 do Itamaraty na gestão de Ernesto Araújo, recebeu R$ 871,9 mil em jetons para participar do conselho de Itaipu Binacional de 2019 a 2021.

No conselho da Petrobras, o integrante que mais recebeu recursos foi o almirante Eduardo Bacellar, que presidiu o colegiado entre 2019 e 2022. No período, foram pagos a ele R$ 488,7 mil. Bacellar foi comandante da Marinha entre 2015 e 2019, ano em que foi para a reserva.

Outro militar que integrou o conselho da estatal petrolífera foi o almirante Luiz Henrique Caroli, que ocupou postos de chefe na Marinha. Ele recebeu R$ 151,9 mil no posto da Petrobras só em 2022.

Diretora da Aneel, a Agência Nacional de Energia Elétrica, Agnes Maria de Aragão da Costa também foi conselheira e, de 2020 a 2022, obteve R$ 342,4 mil.

Chama atenção o caso de Vanessa Ferreira de Lima, que ocupou o discreto cargo de secretária-executiva-adjunta da Secretaria-Executiva da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ela recebeu pelo menos R$ 238,2 mil entre 2019 e 2022 para integrar os conselhos da Codevasf, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, e da estatal Emgea, a Empresa Gestora de Ativos.

Vanessa de Lima é mulher de Célio Faria Júnior, ex-chefe de gabinete de Jair Bolsonaro que, no ano passado, foi alçado a ministro da Secretaria de Governo. Célio até hoje é tido como um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro.

O orçamento da família, por sinal, foi consideravelmente reforçado à base dos jetons. Isso porque o próprio Célio Faria também recebia pagamentos extras, para participar do conselho de Itaipu. Só que os valores pagos a ele não aparecem nos sistemas públicos.

A lista disponível de beneficiários traz pelo menos mais sete militares que faturaram com pagamentos de jetons.

O brigadeiro José Magno Resende de Araújo, ex-comandante de Operações Aeroespaciais, recebeu R$ 606,6 mil para participar do conselho da Embraer de 2019 a 2020. No primeiro ano, durante 11 meses ele fez jus a R$ 40.796. Era mais que seu salário, de R$ 37 mil.

O almirante Almir Garnier, comandante da Marinha no governo Bolsonaro, também recebeu jetons como conselheiro da Amazul, a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa. Os pagamentos a ele somaram R$ 61,3 mil de 2019 a 2021.

O atual comandante da força, almirante Marcos Sampaio Olsen, que no governo Bolsonaro ocupou os postos de diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha e de comandante de Operações Navais, é outro que figura entre os beneficiários, com R$ 77,7 mil em jetons por participação em conselhos de estatais de 2019 a 2022.

Metrópoles