Bolsonaro “não sabe” por que falsificaram sua vacinação

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Foto: EVARISTO SA / AFP

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que prestou depoimento nesta terça no inquérito que apura supostas fraudes em cartões de vacinação, buscou se desvincular do esquema, mas deixou de esclarecer à Polícia Federal como foi possível que dois de seus auxiliares diretos tenham acessado sua conta no aplicativo ConecteSUS, em dias próximos, e gerado seu certificado de vacinação com dados falsos.

Segundo a investigação, registros falsos de duas doses da vacina da Pfizer foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde em nome de Bolsonaro no dia 21 de dezembro de 2022. No dia 22, foi gerado um certificado de imunização pelo aplicativo ConecteSUS contendo os dados falsos.

O acesso ao perfil de Bolsonaro na ferramenta era feito até ali pelo e-mail de seu ajudante de ordens, Mauro Cid, que está preso. Minutos depois dessa primeira emissão do certificado, o e-mail de login no aplicativo foi alterado para o de outro assessor presidencial, o coronel Marcelo Costa Câmara.

No dia 27 de dezembro, mais uma vez foi gerado o certificado de vacinação de Bolsonaro, novamente contendo os dados falsos. Àquela altura, a conta do então presidente no ConecteSUS já estava sob a administração do coronel Câmara.

A troca do e-mail de acesso é um dos principais indícios, segundo a PF, de que Cid não agiu sozinho no esquema, como noticiou O GLOBO. Além dessa evidência, o login no aplicativo e a alteração cadastral foram feitos por meio de uma conexão de rede dentro do Palácio do Planalto — outro indício, de acordo com a investigação, de que Bolsonaro sabia do que estava ocorrendo.

“Indagado sobre o motivo de ter emitido o certificado de vacinação contendo dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no aplicativo ConecteSUS, (Bolsonaro) respondeu que da mesma forma (que a emissão do dia 22) desconhece a emissão do referido certificado em 27/12/2022; que esclarece que, possivelmente, estava cumprindo expediente no Palácio da Alvorada no horário em que foi gerado o certificado de vacinação”, disse o presidente, conforme a transcrição do depoimento.

“Indagado se solicitou a Mauro Cesar Cid que acessasse o aplicativo ConecteSUS e emitisse o certificado com dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em nome do declarante, respondeu que não. Indagado se solicitou a Marcelo Câmara, seu assessor, que acessasse o aplicativo ConecteSUS e emitisse o certificado com dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em nome do declarante, respondeu que não”, registrou a PF.

As emissões do certificado de imunização com dados falsos foram feitas às vésperas de Bolsonaro e sua comitiva viajarem para a Flórida, nos Estados Unidos, onde o ex-presidente ficou até março deste ano.

A suspeita da PF é que a troca de e-mail de acesso ao aplicativo se deu porque Cid estava prestes a deixar a função de ajudante de ordens de Bolsonaro. A partir de 1º de janeiro deste ano, o ex-presidente passaria a ser assessorado por oito auxiliares, sendo um deles o coronel Câmara, homem de confiança do ex-mandatário que viajaria e passaria um tempo com ele na Flórida.

Após a oitiva de ontem, o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, que tem assessorado Bolsonaro, afirmou nas redes sociais que o ex-presidente “reiterou que jamais se vacinou, que desconhecia toda e qualquer iniciativa para eventual falsificação, inserção, adulteração no seu cartão de vacinação” e que “continua à disposição da justiça, como sempre esteve”.

O Globo