Com juros bolsonaristas via BC, emprego segue estagnado
Foto: Reinaldo Canato/VEJA.com
O número de brasileiros desempregados chegou a 8,8%, um aumento de 0,9% na comparação com último trimestre do ano passado e, ao mesmo tempo, a variação mais baixa para o período em oito anos. Os dados do mercado de trabalho acompanham a tendência de uma economia menos dinâmica no começo de ano, com indicação de crescimento baixo. Segundo o economista Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, os dados do início deste ano confirmam a tendência de desaceleração e indicam um período em que os dados de emprego devem andar de lado. “A gente caminhou muito rápido para um desemprego relativamente baixo, abaixo de 9%, que é um nível razoavelmente próximo da nossa capacidade histórica. Chegamos a isso devido a estímulos fiscais e a uma recuperação da economia puxada pelos serviços, que geram muitos empregos. Mas, agora, há um esgotamento desse momento no mercado de trabalho”, afirma Duque. Segundo o pesquisador, a tendência depende do nível de participação na força de trabalho, que pode ser puxada para baixo com mais estímulos fiscais à renda.
“Acreditamos que a tendência da ocupação deve ser de queda lenta nos próximos meses, influenciada pela desaceleração da atividade. A queda da taxa de participação, no entanto, pode conter uma alta mais significativa da taxa de desemprego”, diz Claudia Moreno, economista do C6 Bank. Para Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, a redução da população ocupada chama atenção. As pessoas que estão efetivamente ocupadas foram estimadas em 56,1% da força de trabalho, caiu 1 ponto porcentual abaixo do trimestre anterior (57,2%). “Possivelmente vamos ver uma desaceleração da ocupação influenciada por uma desaceleração da atividade”, analisa. Para este ano, o mercado financeiro estima o PIB em 0,96%, abaixo dos 2,9% registrados no ano passado. Juros Um dos grandes pontos de tensão do governo frente à agenda econômica é a taxa básica de juros, atualmente em 13,75%. A pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é para que a taxa caia e na próxima semana o Comitê de Política Monetária (Copom) deve decidir sobre o patamar da Selic. Duque analisa que a taxa de juros tem influência mais a longo prazo no mercado de trabalho — cerca de três trimestres — e que mais importante que o patamar dos juros, é a variação da taxa. “O aumento dos juros teve papel nessa estabilização e eles já estão há alguns meses no mesmo patamar, então contribuem para esse cenário de hoje. Qualquer mudança de juros a partir daqui deve ser sentida mais à frente, provavelmente no fim do ano”, afirmou.