Presidente da CCJ cobra fidelidade de aliados de Lula

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Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerada a mais importante da Câmara dos Deputados, Rui Falcão (PT) defende que o governo Lula precisa lidar com divergências e considera normais as críticas de Gleisi Hoffmann, presidente da sigla, ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O parlamentar também frisa que partidos com cargos, a exemplo do União Brasil — dono de três pastas na Esplanada —, têm a obrigação de entregar votos.

A base do governo é minoria na CCJ. Como vai lidar com isso?

Não fiz a contagem. Não teve nenhuma votação que permitisse fazer esse tipo de avaliação. As informações que recebo é que a gente tem maioria no plenário, pelo menos acima de 257 deputados.

O senhor pretende dialogar com bolsonaristas? As últimas sessões foram acaloradas.

Eu já tenho dialogado com todos, porque meu papel é dirigir os trabalhos da CCJ. Já recebi os deputados Deltan (Dallagnol, Podemos-PR), (Alexandre) Ramagem (PL-RJ), (Marcelo) Crivella (Republicanos-RJ) e dialoguei com eles normalmente. Só não vou admitir na CCJ que a gente transite para baixaria, ataques pessoais, porque isso desmerece a própria comissão e se reflete na imagem da Câmara.

Qual deve ser a postura do governo com o União Brasil, que, apesar de ter ministérios, se diz independente?

Quem participa do governo deve votar com o governo. Se isso não ocorrer, o que não acredito, cabe aos articuladores do Planalto dialogarem.

Em nota sobre os cem dias de governo, o PT não se comprometeu a apoiar o arcabouço fiscal.

Não vi ainda o texto definitivo. Acho que é um avanço em relação ao que tinha. As críticas que tenho, e que gostaria de debater antes de o projeto chegar, é que nós não devemos admitir a redução do papel do Estado na economia, até para dar conta de todas as propostas que o Lula menciona.

Essas críticas de integrantes do PT ao arcabouço não minam o próprio governo?

As críticas não significam que a gente vá votar contra o arcabouço, mesmo que ele seja nos moldes como está apresentado na imprensa. São críticas para melhorar o projeto na linha do que é o nosso programa de governo. O mercado critica também, por exemplo, a falta de um teto para investimentos, e essa ausência nós defendemos. Isso me leva a temer que, quando o projeto chegar, venham emendas no sentido de fixar um teto para o investimento.

O senhor defende alguma mudança no texto?

Não tive oportunidade de ver o texto e não sei se está aberto para discussão conosco da bancada. Quero crer que vai haver o momento em que a bancada poderá participar.

Gleisi Hoffmann, presidente do PT, se posiciona em alguns momentos contra iniciativas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Qual deve ser o papel do PT em relação ao governo?

Vejo com muita simpatia a postura que ela tem de defender o nosso programa e as posições do PT. Tem feito isso com muita sobriedade. E não é uma coisa contra o Haddad em nenhum momento. Ela sempre faz observações para melhorar as políticas que o Haddad e outros ministros comandam.

A função do PT em relação ao governo é puxá-lo mais para a esquerda?

Nós temos um governo de frente amplíssima. Nosso papel, como partido, é fazer a disputa dentro do governo e na sociedade também. E o governo tem que conviver com partidos, ideias, diferenças. O PT tem todo o direito de disputar as políticas dentro do governo e, principalmente, disputar essas políticas para ter apoio na sociedade. Para ter maioria no Parlamento, precisa ter apoio popular. É um governo de disputa. E os outros partidos estão disputando também.

O governo é criticado por ter apenas reembalado programas antigos nos cem primeiros dias. Como vê as críticas?

As pessoas sempre querem mais. Acho que foi um grande avanço ter devolvido a normalidade democrática ao país. A derrota do Bolsonaro e a sua fuga aos Estados Unidos deram um tempo de tranquilidade. Retomar os programas antigos não é pouca coisa.

Como vê a comunicação do governo nesse início?

Já temos uma visível mudança da comunicação em relação ao que ocorria antes. Não tem mais cercadinho, agressão e perseguição a jornalistas. O (Paulo) Pimenta (ministro da Secom) está remontando algo que tinha sido destruído. Sempre pode melhorar, ele disse que sabe que pode melhorar e quer ajuda. O que não vamos fazer é usar as mesmas armas do bolsonarismo.

A que está referindo?

Muita gente acha que, para ter mais audiência, mais influência, precisa fazer o marketing da lacração. Sou contra.

Vê influência do Bolsonaro na oposição?

Eles estão divididos sobre que papel ele vai cumprir e que tipo de oposição eles vão fazer. E ele não está liderando nada.

O Globo