Dino faz bolsonarismo se arrepender de convocá-lo

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Foto: Reprodução/TV Senado

Dono do maior engajamento nas redes entre todos os ministros de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Flávio Dino, titular da Justiça, ganhou protagonismo desde os primeiros momentos do novo governo, com os ataques golpistas de 8 de janeiro, pauta que rendeu convites de opositores para participar de audiências em comissões do Congresso Nacional. Os embates diretos contra adversários, porém, em especial quando têm como alvo bolsonaristas, vêm viralizando com frequência nas plataformas digitais, onde o estilo bem-humorado e repleto de pérolas do ministro costumar atingir um amplo alcance.

No terceiro mandato de Lula, comparando as contas oficiais de todos os ministros em exercício no Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e TikTok, Flávio Dino é o com maior capacidade de pautar o debate digital. A conclusão é de um levantamento da empresa de análise de redes Bites feito a pedido do GLOBO. As redes do ministro da Justiça e Segurança Pública têm participação que á mais de duas vezes superior à do segundo colocado — Paulo Pimenta, titular da Secom — em pontos percentuais. Na sequência aparecem os ministros Simone Tebet (Planejamento), Camilo Santana (Educação) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas).

Dino concentra 20,7% do total de tração dos ministros, métrica que mede a capacidade de um ator movimentar as redes sociais em comparação com outros. O método avalia interações orgânicas e atribui pesos a elas e às redes em uso para analisar o desempenho de um determinado grupo. Pimenta concentra 8,69%, e Tebet, 8%.

Desde 1º de janeiro, o ministro da Justiça também é o responsável pelo maior volume de interações. Foram 10,7 milhões em 1,4 mil publicações. Novamente, o volume é mais que o dobro do segundo colocado, Paulo Pimenta, que somou 5 milhões de interações em 4,4 mil mensagens publicadas.

Flávio Dino figurou mais uma vez entre os termos mais comentados do Twitter nesta terça-feira após embate com parlamentares na Comissão de Segurança Pública do Senado. Durante a sessão, o senador Marcos do Val (Podemos–ES) chegou a dizer que irá pedir o afastamento e a prisão do ministro da Justiça. Diante das afirmações, Dino reagiu:

— Não precisa o senhor ir para porta do Ministério da Justiça fazer vídeo de internet porque se o senhor é da Swat, eu sou dos Vingadores. O senhor conhece o Capitão América? O Homem-Aranha? — disse o ministro, provocando risadas dentro da comissão.

Marcos do Val é um militar do Exército Brasileiro que tornou-se famoso como instrutor de agentes de segurança pública e privada. Segundo o site oficial do senador, ele já ofereceu cursos para agentes da Swat, Nasa, FBI, Navy Seals e Vaticano.

Na mesma audiência pública, convocada pelo senador Magno Malta (PL-ES), o ex-juiz Sergio Moro (União-PR) questionou Dino sobre uma suposta falta de estratégia do governo Lula para combater o crime organizado e saiu em defesa de Do Val. Dino respondeu a Moro com indireta às sentenças que ele proferiu na Lava-Jato e foram reformadas pelo STF:

— Eu vim aqui como ministro para ser respeitado. Se um senador acha que pode cercear a minha palavra, dizer que eu posso ser preso, isso é respeito? (…) Eu sou uma pessoa honesta, sou ficha limpa, fui juiz e nunca fiz conluio com o Ministério Público, nunca tive sentença anulada. (…) Quem tem honra age assim, eu repilo veemente qualquer ofensa à minha honra. Quem tem honra, defende.

Ao final da sessão, o ministro compartilhou um diálogo que teve com o senador Marcos Pontes (PL-SP), no Maranhão, sobre o formato do planeta:

— O senador Marcos Pontes foi o primeiro que me confirmou que a Terra era redonda. Havia uma dúvida, ele foi ao Maranhão e eu disse: “Senador, pelo amor de Deus, estão dizendo que a Terra é plana. Ela é redonda?” Eu nunca esqueci da resposta dele. Ele disse: “Flávio, é redonda. Eu vi”. Eu espero que essa verdade seja difundida por quem viu. De todos os brasileiros e brasileiras, só ele viu. E ele afirma que é redonda, e eu confio na palavra do senador Marcos Pontes — contou Dino, com bom humor.

O ex-ministro da Ciência e Tecnologia sorriu, acenou ao ministro com a cabeça em tom de confirmação e disse que esperava “ter tirado a dúvida” de Dino. Rindo, o ex-governador respondeu:

— Tirou, mas na verdade eu nunca tive a dúvida, eu só queria uma voz autorizada sobre isso. O senhor sabe que a gente vive tempos tão estranhos que são capazes de doravante, a partir desse nosso diálogo, dizer que o senhor se converteu ao comunismo. Porque o senhor está acreditando até que a Terra é redonda — finalizou em tom de deboche.

Logo após os ataques golpistas de 8 de janeiro, o ministro virou meme nas redes por causa de um trecho de entrevista em que falava: “Não há nenhuma posição apriorística e política no sentido de investigar A, B ou C, ou deixar de investigar A, B ou C”. A semelhança entre “A, B ou C” e a pronúncia do nome da cantora “Beyoncé” serviu como deixa para provocar risadas entre internautas. Com a repercussão, Dino aderiu à brincadeira e publicou no Twitter o vídeo de sua fala, ressaltando:

— Venho a público esclarecer que não há, nem haverá, qualquer investigação sobre a participação da Beyoncé em atos antidemocráticos — escreveu.

 

Em entrevista ao ICL Notícias há duas semanas, o ministro destacou a “alucinação bolsonarista” como justificativa ao ser questionado sobre o vazamento das primeiras imagens do interior do Palácio Planalto no 8 de janeiro:

— Esse vídeo é para tentar fortalecer essa alucinação: criar uma narrativa de que o general e o próprio governo, de um modo geral, participaram [das invasões]. Eu me preocupo muito até com a sanidade, pensando neles. É uma alucinação, porque eles dizem que nós estávamos lá, nós sabíamos de tudo, nós participamos, planejamos, que havia infiltrados… Cadê os infiltrados? Nós já temos milhares de horas de gravações reveladas em diversos momentos: no Planalto, no Supremo, no Congresso. Cadê os infiltrados? Um nome! Cadê? — argumentou.

A presença no Senado nesta terça-feira marcou a quarta vez que Dino vai ao Congresso Nacional a pedido de opositores do governo Lula. No fim de março, o ministro compareceu pela primeira vez desde o início da legislatura a uma audiência pública na Câmara dos Deputados. Na ocasião, o ex-governador do Maranhão foi convocado para explicar sobre a nova política de regularização de armas e para tratar de ações da pasta com relação aos episódios de 8 de janeiro. Além disso, foi questionado sobre a visita que fez ao Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, quando participou de um encontro com entidades comunitárias.

Durante a sessão, Dino afirmou que “nunca respondeu a nenhum processo judicial”. O deputado bolsonarista André Fernandes (PL-CE) mencionou uma busca realizada por ele na plataforma JusBrasil e afirmou que, de acordo com sua pesquisa, o ministro responde a 277 processos.

Dino riu da declaração do parlamentar e disse que vai “contar para os alunos como piada”. Em seguida, esclareceu que os resultados da pesquisa referida pelo parlamentar não correspondem apenas a processos nos quais o cidadão é réu: “Aparecem os nomes de quem pediu direito de resposta na Justiça, de quem foi requerido em um pedido de resposta, aparece o nome de quem registrou a candidatura ou prestou contas à Justiça Eleitoral, de quem foi testemunha em algum processo”, enumerou o ministro.

— Dizer com base no JusBrasil que eu respondo a 277 processos se insere mais ou menos no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana. E, claro que olhando nos seus olhos, eu vejo que o senhor sabe que a Terra é redonda. Então, assim como o senhor sabe que a Terra é redonda, nunca mais repita essa mentira dos 277 processos — acrescentou Dino.

No início de maio, o ministro compareceu à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle para prestar esclarecimentos sobre os mesmos temas, além de tratar de críticas à imunidade parlamentar, de invasões do MST e de suposta “pedalada fiscal” do governo.

Ao fazer pergunta para Dino sobre o PL das Fake News, o deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) afirmou que o governo federal “apoia ditaduras” e que praticou — “em versões anteriores” — um dos “maiores escândalos de corrupção da face da Terra”. Além disso, mencionou com ironia a operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por suposto esquema de fraude em carteiras de vacinação.

— Antes eu via um Estado processando e investigando corrupção de bilhões de reais e hoje eu vejo o Estado processando e investigando uma falsificação de uma carteira de vacinação. Não que não deva ser investigado, tudo deve ser investigado e todo mundo deve ser colocado embaixo da lei, mas a questão é a proporção e a gravidade dos fatos — afirmou Dallagnol.

O ministro criticou a posição do ex-procurador e debochou da declaração sobre os governos petistas:

— Eu informo ao senhor que nós continuamos a investigar escândalos graves e vamos continuar aplicando a lei, com seriedade, diferente do que havia no passado. Eu fico muito triste de ver o senhor afirmando que uma investigação séria sobre uma questão sanitária não é prioridade — disse Dino.

— Em relação ao debate sobre a lei ser necessária ou não: o senhor fala em ditadura, maiores escândalos. Eu acho que, sinceramente, olhando para o senhor, o senhor acredita no que diz, o que a meu ver é mais grave. Porque o senhor realmente parte de um sistema de crenças próprias e singulares que não têm aderência na realidade. Nosso governo foi eleito pela população e mantém relações diplomáticas amplas com todos os países do planeta, faz diplomacia defendendo o Brasil. Não há esse alinhamento, o presidente Lula não recebeu presente de ditadura, joias, coroa de joias, anel, nada desse tipo — acrescentou o ministro, em alusão ao escândalo das joias que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu da monarquia saudita.

O Globo