Pela primeira vez figurão do Exército se explica à sociedade
Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo
Dezenas de militares do Exército foram ouvidos, ontem, pela Polícia Federal no âmbito da investigação que trata dos ataques golpistas de 8 de janeiro. Os depoimentos integram as diligências de um inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal (STF). Pela manhã, 40 membros da Força prestaram esclarecimentos, e, à tarde, foi a vez de outros 32. Oito não compareceram.
De acordo com o Exército, os militares estão depondo na condição de testemunhas e foram instruídos a colaborar com as investigações dos órgãos competentes.
A Polícia Federal quer entender qual o papel da Força terrestre na concretização dos atos e eventual proteção aos criminosos que depredaram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo.
Entre os convocados a prestar depoimento, estavam oficiais que ocupavam cargos de comando no Exército. Um dos depoentes foi o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que chefiou o Comando Militar do Planalto (CMP).
O general estava à frente do CMP até terça-feira passada, quando foi exonerado. Ele é suspeito de se omitir ante a invasão do Palácio do Planalto e de atuar para impedir as prisões dos acusados.
Também foi ouvido o tenente-coronel Jorge Fernandes da Hora, do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), responsável pela segurança do Palácio do Planalto.
Os depoimentos ocorreram presencialmente na Academia Nacional de Polícia, localizada no Lago Norte. Os integrantes da Força foram ouvidos em salas separadas por 50 delegados destacados para analisar o caso.
Parte dos militares em atividade no dia dos atos foi levada às oitivas em ônibus do Exército, enquanto outros se deslocaram por conta própria. Não houve presença de advogados durante os depoimentos.
A instalação em que ocorreram as oitivas é a mesma para onde foram levados extremistas presos no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, no dia seguinte aos atentados.
Diversas testemunhas e investigados afirmaram em depoimento que o Exército impediu a prisão dos vândalos no dia dos ataques.
Em novembro, dois meses antes da depredação dos edifícios na Praça dos Três Poderes, a Polícia do Exército deixou que acampados agredissem fiscais do governo de Brasília que tentaram remover barracas com mantimentos usados para sustentar o grupo extremista, de acordo com documentos obtidos pela PF durante as investigações.
Além disso, o ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Fábio Vieira afirmou que o Exército impediu operações da corporação para prender os integrantes do acampamento. Ele indicou que os oficiais da Força discordavam das ações e que chegaram a impedir o acesso da tropa da polícia.
A prisão só foi autorizada no dia seguinte, quando algumas pessoas, inclusive parentes de militares, já tinham deixado o acampamento.