Confira as explicações malucas dos bolsonaristas
Foto: EVARISTO SA / AFP
Diante de denúncias de supostas irregularidades envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos meses, como o recebimento de joias sauditas milionárias e fraudes envolvendo caderneta de vacinação, aliados têm vindo a público com frequência para defender o ex-mandatário das acusações. No entanto, algumas das explicações oferecidas acabam ganhando um ar inusitado.
Do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, as justificativas usadas por figuras próximas ao ex-presidente têm o objetivo de blindar o antigo chefe do Executivo ou de minimizar seu grau de participação nos fatos apurados. É na tentativa de “apagar incêndios”, porém, que surgem os argumentos pouco usuais, sobretudo nas últimas semanas. Relembre, abaixo, algumas dessas situações.
No caso mais recente, Valdemar Costa Neto afirmou que o direcionamento de levar as joias sauditas apreendidas pela Receita Federal para o acervo pessoal de Bolsonaro pode não ter partido do ex-presidente, mas sim ter sido uma “surpresa” organizada pelo “pessoal dele”.
— Pode ser (que alguém estava interessado), mas pode ser que não tenha partido do Bolsonaro. “Vamos fazer uma surpresa aqui para o Bolsonaro, entregar essas joias, entregar para o governo, fazer alguma coisa. Porque nós não podemos deixar lá porque outro governo vai entrar e dizer que nós erramos “— afirmou o dirigente, em entrevista à GloboNews nesta terça-feira.
‘Fico com medo de xeretarem a minha vida’
Ainda em entrevista à GloboNews, Valdemar contornou questionamentos sobre uso de dinheiro vivo pela ex-primeira -dama, revelado pelo UOL e confirmado pelo GLOBO, justamente durante o governo responsável pelo lançamento do Pix, modalidade de transferências instantâneas do Banco Central que passou a funcionar em 2020.
O dirigente partidário minimizou o uso de dinheiro em espécie, afirmando que ele mesmo prefere o uso físico para pagar seus funcionários.
— É mais fácil. Eu saco dinheiro da minha conta e dou para minha mulher. Eu fico com medo de ficarem fiscalizando e xeretando a minha vida — diz.
Depois de a Polícia Federal identificar que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro usava o cartão de crédito da amiga Rosimary Cardoso Cordeiro, a defesa do ex-presidente afirmou que era feito dessa forma porque Bolsonaro era “muito pão duro”. Segundo os advogados, a justificativa teria partido da própria Michelle.
O uso do cartão foi revelado pela PF no curso das investigações sobre suposta participação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no pagamento de contas do clã presidencial em dinheiro vivo. Pela investigação, o esquema passava pelo cartão de Rosimary, com quem Michelle trabalhou enquanto ocupava cargo de assessora na Câmara dos Deputados.
À época, Rosimary afirmou ao GLOBO que se tratou de “apenas um favor pessoal” feito para uma “amizade verdadeira desprovida de interesse” e que o assunto “faz parte do passado”.
Em outra investigação, que apura a disseminação de fake news por Bolsonaro sobre o processo eleitoral, a defesa do ex-presidente alegou que ele estava sob o efeito de morfina quando fez uma publicação nas redes sociais questionando a lisura das urnas eletrônicas. À época, a postagem ficou no ar por cera de duas horas até ser apagada.
Segundo a defesa, o vídeo foi publicado enquanto ele estava internado nos Estados Unidos com obstrução intestinal, entre os dias 9 e 10 de janeiro. Para dar força ao argumento, os advogados do ex-mandatário apresentaram um prontuário que apontava o uso da medicação e um vídeo que ilustrava como ele teria cometido o erro de publicar o vídeo, ao invés de encaminhá-lo.
Quando compareceu à sede da PF para prestar depoimento sobre o caso, no final de abril, Bolsonaro destacou que a postagem foi feita por engano e que, na verdade, a intenção era enviar o vídeo para si mesmo.
Depois que foi revelado que um terceiro lote das joias sauditas estava armazenado em uma fazenda do ex-piloto bolsonarista Nelson Piquet, o assessor especial do presidente, Fábio Wajngarten, explicou que isso ocorre porque Bolsonaro “não tinha nem casa” nem “havia decidido nem a casa onde iria morar”. Segundo Wajngarten afirmou no final de abril, quando o caso veio à tona, o acervo ficaria na fazenda temporariamente.
— O acervo do presidente se encontra armazenado temporariamente na fazenda do Nelson Piquet. No fim do mandato, com muitas coisas a serem resolvidas, o presidente não tinha nem casa, não havia decidido nem a casa onde iria morar. E havia 195 metros cúbicos de itens — explicou o assessor. — Logo será remetido para outro lugar, tão seguro quanto, com armazenamento e temperatura adequados e logística propícia.
Logo após ser noticiado o suposto esquema para trazer ilegalmente para o Brasil o primeiro conjunto de joias sauditas, avaliado à época em R$ 16,5 milhões, que seriam para a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro minimizou o caso nas redes sociais. Em um stories no Instagram, ela negou inicialmente que tenha recebido o conjunto de peças e disse estar rindo do episódio:
— Quer dizer que eu ‘tenho tudo isso’ e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo, hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa imprensa vexatória.
A ironia, porém, não impediu que as acusações ganhassem volume e gerassem investigação da Polícia Federal.