Poucos estão tomando vacina bivalente contra covid

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8.jan.2021 – Manifestante compara vacinação contra covid-19 à Alemanha nazista Imagem: Marie Declercq/UOL.

A imunização contra a covid-19 utilizando a vacina bivalente está abaixo do esperado em grupos de maior risco em todo o país.

O que aconteceu

Após quase dois meses, apenas 17,6% do público esperado foi aos postos se vacinar. Até a última quinta-feira (20) foram aplicadas 9,7 milhões de doses, de um público-alvo estimado em 55 milhões de pessoas.

A meta é alcançar 90% do público-alvo até o fim da campanha, o que não tem prazo para ocorrer. Após atraso em relação a outros países, a vacinação bivalente começou em 27 de fevereiro no Brasil.

Resultado frustrou um esforço do governo federal. O Ministério da Saúde colocou o tema vacinação como prioridade dos 100 primeiros dias.

A ideia da Saúde era fazer a vacinação do grupo de risco em cinco fases. Porém, a baixa adesão levou à antecipação de todos que compõem esse público a partir de 18 de março.

Quem pode se vacinar com a bivalente

Idosos de 60 anos ou mais de idade;

Funcionários ou pessoas que vivem em instituições de longa permanência;

Indígenas, ribeirinhos e quilombolas;

Gestantes e puérperas;

Trabalhadores da saúde;

Pessoas com deficiência permanente;

Presos, adolescentes em medidas socioeducativas e funcionários do sistema prisional;

Movimento antivacina atrapalha, diz governo

O Ministério da Saúde diz ver com preocupação o temor da população em tomar a dose do imunizante.

Parte disso se deve ao movimento antivacina, que ganhou força com o ex-presidente Jair Bolsonaro quando teve início a pandemia.

“Enquanto [o governo anterior] oferecia vacina, havia um discurso oficial contra a credibilidade delas, o que alimentou um movimento que perdura até hoje. A gente imaginava que enfrentaria muita dificuldade, havia muita gente jogando contra. E, de fato, o número demonstra o tamanho da resistência criada.” – Éder Gatti, diretor do Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde

“Mas a gente é otimista, a campanha ainda não acabou. Não podemos dizer que o país ficará só com essa cobertura.” – Éder Gatti

A imunização contra a covid-19 com vacina bivalente está bem abaixo da primeira fase da campanha de vacinação, iniciada em janeiro de 2021, quando se atingiu 90% do público-alvo em várias faixas etárias.

“Ali estávamos vivendo a segunda e mais letal onda da doença, as pessoas tinham medo da covid. Agora não temos mais esse elemento, mas a covid não acabou”. – Éder Gatti

Ao menos 4,7 mil pessoas morreram de covid-19 no Brasil neste ano. A média é de 43 óbitos por dia, segundo dados dos cartórios de registro civil. Mais de 80% dos óbitos são pessoas com 60 anos ou mais.

O que será feito?

O Ministério da Saúde realiza campanha de conscientização do público-alvo sobre a importância da vacina e tenta convencer a todos que a vacina protege e é segura.

“A gente vai lançar em breve uma ação de multivacinação. Temos problemas também em vacinas da rotina, e muitas crianças estão desprotegidas. A vacina contra covid estará nessa ação.” – Éder Gatti

A vacina bivalente da Pfizer é uma nova geração de imunizantes que protege não só contra a cepa original, mas também contra as subvariantes da ômicron —principal tipo do vírus que circula hoje.

Para receber o imunizante, é preciso ter completado o esquema primário com as doses únicas e respeitar um prazo mínimo de quatro meses desde a última dose recebida.

Norte com mais dificuldade

A situação mais crítica está no Norte. Três estados apresentam a menor cobertura vacinal no país: Roraima, Acre e Amazonas. A coluna procurou os três estados para comentar as taxas, mas nenhuma das secretarias de Saúde respondeu.

A menor cobertura vacinal no Norte não é bem uma novidade e já havia ocorrido na primeira fase da vacinação, desde 2021.

O principal motivo alegado é que há dificuldade das pessoas irem até as salas de vacina por conta da distância e falta de acesso.

Além disso, há também uma demora no registro dos dados de vacinação no sistema do PNI por conta da dificuldade de acesso à internet em algumas áreas.

Assunto sumiu

A SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) atribui a baixa cobertura a três fatores: a sensação equivocada de que a covid-19 acabou, o sumiço da doença dos noticiários e às fake news.

“Antes era falta de vacina, agora faltam pessoas irem se vacinar. Isso surpreende porque, mesmo os números [da covid] estando menores, ela ainda mata muito. É preciso fazer mais barulho.” – Flávia Bravo, diretora da SBIm

Um monitoramento da Palver, empresa de análise de dados, apontou uma alta de 75% no conteúdo de desinformação sobre vacina que circulou em fevereiro deste ano, na comparação com janeiro, entre os 20 mil grupos de WhatsApp analisados.

Cabe uma divulgação maior, a questão da comunicação tem de melhorar; a gente vê muito menos notícias sobre a covid na imprensa, ao mesmo tempo que as informações falsas circulam. Vacinação é uma prioridade, a sociedade civil também precisa fazer sua parte.” – Flávia Bravo

UOL