Bolsonaro interfere na eleição do Rio

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Jair Bolsonaro entrou em cena no seu reduto político, o Rio, e movimentou o debate em torno da eleição carioca do ano que vem. Depois de uma ida do ex-presidente à cidade ter dado sinais de que o senador Flávio Bolsonaro poderia ser o candidato do PL à Prefeitura, o chefe do clã logo agiu para minar o movimento do filho. Na quinta-feira (18), em Brasília, pediu ao “zero um” para não entrar na corrida, que terá o prefeito Eduardo Paes (PSD) como candidato à reeleição. O trauma de 2016, quando Flávio foi postulante ao cargo sem o aval do pai, fez o senador só topar disputar no ano que vem com o beneplácito paterno – que, de novo, não lhe foi dado.

Interlocutores do ex-presidente afirmam que vários fatores pesam para ele não querer o filho na eleição. Uma derrota representaria, afinal, o revés “de um Bolsonaro”, ao contrário de maus desempenhos de outros políticos ligados à família. Seria um baque grande para a mobilização do bolsonarismo rumo a 2026, calculam. “Ele não quer se colocar à prova, até porque já foi bem no Rio na eleição do ano passado”, explica um aliado. Existe ainda o fato de Flávio ter contra si o histórico da investigação das “rachadinhas”, que voltaria a desgastar a família durante o processo eleitoral. Antes de fazer o pedido ao filho, Bolsonaro conversou com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que vinha alimentando o desejo do senador.

O veto reabre a discussão no PL do Rio, principal fortaleza do partido no país – a sigla tem o governador, Cláudio Castro, os três senadores que representam o Estado e superlativas bancadas de deputados federais e estaduais. Dado o capital político acumulado em 2022, a legenda não vê sentido em dispensar a colocação de um nome próprio em 2024.

Apesar dessa força, Castro, por sua vez, vem defendendo para a capital fluminense a candidatura do secretário estadual de Saúde, Dr. Luizinho, que é do PP.

“Agora é conversar. Muito. O que foi acordado é que tudo será decidido democraticamente na executiva estadual. É normal [haver disputa]. Quem olha pela visão do partido quer sempre o fortalecimento do partido; quem está no governo tem uma perspectiva mais ampla”, afirmou Castro ao Valor.

O PL tem outros nomes que serão trabalhados daqui em diante. Os principais, que têm se movimentado de olho na disputa, são o senador Carlos Portinho, mais moderado, e o deputado federal Eduardo Pazuello, general que ficou marcado pela condução turbulenta do Ministério da Saúde durante a pandemia. Alguns setores ventilam ainda o também senador Romário, detentor de um capital político próprio por causa da fama conquistada no futebol.

“Flávio seria o candidato dos sonhos, unificaria o partido. Mas, caso realmente não coloque o nome à disposição, o PL tem diversos quadros. É natural termos candidato próprio, até porque a executiva nacional determinou isso para as capitais”, afirma o dirigente Bruno Bonetti, da executiva estadual, ligado ao presidente, o deputado Altineu Côrtes.

No dia 12, Bolsonaro esteve no Rio e se reuniu com a cúpula do partido e deputados estaduais. Marcado em cima da hora, o encontro não teve a presença do governador ou de representantes da ala da sigla mais ligada a Castro. Aos correligionários, o ex-presidente disse que o PL deve lançar candidatos próprios nos municípios em que tem nomes fortes.

Antes do pedido de Bolsonaro para o filho não concorrer, Castro havia sinalizado a aliados e ao próprio Flávio que seguiria leal ao bolsonarismo e embarcaria no projeto, caso a candidatura fosse para frente. No PL, causou incômodo a sugestão – a mais de um ano da eleição – de lançar um nome de fora do partido. Há a leitura de que, apesar de nunca ter rompido com Bolsonaro, o governador teria feito “corpo mole” durante a campanha de 2022 e estaria com mais acenos do que o necessário ao governo Lula. Os movimentos dele, segundo um integrante do PL, “sempre foram de se afastar”. Paralelamente, Eduardo Paes cultiva o desejo de atrair Castro para sua candidatura.

Do lado do governador, existe hoje a constatação de que uma candidatura de alguém mais moderado e desconhecido, como Luizinho, não se sustenta sem o apoio do clã Bolsonaro, avaliação semelhante à do PL.

Outro motivo para o mandatário aceitar a empreitada de Flávio passaria pela eleição de 2026. O governador não esconde de ninguém que quer disputar o Senado, e Flávio é um dos dois senadores fluminenses que vão estar na reta final do mandato. Uma eventual vitória do filho de Bolsonaro na eleição para a prefeitura, portanto, abriria caminhos para Castro chegar a Brasília.

Carlos Portinho, um dos que se colocam como opção do bolsonarismo nessa disputa interna, também é senador com mandato a ser encerrado em 2026. Com relação menos umbilical com o bolsonarismo, o parlamentar tem conversado com partidos menores para tentar conceber, desde já, um esqueleto do que viria a ser sua aliança, caso consiga se cacifar dentro do PL.

Valor Econômico