Psiquiatra de Anderson Torres diz que ele não pode depor

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Foto: Marcos Corrêa/PR

A defesa de Anderson Torres pediu à Polícia Federal o adiamento do depoimento previsto para ocorrer na tarde desta segunda-feira. O ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro está preso há 100 dias no batalhão da Polícia Militar no Guará, região administrativa do Distrito Federal.

Os advogados alegam que o “estado emocional e cognitivo” de Torres sofreu uma “drástica piora”, após a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de mantê-lo preso, na semana passada. O agravamento do quadro depressivo levou ao aumento das doses diárias de medicamentos, segundo a defesa.

Na petição protocolada à Polícia Federal, os advogados de Torres apontam que uma psiquiatra da Secretaria de Saúde do DF atestou a impossibilidade de o ex-ministro da Justiça de “comparecer a qualquer audiência no momento por questões médicas durante uma semana”.

Em outra ocasião, os advogados de Torres já haviam anexado um laudo médico mostrando o quadro depressivo do ex-ministro, mencionando inclusive a perda de mais de 10kg e a “possibilidade de suicídio”.

A defesa alega que, tão logo ele esteja “recuperado”, “pretende cooperar para o esclarecimento dos fatos em apuração”.

O depoimento foi marcado para ocorrer às 14h desta segunda-feira, à tarde. Torres é aguardado para prestar esclarecimentos, na condição de testemunha, sobre o uso da Polícia Rodoviária Federal para atrapalhar a votação de eleitores de Lula no segundo turno, especialmente na região nordeste.

Conforme informou a coluna, a gota d’água na delicada situação do ex-ministro da Justiça foi o aprofundamento das investigações envolvendo o uso da máquina estatal para atrapalhar a votação de eleitores de Lula no segundo turno.

Uma viagem de Torres à Bahia entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2022 o colocou no foco de uma investigação sigilosa para apurar como foi montada a operação da Polícia Rodoviária Federal que bloqueou as estradas do Nordeste no dia do segundo turno.

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Torres foi preso após os atos golpistas de 8 de janeiro. Na época dos atentados, que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes, ele era secretário de segurança pública do Distrito Federal e estava em viagem com a família nos Estados Unidos.

O ex-titular da Justiça mudou a sua estratégia de defesa, com o objetivo de criar pontes com o Supremo para tentar convencer Moraes a rever a sua prisão, o que ainda não ocorreu.

O time atual de advogados é capitaneado por Eumar Novacki, mais afastado do clã Bolsonaro e ligado não só ao ex-presidente Michel Temer – que indicou Moraes para o Supremo e é seu amigo até hoje – como também ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Novacki foi ministro interino da Agricultura de Michel Temer, e é próximo do empresário Blairo Maggi, amigo do presidente Lula.

Outro ex-ministro de Temer que passou a ajudar Torres nos bastidores é o ex-chefe da Advocacia-Geral da União Fábio Medina Osório. Ele tem orientado a estratégia de defesa e visitou o ex-ministro da Justiça no batalhão da PM junto com Novacki no último dia 31 de março.

A equipe jurídica de Torres fez uma espécie de peregrinação no Supremo ao longo das últimas semanas, se reunindo com integrantes do STF para aparar as arestas com a Corte.

O retorno de Jair Bolsonaro ao Brasil antecipou o movimento de troca na defesa do ex-ministro, que era liderada até então pelo advogado Rodrigo Roca.

Próximo dos Bolsonaro, Roca defendeu o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das rachadinhas, implodido as investigações após decisões favoráveis no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo.

Mas logo caiu a ficha que não era uma boa estratégia manter na defesa um advogado tão próximo do ex-presidente da República.

Para aliados de Torres, um caminho para tirar o ex-ministro da Justiça da prisão é insistir nos supostos paralelos da situação do colega com a do governador do DF, que ficou afastado do cargo por 66 dias, reassumiu e não ameaçou a continuidade das investigações.

Só que o próprio Alexandre de Moraes, ao permitir que Ibaneis voltasse ao posto, deixou um duro recado para o governador, mostrando que a ameaça do afastamento do cargo ainda paira sobre ele, quando escreveu em seu despacho que “a medida cautelar poderá, de ofício ou a pedido das partes, voltar a ser decretada, se sobrevierem razões que a justifiquem.”

O Globo