Lista de perguntas que a PF fará a Bolsonaro

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Foto: Arte O Globo

O ex-presidente da República Jair Bolsonaro vai prestar depoimento na tarde desta quarta-feira (5) à Polícia Federal em Brasília para responder a duas perguntas principais: se foi ele quem deu a ordem para que funcionários ligados à Presidência da República tentassem desembaraçar as joias sauditas trazidas escondidas ao Brasil, na alfândega de Guarulhos; e qual o destino que ele pretendia dar às peças.

Investigadores envolvidos na apuração me disseram que são essas as questões que vão ajudar a definir qual o papel de Bolsonaro no episódio e se ele cometeu algum crime. Qualquer informação nova que o ex-presidente fornecer poderá ser juntada às outras peças da investigação para reconstituir o enredo dos fatos envolvendo as joias.

A PF, porém, não depende das declarações do ex-presidente para chegar a uma conclusão sobre o caso.

Primeiro porque ele tem o direito de ficar calado durante o depoimento, se quiser. Como qualquer investigado, Bolsonaro – que pediu para chegar às 13h30m, uma hora antes do combinado, à sede da PF – não precisa responder a perguntas que possam incriminá-lo.

Mesmo que fique em silêncio, porém, haverá outras nove pessoas prestando depoimento ao mesmo tempo, no mesmo inquérito – justamente para evitar que combine versões.

Nessa espécie de “dia D” do caso das joias sauditas, quem estará depondo na mesma hora, só que em São Paulo, será o ex-ajudante de ordens do Palácio do Planalto, Mauro Cid, que teria comandado a operação para liberar as joias apreendidas na Receita do aeroporto de Guarulhos.

Depois de todos os depoimentos vai ficar mais claro quem fez o quê nessa história e de que forma funcionou a cadeia de comando.

Antes mesmo das oitivas, porém, os investigadores consideram que já têm depoimentos e evidências contundentes de que a estrutura da presidência da República trabalhou ativamente para desviar as joias que deveriam ser incorporadas ao patrimônio público para o acervo privado de Bolsonaro.

Dos depoimentos já recolhidos, o mais forte, na opinião dos policiais federais, é o de uma subordinada de Mauro Cid, Priscila Esteves das Chagas, que recebeu ordens para lançar antecipadamente na lista de presentes recebidos pelo então presidente as joias de R$ 16,5 milhões apreendidas pela Receita Federal em Guarulhos, quando as peças ainda estavam retidas e nem haviam sido liberadas.

Quando ficou claro que elas não seriam recuperadas, Priscila recebeu uma nova ordem, dessa vez para cancelar todo o processo. A sequência de arquivamentos e anulações ficou registrada no sistema digital de registro de documentos do governo federal.

Segundo os auxiliares do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque que trouxeram as joias, o conjunto de colar, anel e brincos de diamante da marca de luxo suíça Chopard seria um presente à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Depois que o jornal Estado de S. Paulo revelou o caso, soube-se que Albuquerque também trouxe outro segundo kit — este destinado ao próprio Bolsonaro, que as incorporou ao acervo pessoal e levou consigo depois de deixar a presidência.

Descobriu-se, ainda, que o ex-presidente guardou um terceiro kit de joias sauditas que nunca deveriam ter saído do Palácio do Planalto.

A apreensão das joias para Michelle por um fiscal da Receita gerou uma série de tentativas do antigo governo de reaver os itens milionários. Vários funcionários e ministérios foram envolvidos nas tratativas.

É com base nos documentos, vídeos e nos depoimentos dessas pessoas que a PF pretende concluir o inquérito das joias o mais rápido possível.

Essa primeira investigação vai incluir apenas o caso da apreensão das joias, as tentativas de liberá-las e o desvio irregular das peças.

Na PF, já se dá como certo que esse inquérito dará origem a pelo menos um outro filhote – para apurar quais são, onde estão e onde ficaram guardados os outros presentes recebidos por Bolsonaro enquanto estava no cargo.

Já se sabe que kits de joias – já devolvidos por Bolsonaro à União – ficaram guardados em uma fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet. As circunstâncias em que os itens foram parar na propriedade de Piquet, qual o envolvimento dele na história e o que mais Bolsonaro levou para lá serão objeto de outra investigação.

O Globo