Centrão definirá quem terá mais força na CPMI
Manifestantes em protesto golpista em Brasília em 8 de janeiro, fato que vem sendo usado como pretexto para endurecer a lei contra o terrorismo
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
Integrantes do governo Lula estão otimistas quanto à possibilidade de os parlamentares aliados conseguirem a maioria na CPMI do 8 de Janeiro. A ideia é fazer a comissão mudar o foco proposto pelos oposicionistas, que seria principalmente questionar uma possível omissão das autoridades federais na contenção dos vândalos que depredaram as sedes dos poderes da República, e passar a priorizar a investigação sobre os financiadores e incentivadores dos golpistas. Para confirmar esse domínio, no entanto, o governo terá que negociar com o Centrão — em especial com três legendas.
Nos próximos dias, parlamentares do União Brasil, PP e Republicanos deverão receber forte assédio por parte de emissários do Palácio do Planalto. O objetivo é garantir entre os 32 integrantes da CPMI (16 do Senado e 16 da Câmara) supremacia suficiente para escolher o presidente e o relator.
“Vamos conseguir a maioria”, vaticinou à coluna a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann. “Só temos que acertar bem com o Centrão”.
O União Brasil tem a terceira maior bancada do Congresso, atrás apenas do PL e da federação PT/PCdoB/PV. Por isso, é grande a importância de garantir o apoio da legenda, que tem três ministros no governo, embora muitos de seus deputados e senadores relutem em apoiar a gestão de Lula.
O PP, que tem a quarta maior bancada, deverá seguir a orientação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas não se pode descartar dissidências.
O Republicanos, que integra o recém-criado Blocão, grupo que pretende ter postura independente em relação a Lira, começou há pouco tempo um movimento de aproximação com o governo, mas também tem deputados e senadores que precisam ser convencidos.
Essa fragmentação dos partidos do Centrão, cujos integrantes estão cada vez mais rebeldes em relação às orientações das direções partidárias, é um dos maiores empecilhos para esse tipo de negociação.
Apesar disso, o vce-presidente do União Brasil, ex-deputado Junior Bozzella, acha que o governo vai conseguir a maioria. “É a impressão que tenho, circulando pelos bastidores do Congresso”, avalia.
Líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) acredita que parte dessa tarefa será facilitada. “Das 16 vagas do Senado na CPMI, podemos ter oito ou nove. Com boa vontade chegar a dez. Já na Câmara vai depender do equilíbrio com o Centrão”, diz Randolfe.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) acredita que em qualquer hipótese haverá correlação favorável à “comprovação do atentado à democracia e ao financiamento privado que o insuflou”.
“Ao invés de ser conflitante, a CPMI deverá ser complementar à investigação do Supremo. O Parlamento vai poder se deter em alguns aspectos que não avançaram na investigação judicial”, argumenta Calheiros.