Oposição bolsonarista é vista como “amadora”

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Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Após uma semana em que tudo deu errado, a ala bolsonarista do PL prometeu organizar uma reunião para lavar a roupa suja e rever a estratégia de oposição a Lula. Não à toa. Enquanto os apoiadores de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados davam sinais de despreparo, ao priorizarem a lacração nas redes sociais em vez de estudarem os temas sobre que agora legislam, os adultos trabalhavam. Arthur Lira formou o maior bloco de partidos da Câmara, e o governo acumulou vitórias ao ver seus ministros atropelarem a pirotecnia dos bolsonaristas.

Deputados mais experientes do PL estão irritados com a falta de postura dos correligionários que assumiram o primeiro mandato neste ano. Neste grupo, estão parlamentares que não chegaram agora e ex-integrantes do governo Bolsonaro. Um aliado do ex-presidente afirmou que os novatos não entendem o funcionamento da Câmara e ignoram conselhos de quem já passou quatro anos em Brasília.

A audiência com o ministro da Justiça, Flávio Dino, na Comissão de Segurança Pública, na terça-feira (11/4), mostrou a falta de alinhamento no PL. O líder da oposição, Carlos Jordy, tinha enviado mensagens de WhatsApp para os deputados não se descontrolarem na frente de Dino. Ignorado, Jordy levantou-se em uma das discussões e gritou três vezes para o colega Gilvan da Federal ter calma. De nada adiantou.

Dino ficou menos de duas horas na Câmara. O presidente da comissão, Sanderson (PL-RS), encerrou a audiência por falta de ordem, para desespero dos bolsonaristas. Marco Feliciano saiu do local dizendo que a oposição era “uma vergonha”, enquanto Jordy soltou palavrões. A aliados, declarou que ficou “puto para caralho” com o que viu.

No dia seguinte, a comissão recebeu o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Sanderson disse à coluna que procurou cada um dos deputados do PL para exigir seriedade na audiência.

“Pedi para eles serem sérios. Isso aqui custa dinheiro. Se for para ser daquele jeito nem precisa convocar mais a comissão. Fica todo mundo em casa”, disse Sanderson. A audiência com Silvio Almeida transcorreu em clima mais ameno, sem que deputados tentassem se estapear dentro da comissão, mas Almeida surfou diante da falta de preparo.

Os bolsonaristas afirmam que o governo Lula “vai mal”, mas que a oposição “está pior” e sem rumo na Câmara. Interlocutores dos deputados mais experientes dizem que ninguém vai conseguir fazer um bom trabalho se os novatos insistirem em ser o “próximo Nikolas Ferreira“.

A preocupação com a popularidade nas redes sociais explicaria as diversas tentativas de lacração nas comissões, segundo os próprios bolsonaristas. Ninguém engoliu, por exemplo, a fala de André Fernandes (PL-CE) durante a audiência de Dino na semana passada, na CCJ. O deputado perguntou sobre os “277 processos” que aparecem atrelados ao nome de Dino na plataforma de consulta JusBrasil. Levou uma invertida do ministro, tornando-se piada na internet, ao ouvir a explicação que ali estava listado todo tipo de menção ao ministro em documentos oficiais, e não só processos.

“Se for para falar bobagem, fica quieto”, esbravejava um bolsonarista de segundo mandato, ao recordar o caso.

Questionado sobre os percalços da oposição, Eduardo Bolsonaro tergiversou e disse à coluna que a bancada saberá se organizar melhor. “Eu só dou conselhos para quem me pede”, afirmou. “É natural que haja uma conversa entre a gente para avaliar o que não deu certo. Aprendemos com nossos erros. Vamos ajustando o que não deu certo após cada reunião.”

O PL não entrou em nenhum dos dois grandes blocos formados na Câmara. Deputados esperavam que Jair Bolsonaro ajudaria a arrumar a casa ao assumir o papel de líder da oposição, mas o ex-presidente nunca demonstrou interesse na função.

Enrolado no caso das joias sauditas, Bolsonaro retornou ao Brasil no dia 30 de março e, desde então, mal deu as caras no escritório a que tem direito na sede do PL.

Metrópoles