Realidade é pior que o 1o de abril

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Foto: Reprodução

Bons tempos aqueles em que mesmo os jornais e as revistas mais respeitáveis do mundo, não todos, é claro, divertiam-se e divertiam seus leitores com a publicação de notícias inventadas para marcar a passagem do 1º de abril, o dia universal da mentira.

Quanto mais inverossímeis elas fossem, mais sucesso faziam. Mas havia também espaço para a publicação de notícias falsas que parecessem verdadeiras. Diz-se que o costume nasceu na França, no século XVI, quando o Ano-Novo era festejado em 25 de março.

A data, que marcava a chegada da primavera, foi alterada pelo rei Carlos IX para 1º de janeiro. Parte dos franceses resistiu à mudança e passou a celebrar o Ano-Novo no dia 1º de abril, enviando convites para festas inexistentes. Virou uma brincadeira.

Lançado em 1º de abril de 1828, o jornal A Mentira, de Minas Gerais, estampou a notícia da morte do imperador dom Pedro, desmentida no dia seguinte. Em sua última edição, o jornal convocou seus credores para um acerto de contas no ano seguinte.

A revista britânica New Scientist publicou um artigo em 1º de abril de 1983 sobre dois cientistas alemães, Barry McDonald e William Wimpey, de Hamburgo, que haviam conseguido fundir, por meio de uma descarga elétrica, células de boi com células de tomate.

Aqui, na edição de 27 de abril, sob o título Boimate, a Veja noticiou o experimento levando-o a sério. Disse que “a experiência dos pesquisadores alemães permite sonhar com um tomate do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate”.

O jornal O Estado de São Paulo registrou o fato, o que obrigou a revista a admitir que errou, pedindo desculpas aos leitores. O desmentido ficou entalado na garganta da Veja à espera de que o Estadão errasse para dar o troco. Não demorou muito.

Um dia, o jornal deu com exclusividade a notícia de que o prédio do Ministério da Justiça, em Brasília, sofrera um atentado. Alguém disparou um projétil que atingiu a janela envidraçada do gabinete do então ministro Ibrahim Abi-Ackel. O país vivia sob ditadura.

Descobriu-se mais tarde que não fora um atentado. Um parafuso inocente, do sistema de irrigação do gramado do prédio, havia se soltado e foi bater na janela do gabinete do ministro. A Veja não perdoou. Contou a história sob o título de A porca assassina.

O Dia da Mentira passou a ser todo dia desde que a internet permitiu o surgimento das redes sociais, dando voz não apenas aos idiotas, como disse o filósofo italiano Umberto Eco, mas também aos criadores e disseminadores de fake news. Perdeu a graça.

Em tempo: o estojo com joias de Michelle, apreendido pela Receita, com a Receita continua. Por ora, a Polícia Federal não pensa em de dar uma batida na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, o guardião dos presentes que o casal Bolsonaro recebeu.

A Justiça acelera o passo para tornar Bolsonaro inelegível. Sergio Moro, no passado líder inconteste do combate à corrupção, sua a camisa para que sua reputação não vá pelo ralo. O general Hamilton Mourão, antigo golpista de carteirinha, hoje é senador.

E tudo isso é verdade, não é 1º de abril.

Metrópoles