Torres mandou PF e PRF barrarem eleitores de vermelho
Foto: Isaac Amorim/MJSP
A Polícia Federal investiga uma viagem do então ministro da Justiça, Anderson Torres, à Bahia às vésperas do segundo turno das eleições. Na justificativa oficial, ele alegou que foi até o estado discutir reforços nas equipes policiais para combater crimes eleitorais. Mas as suspeitas, de acordo com fontes ouvidas pelo Correio, são de que Torres tentou persuadir a superintendência da corporação na Bahia para atuar junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF) no sentido de impedir a chegada de eleitores às urnas em 30 de outubro.
De acordo com as investigações, o então titular da Justiça solicitou a ampliação de operações visando a fiscalização do transporte coletivo de eleitores. Na PF, o pedido dele teria sido ignorado, algo que não ocorreu na PRF. Denúncias de eleitores, publicadas nas redes sociais em 30 de outubro, revelam dezenas de operações que causaram bloqueios e lentidão no trânsito nos estados do Nordeste.
Algumas publicações dizem que os ônibus que levavam pessoas vestidas com roupas vermelhas, cor do PT, eram os alvos principais de abordagens. As ações também teria sido executadas pela Polícia Militar em algumas regiões e combinada em grupos na internet, recomendando que eleitores bolsonaristas fossem votar até o meio-dia, pois as operações se intensificariam no período da tarde, com a intenção de atrasar cidadãos e impedir que votassem. O objetivo seria beneficiar o então presidente Jair Bolsonaro, que buscava a reeleição na disputa com o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia da votação, as barreiras causaram alvoroço, e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, teve de determinar que as operações contra veículos do transporte coletivo ou que bloqueassem estradas fossem interrompidas. O então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, foi chamado à Corte eleitoral, no mesmo dia, para se explicar. Após o resultado das urnas — em que Luiz Inácio Lula da Silva venceu com dois milhões de votos a mais —, Moraes afirmou que nenhum eleitor foi impedido de votar e que as operações foram interrompidas antes do fechamento dos portões dos colégios eleitorais. O magistrado também destacou que não foi identificado maior número de abstenções, frente aos resultados do primeiro turno.
A Bahia é um estado decisivo para o resultado das eleições, assim como São Paulo e Minas Gerais. Na região, Lula teve um elevado percentual de votos na última eleição. O petista foi escolhido por 72,12% dos eleitores locais no segundo turno, resultado que confirmou a tendência apontada pelas pesquisas eleitorais divulgadas semanas antes do dia do pleito.
Bolsonaro foi o preferido dos baianos em apenas duas cidades: Luís Eduardo Magalhães e Buerarema. O desempenho de Lula no estado ficou atrás apenas do rendimento que ele teve no Piauí, onde conquistou 76% dos votos. Segundo dados da Justiça Eleitoral, a Bahia registrou 8,4 milhões de votos válidos.
Durante a investigação, a Polícia Federal também descobriu a existência de um documento de inteligência, produzido pela equipe de Torres, com mapa dos locais onde Lula venceu o primeiro turno das eleições.
Em nota, a defesa do ex-ministro disse que assumiu o caso há pouco tempo e ainda não tem informações para se manifestar a respeito do assunto.
Por ordem de Moraes, Torres está preso preventivamente desde 14 de janeiro no 4º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal. É acusado de envolvimento com os atentados de 8 de janeiro em Brasília, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas por extremistas bolsonaristas. Na ocasião, o ex-ministro estava em viagem aos Estados Unidos. Além disso, em diligência na casa dele, agentes da PF encontraram uma minuta de decreto para instaurar estado de defesa no TSE. A intenção do documento era reverter o resultado da eleição que definiu Luiz Inácio Lula da Silva como presidente da República. Torres nega as acusações e sustenta que não articulou uma tentativa de golpe.