Bolsonaro ocultou tragédia yanomami por eleição

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Foto: Urihi Yanomami

É desconcertante a informação revelada por Igor Mello, nesta sexta (12), no UOL, de que o governo Jair Bolsonaro foi avisado sobre a gravidade da situação gerada pelo garimpo criminoso na Terra Indígena Yanomami, mas decidiu não interferir. O saldo disso, revelado já no início do governo Lula, foi violência, fome e morte. A Funai produziu um relatório detalhado e pediu providências urgentes, mas a equipe do então ministro da Justiça Anderson Torres (sim, o mesmo que passou os últimos 117 dias preso em meio à investigação sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro) engavetou o documento.

Era agosto de 2022, início da campanha de Bolsonaro à reeleição. Não era hora, portanto, de permitir que o mundo visse imagens de crianças esquálidas e de aldeias repletas de doentes, muito menos de melindrar a base eleitoral do mito, composta inclusive por invasores de terras indígenas. O governo sabia onde estava o garimpo ilegal devido ao mapeamento da Funai, poderia, portanto, ter enviado as Forças Armadas, a Polícia Federal, a Força Nacional, a Swat, os Vingadores, qualquer um, para fazer a mesma coisa que o novo governo vem fazendo nos últimos meses. Preferiu deixar o pau comer. Vale lembrar que a direção da Funai era alinhada ideologicamente a Bolsonaro. Mesmo assim, o responsável pelo órgão, Marcelo Xavier, pediu a operação, mostrando que a situação era limite. Garimpeiros ilegais levaram malária, contaminação por mercúrio e violência ao maior território indígena do país, localizado em Roraima. Durante seu mandato, Jair apoiou a exploração econômica de terras indígenas, desmobilizando as estruturas de fiscalização. Ao mesmo tempo, o seu governo não garantiu atendimento à saúde, vacinação e oferta de medicamentos e de alimentos. O resultado foi uma crise humanitária sem precedentes. Dados divulgados pelo portal Sumaúma apontam que 570 crianças Yanomami de até cinco anos morreram por doenças que poderiam ter sido tratadas na gestão passada. No mesmo mês de agosto, o então vice-presidente da República e presidente do Conselho da Amazônia e hoje senador, general Hamilton Mourão, alertou que garimpeiros continuavam invadindo o território e que havia necessidade de uma grande operação no local, como revelou a Agência Pública. Nada foi feito. Mourão disse ao UOL que faltou dinheiro. A justificativa é uma afronta à inteligência dos brasileiros, uma vez que o governo do qual ele fez parte gastou bilhões para aumentar o Auxílio Brasil durante a eleição, em uma tentativa descarada de compra de voto dos mais pobres, e para reduzir impostos federais sobre os combustíveis ? a fim de atrair a simpatia da classe média. O governo Bolsonaro se virou nos 30 para salvar votos, mas não mexeu um músculo para salvar vidas de indígenas. Provavelmente, a avaliação era de que criança não vota e, portanto, não era um gasto válido. A Policia Federal abriu investigação para avaliar se houve o crime de genocídio, omissão de socorro e desvios de recursos. De acordo com pesquisa Genial/Quaest, de fevereiro deste ano, para 44% da população, a morte e a desnutrição dos Yanomami era culpa do governo Jair Bolsonaro. Outros 45% afirmaram que não era possível apontar a gestão do ex-presidente como a responsável pela tragédia. Como a margem de erro é de 2,2 pontos para mais e para menos, havia um empate técnico entre as opiniões. Apesar de ter sido um dos principais assuntos nas redes sociais e veículos de comunicação naquele momento, 37% dos entrevistados afirmaram que ficaram sabendo da tragédia yanomami pelo entrevistador da pesquisa, enquanto 62% disseram estar por dentro do que estava acontecendo. O relatório da Funai talvez ajude a mostrar a uma parte dos que eximiam Jair a sua responsabilidade no episódio. O governo passado ainda negou sistematicamente comida aos indígenas que estavam morrendo de fome, como mostram documentos revelados por Carlos Madeiro, no UOL, em fevereiro. Foram enviados, entre junho de 2021 e março de 2022, aos Ministérios da Justiça e da Cidadania, pedidos de comida e alertas para a fome dos Yanomami. Não tiveram resposta adequada. Isso reforça a comunicação por tentativa de genocídio indígena contra Jair Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional, em Haia, instituição responsável pelo julgamento de criminosos de guerra. A procuradoria do Tribunal Penal Internacional avalia se o denuncia à corte. Toda essa história aponta que a reeleição de Bolsonaro teria colocado os Yanomami na rota da extinção. Pois uma coisa é a omissão por incompetência, outra a omissão como projeto.

Uol