TCU quer que militares devolvam verba gasta em viagra

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Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que as Forças Armadas gastaram recursos do combate à covid-19 na compra de picanha e filé mignon. Isso ocorre logo após o tribunal exigir a devolução de R$ 27,8 mil aos cofres públicos devido ao superfaturamento da compra de Viagra por militares. O que reforça que ser militar sob as asas de Jair Bolsonaro foi uma grande moleza. Claro que a picanha tem mais apelo popular. Foi o produto que, junto com a cerveja, estiveram onipresentes na campanha do candidato Lula. Os militares que criticaram as promessas feitas pelo petista, de devolver os produtos à mesa dos brasileiros, como fez o general Augusto Heleno, em postagem de outubro, provavelmente queriam o corte nobre só para eles.

Mas a questão do Viagra é mais sacanagem. O valor médio no painel de preços do governo para o produto no período era de R$ 1,81. O Hospital Central do Exército registrava preço de R$ 1,50. Mas 15.120 comprimidos de 25 mg foram comprados a R$ 3,25 cada. Talvez se adolescentes pobres de escolas públicas e mulheres em situação de rua usassem farda, Bolsonaro não teria vetado, em 2021, o projeto para garantir distribuição gratuita de absorventes a elas justificando falta de recursos.

O país de Jair tem suas prioridades. O então deputado Elias Vaz (PSB-GO), que se especializou em cobrar informações do governo federal quanto aos gastos públicos, e o senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) acionaram o TCU e o MPF para saber por que o governo resolveu dar essa mãozinha a seus membros militares. Isso levou à decisão do tribunal. Esse não foi o único escândalo com direito à duplo sentido de cunho sexual no qual as Forças Armadas se envolveram durante o governo Bolsonaro. Também ergue-se a denúncia de o Exército adquiriu R$ 3,5 milhões em próteses penianas de 10 a 25 centímetros com recursos públicos. Forças Armadas são importantes para qualquer país, desde que saibam quem devem proteger. A sua potência está na capacidade de respeitar a Constituição Federal, não de obter benefícios em troca de ser usada para atender às necessidades de um governo de plantão.

Nos seus quatro anos de governo, Jair Bolsonaro conseguiu cooptar parte dos militares com cargos, vantagens na Reforma da Previdência, licitações de produtos de luxo para o oficialato, picanha, próteses penianas. Cobrou, em troca, sujeição para degradar as eleições e democracia e cumplicidade enquanto garantia o vale-tudo ambiental na Amazônia. Com o capitão, a imagem transmitida passou a ser uma cena do diretor de cinema Pier Paolo Pasolini, com um comboio de veículos blindados, tossindo fumaça preta na Esplanada dos Ministérios, enquanto seus membros se beneficiam de Viagra e próteses penianas, camarão e filé mignon, pensões especiais para filhas não casadas e acesso a hospitais especiais. Ou uma do diretor David Cronemberg, com coronéis articulando bizarras reuniões em que se negocia com reverendos, servidores públicos e indicados de políticos, sobrepreço e propinas para a compra de doses de vacina contra a covid-19 enquanto pessoas morrem por falta de imunizante.

Personagens não faltam uma vez que a CPI da Covid citou um rosário de coronéis, como Élcio Franco, Marcelo Blanco, Helcio Bruno. Tanto que o presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou, no dia 7 de julho de 2021, que “membros do lado podre das Forças Armadas estão envolvidos com falcatrua dentro do governo” e que os honestos devem estar muito envergonhados. Mas o ministro da Defesa e a cúpula das Forças Armadas subiram nas tamancas, ameaçando o Senado Federal com uma nota pública. Teriam gasto melhor o seu tempo depurando suas próprias fileiras. Pois há militares que, com sua ação e inação, foram cúmplices da montanha de mais de 700 mil mortes por covid fomentada por Bolsonaro, como o general Eduardo Pazuello – eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro.

Aliás, o Exército não só fez a egípcia ao absolver Pazuello, que ignorou as regras da corporação ao participar de uma micareta eleitoral com o presidente no Rio de Janeiro, como deu, dessa forma, um mau exemplo para o seu contingente. Insubordinação não punida se reproduz – o que vimos com a tolerância e o apoio dado aos golpistas na frente dos quartéis ou durante os atos golpistas de 8 de janeiro. Bolsonaro foi devorando as instituições, dobrando-as em nome de seu projeto de poder. Agora, os chefes das Forças Armadas, como o comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, têm um trabalho hercúleo para fazer, acabando com a relação promíscua que se estabeleceu entre as tropas e a política. O que está em jogo não é o tamanho da devolução, um terço do que Jair deverá pornograficamente receber direta ou indiretamente dos cofres públicos em salário e aposentadorias a partir deste mês. Mas o princípio do que as pessoas não podem fazer na vida pública o que fazem na privada.

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