Desempenho de governadores não influiu na eleição

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Foto: Reprodução

Embora ter um elenco numeroso de obras seja visto como ativo relevante na disputa política, o ranking que mostra os investimentos feitos pelos Estados em 2022 ordenado pelo critério per capita sugere que gastar mais ou desembolsar menos não foi fator central para a definição de sucessos ou fracassos eleitorais.

No ano passado, governadores de Estados que lideraram o ranking de investimento foram reeleitos ou conseguiram eleger sucessor do próprio grupo político. Quem gastou pouco, porém, também se deu bem nas urnas.

Os extremos da lista, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, servem para ilustrar essas duas constatações.

O Mato Grosso do Sul ostenta a posição de campeão em investimentos em 2022 pelo critério do gasto per capita, conforme uma lista elaborada pela Secretaria Executiva de Gestão Estratégica e Municipalismo do Estado. As informações foram extraídas do Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) de cada Unidade da Federação (confira no gráfico ao lado).

Com desembolsos que somam R$ 3,3 bilhões, dinheiro gasto majoritariamente com construção, pavimentação e manutenção de rodovias, o Estado investiu o equivalente a R$ 1.177,30 por habitante em 2022. Nas urnas, o então candidato Eduardo Riedel (PSDB), apoiado pelo então governador, Reinaldo Azambuja (PSDB), foi o vencedor.

Herdeiro de severos problemas fiscais, o Rio Grande do Sul, comandado pelo também tucano Eduardo Leite, foi o Estado que menos investiu em 2022, segundo o mesmo critério: média de R$ 212,73 por habitante, menos de um quinto do líder.

Houve reeleição mesmo em Estados com investimento medíocre”
— Andrei Roman
Eduardo Leite renunciou ao cargo para tentar disputar a Presidência da República, voltou à arena estadual após fracassar no projeto nacional e, mesmo com a menor taxa de investimento do Brasil, conseguiu vencer.

Outros exemplos de governadores reeleitos apesar das taxas modestas de investimento são Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte; Ronaldo Caiado (União Brasil), em Goiás; Ratinho Júnior (PSD), no Paraná; João Azevêdo (PSB), na Paraíba; e Cláudio Castro (PL), no Rio de Janeiro. Todos com patamares de investimento abaixo de R$ 320,00 por habitante em 2022.

“A capacidade de investimento facilita mais ou menos a posição do incumbente, evidentemente. Não é desprezível. Mas o que pesa mais não é a comparação entre entes, mas é a condição do Estado em relação a ele mesmo no passado”, diz o cientista político Juliano Corbellini, consultor em marketing eleitoral.

“Além disso, tivemos uma eleição marcada pelo período atípico da pandemia, que combinou com uma grave crise econômica. Então a percepção das pessoas foi mais influenciada por esses aspectos”, completa Corbellini.

Das 27 eleições para governador no ano passado, 24 foram vencidas por candidatos à reeleição ou pretendentes do mesmo grupo político do governador em fim de mandato.

As exceções foram Pernambuco, com a eleição de Raquel Lyra (PSDB), que desbancou o domínio do PSB local; Santa Catarina, com o triunfo de Jorginho Mello (PL) para suceder Carlos Moisés (Republicanos); e São Paulo, com a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) após décadas de hegemonia do PSDB no Estado.

Diretor da consultoria e empresa de pesquisa AtlasIntel, Andrei Roman avalia que o ambiente de exacerbada polarização, intensificado pela disputa nacional entre ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o agora novamente presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez diminuir a relevância de métricas de gestão nas disputas estaduais.

“É mesmo curioso notar que houve reeleição mesmo em Estados com investimento medíocre”, afirma. “A marca forte das disputas para governador foi a tendência de continuidade. E o que explica isso é o contexto de polarização, ambiente em que todos reforçam e repetem suas próprias posições.”

O superintendente de Orçamento do Mato Grosso do Sul, Ricardo Velloso, atribui a primeira colocação do Estado no ranking à necessidade de o setor público correr para fazer o acompanhamento de uma robusta onda de investimentos produtivos na região.

Entre os projetos privados bilionários já anunciados, iniciativas que induzem o Estado a expandir e melhorar a malha rodoviária, estão enormes plantas para produção de celulose em Ribas do Rio Pardo, da Suzano, e Inocência, da Arauco.

No rol de megaprojetos no Estado há ainda a construção da chamada Rota Bioceânica, corredor que irá interligar os litorais do Oceano Atlântico e aos do Pacífico, um projeto de cabeamento com fibra ótica com cobertura em todo o Estado e ainda a possível retomada das obras de uma fábrica de fertilizantes da Petrobras no município de Três Lagoas.

Valor Econômico