Deputado bolsonarista exalta nazismo na Câmara
Foto: Edilson Dantas / O Globo
A decisão do PSOL de fechar voto contrário a urgência do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira, azedou a relação entre o partido e o PT e pode colocar em risco os planos de uma parceria com Guilherme Boulos (PSOL-SP) para as eleições de 2024.
A federação que une PSOL e Rede apresentou 12 votos contrários e nenhum favorável à tramitação acelerada do novo regime fiscal, proposta legislativa mais importante do governo Lula até aqui. Lideranças do PT afirmam que o impacto sobre o acordo para apoiarem Boulos à prefeitura de São Paulo pode ser definitivo se a legenda insistir no voto contra o arcabouço fiscal também no mérito.
O presidente estadual do PT em São Paulo, Kiko Celeguim, lembrou que Boulos vinha se apresentando com um político conciliador e que poderia atrair votos de centro.
— A atuação no Congresso não está diretamente atrelada a acordos eleitorais, mas acho que, se o Boulos votar contra a proposta do regime fiscal sustentável, ele perde uma oportunidade de se apresentar como uma liderança que dialoga ao centro. Quem participa do governo tem todo direito de discordar e discutir as matérias enviadas, mas na hora do voto acho desnecessário fechar questão. Podiam pelo menos liberar os deputados para votar como acham melhor — disse Kiko.
Guilherme Boulos vem crescendo entre o eleitorado paulistano e se apresenta hoje como nome mais popular da esquerda para a disputa municipal.
Nas últimas duas corridas eleitorais para o comando da capital paulista, o PT se enfraqueceu. Em 2016, o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad, terminou a disputa com 16% dos votos e perdeu no primeiro turno para o ex-tucano João Doria.
Já em 2020, o candidato do PT era Jilmar Tatto, que acabou em sexto lugar, com 8,65% dos votos. Boulos foi ao segundo turno com o então prefeito Bruno Covas.
Caso Boulos se concretize como candidato à prefeitura de São Paulo em 2024, deve disputar o posto com o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB-SP).
Diante do mal-estar em Brasília, um petista ainda lembrou que na mesma semana em que o atual prefeito da capital paulista fez um gesto de apoio à reforma tributária, Boulos votou contra a urgência do principal projeto do governo até agora.
O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, minimizou os impactos políticos da votação na Câmara dos Deputados para o cenário paulistano.
— Não acredito que uma votação seja suficiente para comprometer eventuais alianças em 2024. Ninguém vai votar sempre junto, isso faz parte da dinâmica do Parlamento. A bancada do PSOL gostaria de ter mais tempo para discutir propostas ao texto. As mudanças feitas pelo relator pioraram a proposta do governo, por isso votamos contra a urgência, porque queríamos ter a oportunidade de apontar aquilo que nos parecia problemático — afirmou.
Apesar de ter irritado petistas, o posicionamento do PSOL não surpreendeu integrantes da equipe econômica que, sob reserva, afirmam que a legenda “não tem vocação para governar nem conciliar”.
O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) pontua que se manifestar contra a urgência não muda o alinhamento do partido ao presidente Lula:
— Nunca estabelecemos essa relação de subordinação acrítica. Nem vinculamos nossos mandatos de legisladores a cargos ou liberação de emendas. O governo levou 3 meses e meio para elaborar o “arcabouço”, porque a Câmara tem que decidir com essa urgência um projeto que o relator deu a conhecer há dois dias? Apresentamos emendas que estão rigorosamente afinadas com o programa de Lula. Ao apoiá-lo em maio de 2022, apresentamos um programa de 12 pontos que inspiram essas emendas e nos fazem questionar esse “ajuste”, esse novo teto de gastos.