CPI do MST pode ser criada sem fato determinante
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Anunciada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a CPI do MST virou alvo de preocupação do governo e de parlamentares petistas. O temor de desgaste que a comissão pode trazer cresceu com a possibilidade de que o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) seja indicado relator. Dentro da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda há esperança de convencer Lira a voltar atrás antes da leitura do requerimento.
Paralelamente, o MST também têm se articulado para tentar impedir o funcionamento da comissão. Lideranças do movimento, aliado histórico do PT, avaliam que se a comissão for instalada com Salles na relatoria e o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos) na presidência significa que o governo federal lavou as mãos. As invasões promovidas pelo MST durante o abril vermelho, que incluiu uma área da Embrapa em Pernambuco, provocaram descontentamento no Palácio do Planalto.
O receio principal é que o relator crie uma narrativa para criminalizar o movimento. As ocupações promovidas pelo MST neste início de ano têm gerado mobilização negativa contra o governo Lula nas redes sociais.
Em outra frente, os sem-terra planejam ainda recorrer à Justiça para barrar a CPI com a alegação de falta de objeto específico. O argumento é que o requerimento pede a investigação do movimento em si, e não de uma ação específica praticada.
Nesta quarta-feira, a instalação da comissão foi discutida em uma reunião no Palácio do Planalto entre os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais). A expectativa é que Padilha, responsável pela relação do governo com o Congresso, interceda junto a Lira.
Se não for possível barrar a comissão, integrantes do governo querem, pelo menos, negociar para que o presidente e o relator não sejam nomes tão hostis ao movimento, como Salles e Zucco.
Paulo Teixeira alega que os sem-terra já deixaram todas as áreas invadidas durante o abril vermelho.
— Espero que o Arthur Lira reveja a sua posição. Não tem objeto para instalar uma CPI contra o MST. Eles já saíram de todas as ocupações — afirmou o ministro.
Parlamentares e dirigentes de partidos da base têm chamado a atenção para que as siglas aliadas não se preocupem em colocar os seus principais quadros apenas na CPMI do 8 de janeiro e deixem em segundo plano a comissão que vai investigar o MST.
João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, disse, no Twitter que essa é a quinta CPI “em 18 anos usada para perseguir o MST e criminalizar a reforma agrária”. “Sem um objeto definido, é mais um palco para destilar ódio contra nossa luta. Seguiremos com nosso compromisso pela democratização da terra, a produção de alimentos e o combate às injustiças”, afirmou.