Lula enfrentará reunião conturbada no G7

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O governo do Japão afirma que decidiu convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a cúpula do G7 com o objetivo de ouvir o posicionamento do Brasil em alguns dos principais temas internacionais. Mas a participação do país ocorre num momento de tensão e numa agenda estabelecida pelos organizadores que pode representar pontos de profunda discordância em relação aos objetivos da política externa brasileira. A reunião entre os líderes ocorre em Hiroshima entre os dias 19 e 21 de maio e a presença de Lula marca um retorno do Brasil ao grupo, depois de anos ignorado e preterido. Jair Bolsonaro não foi convidado a nenhuma das reuniões do G7, bloco formado por EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Canadá e Itália, além do Japão. Nos últimos anos, os presidentes do Chile ou da Argentina foram convidados pelo grupo e representaram a América Latina.

Segundo o embaixador do Japão, Kazuyuki Yamazaki, desta vez o Brasil será o único país sul-americano convidado ao evento. O fato de ser um dos principais membros dos Brics também foi considerado na escolha. Além dos integrantes do bloco, a cúpula do G7 optou por chamar a participação de outros oito países. São eles: Austrália Coreia do Sul Vietnã Brasil Índia (na condição de presidente do G20) Indonésia (na condição de presidente da Asean) Comoros (como presidente da União Africana) Ilhas Cook (como presidente do Fórum das Ilhas do Pacífica) Também serão convidados os líderes de entidades como a OMS, OMC, Banco Mundial, FMI e OCDE. “O Brasil é o único do país da América do Sul que participará. É o maior e queremos ouvir a visão e perspectiva do Brasil sobre os principais temas da agenda”, disse o embaixador japonês. “Em todos os temas, o posicionamento brasileiro é relevante”, insistiu. Itens da agenda da reunião como mudanças climáticas e o abastecimento de alimentos serão fundamentais na presença brasileiro. Pesou, segundo os organizadores, o fato de o governo Lula manter um “intenso engajamento diplomático com os principais líderes mundiais”. Sanções contra a Rússia e recados contra a China Na cúpula de Hiroshima, a diplomacia japonesa não deixa dúvidas de que a guerra na Ucrânia estará no centro do debate. Mas insiste que o recado que governos querem dar é o da necessidade de se defender a estabilidade da ordem internacional e condenar a agressão russa. “Estamos em ponto histórico”, disse o embaixador. Fontes diplomáticas brasileiras também revelaram ao UOL que o presidente levará ao G7 o resultado de suas reuniões com Xi Jinping, que ocorre na próxima semana, e o diálogo que irá manter com o chanceler russo, Sergei Lavrov, no dia 17 de abril em Brasília. Lula ainda defende o estabelecimento de um grupo de facilitadores que poderão ajudar a criar diálogo entre russos e ucranianos para permitir o fim da guerra que já dura mais de um ano. Tóquio deixou claro que dois pontos nortearão sua posição sobre o conflito: Um apelo para o fim da agressão militar por parte da Rússia e a retirada das tropas da Ucrânia. Um engajamento diplomático para estabelecer um acordo de paz Mas num documento da missão do Japão na ONU sobre o evento, dois pontos se destacam e revelam que a agenda não vai inteiramente na direção do posicionamento internacional do Brasil. Um deles é a disposição dos líderes do G7 para usar o evento para ampliar a pressão contra Vladimir Putin. “O G7 continuará a promover fortes sanções contra a Rússia e apoio para a Ucrânia”, diz. O Brasil, apesar de pressionado pelo governo americano, jamais implementou sanções contra o Kremlin. De fato, o volume de comércio entre Brasil e Rússia aumentou desde a eclosão da guerra. Outro ponto de potencial atrito se refere à relação com a China. “O G7 irá reafirmar e fortalecer a cooperação pela Abertura e Liberdade da Região Indo-Pacífica”, diz o documento. Segundo diplomatas, trata-se de um recado velado de unidade do bloco contra qualquer gesto de Pequim em Taiwan ou em águas internacionais. O Brasil já deixou claro que quer uma relação privilegiada com os chineses e que não fará parte de uma ofensiva internacional anti-China. No documento, outros os pontos principais foram apresentados para a cúpula que terá a presença de Lula, Joe Biden, Emmanuel Macron e outros líderes: Desarmamento Nuclear Um compromisso internacional de recusa ao uso de armas nucleares. Resiliência econômica G7 irá trabalhar em temas como a resiliência das cadeias de fornecimentos. Clima e Energia O governo do Japão aponta que, apenas da importância da garantir abastecimento de energia diante da agressão russa contra a Ucrânia, a meta de redução de emissões até 2050 precisa ser mantida. Na cúpula, o G7 mostrará um rascunho do projetos para se atingir tais objetivos climáticos. Alimentos Diante da crise de commodities, o governo do Japão afirma ser urgente garantir um acesso seguro e viável aos alimentos e desenvolver resiliência. Com esse objetivo, o G7 irá identificar vulnerabilidades estruturais no sistema de alimentos. Saúde Com base nas lições da pandemia, o G7 quer construir e fortalecer a arquitetura de saúde global, com especial atenção dada para prevenção, preparação e respostas a futuras pandemias. A meta é ainda a de promover um debate sobre uma cobertura universal de saúde mais resiliente e sustentável.

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