PT pode encolher em SP se não tiver candidato

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: André Bueno / Rede Câmara SP

Líder do PT na Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Senival Moura afirmou, em entrevista ao GLOBO, que a provável ausência de candidatura própria à prefeitura paulistana no ano que vem pode reduzir pela metade a bancada do partido no legislativo municipal. O comando do partido firmou aliança com Guilherme Boulos (PSOL) no ano passado: ele desistiu de sua pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes e se elegeu deputado federal (foi o campeão de votos no estado) em troca do apoio do PT para a disputa municipal.

Na semana passada, no entanto, Moura e outros sete vereadores entregaram uma carta à presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendendo que Boulos se filie à legenda para disputar a prefeitura de São Paulo. A mudança, argumentam, evitaria um encolhimento do partido nas eleições municipais.

O PT tem hoje oito vereadores e, pelos cálculos do líder do partido, poderia ver sua bancada reduzida a quatro cadeiras. Mais: crê que, no PT, Boulos teria mais condições de ampliar seu arco de alianças. O vereador negou, porém, a possibilidade de o acordo ser quebrado. Os principais trechos da conversa seguem abaixo:

Por que a bancada defende a filiação de Boulos ao PT?

Desde a redemocratização, o PT sempre teve uma candidatura própria à prefeitura de São Paulo. O eleitor da periferia quer votar no 13. Ele se identifica com o partido. Sem uma candidatura própria, corremos o risco de reduzir até pela metade a bancada de vereadores, que hoje é a maior da Câmara Municipal. Por isso queremos uma candidatura própria. É preciso levar em consideração que, na última eleição, apesar de (Fernando) Haddad não ter sido eleito governador, ele, Lula e o PT foram os mais votados na cidade.

Qual seria o impacto para a bancada?

Hoje, o PT tem oito vereadores. Sem uma candidatura própria à prefeitura, corre o risco de eleger quatro ou cinco. Ou seja, reduziria pela metade. E esse risco a gente não quer correr.

Caso Boulos não se filie ao PT, a bancada defende que o acordo com o PSOL seja rompido?

A bancada não é radical, queremos contribuir. O acordo foi feito, vamos respeitar. Não existe a possibilidade de rompimento. O que fizemos (na semana passada) foi elaborar um “documento de construção”. Nós entendemos que o PT pode formar um arco de alianças maior do que o PSOL.

Por quê?

Por razões ideológicas e da atuação do PSOL. O PT, por ter sido governo da capital paulista três vezes, teria mais facilidade, pode dialogar, por exemplo, com partidos como PDT e o próprio PSB, mesmo com a pré-candidatura da deputada Tabata Amaral.

O que a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse sobre a proposta dos vereadores de filiar Boulos ao partido?

Ela entende a preocupação da bancada, porém deixou claro que o acordo foi feito e será respeitado. Entretanto, ela não descartou a possibilidade de abrir um diálogo com o Boulos sobre a filiação.

Caso Boulos seja mesmo candidato pelo PSOL, o que a direção do PT pode fazer para evitar o encolhimento da bancada?

Garantir à chapa estrutura necessária para fazermos uma boa campanha, o que inclui também repasse de recursos.

E quem seria o candidato do PT se o partido não cumprisse o acordo com Boulos? Há um nome competitivo?

Sim. Por exemplo, o do ministro da Economia (Fernando Haddad), que já foi prefeito da cidade.

Mas Haddad deixaria o ministério para disputar a prefeitura?

A militância pode fazer um apelo (para ele ser candidato).

A bancada de vereadores foi excluída da costura do acordo com Boulos. Isso gerou mal-estar?

Não. Temos que respeitar a opinião dos dirigentes.

Em 2020, o PT-SP insistiu na ideia de ter candidato próprio e sofreu o pior desempenho da história na cidade. Por que agora seria diferente?

A conjuntura é outra. Em 2020 houve a onda bolsonarista, a Lava-Jato ainda estava em alta. Hoje, o PT está na Presidência da República.

Como vê a candidatura do deputado e ex-ministro Ricardo Salles (PL) à prefeitura, no flanco bolsonarista?

Ele divide o campo da direita. Para nós, pode facilitar um pouco. E certamente prejudica o projeto de reeleição de Ricardo Nunes (MDB).

Qual o melhor candidato para Boulos enfrentar em um eventual segundo turno?

Obviamente que, se o prefeito vai disputar a reeleição, ele tem a máquina na mão. Isso dificulta um pouco.

O Globo