Ex-bolsonaristas não-reeleitos tentam não sumir

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Foto: Reprodução

Ex-aliados de Jair Bolsonaro, Janaina Paschoal, Joice Hasselmann e Alexandre Frota foram de votações expressivas em 2018 a derrotas amargas nas urnas em 2022. Agora sem mandato e distantes do antigo ocupante do Palácio do Planalto, eles vivem uma rotina fora da exposição do Legislativo e ainda dão como incerto o futuro na política. O desafio é manter a relevância sem cargo. Há quem aposte na vida de influencer digital. Ou na carreira de empreendedor. Mas, independentemente dos planos, todos mantêm conversas com partidos políticos sobre uma eventual candidatura no ano que vem.

Janaina foi a deputada mais votada da História, com mais de dois milhões de votos, em 2018. Depois de terminar em quarto lugar na disputa ao Senado, no ano passado, ela trocou a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) pela sala de aula, em uma volta polêmica para a Universidade de São Paulo (USP), com direito a abaixo-assinado contra o retorno — no primeiro dia de aula, entretanto, até fila para fotos ela enfrentou.

Além da carreira de docente, Janaina assumiu o posto de comentarista na CNN Brasil. Apesar do pouco tempo no ar, já causou polêmica ao relativizar as recentes denúncias de trabalho análogo à escravidão pelo Ministério Público do Trabalho. Preterida pelos principais partidos de direita na última eleição, ela diz não se arrepender de ter se candidatado por um partido nanico, o PRTB. As grandes legendas querem pessoas mais “domináveis” e que “obedeçam”, diz. Janaina já foi procurada por partidos como o Republicanos para discutir a possibilidade de concorrer à Câmara Municipal de São Paulo em 2024.

— Hoje não tenho clareza se o meu futuro é na política — afirma a ex-parlamentar.

Assim como Janaina, Joice Hasselmann surfou na onda do bolsonarismo em 2018 e tornou-se a mulher mais votada da Câmara dos Deputados. Mas no ano passado perdeu um milhão de votos e terminou com o apoio de pouco menos de 14 mil eleitores. Rompida com Bolsonaro ainda no primeiro ano de governo, Joice lembra que o resultado do último pleito foi um baque que a fez chorar um “choro amargo”. Foram dois meses reclusa até recalcular a rota.

O primeiro passo de Joice foi organizar um livro sobre sua trajetória, plano que acabou adiado depois do sucesso nas redes sociais compartilhando sua rotina saudável. O carro-chefe da nova empreitada é o lançamento de um protocolo de emagrecimento que, em fase de testes, a ajudou a perder mais de 20 quilos, ela afirma. Ainda neste mês, vai colocar no ar uma clínica on-line multidisciplinar de emagrecimento e promete presença no dia a dia do curso cozinhando receitas fitness.

A jornalista também não sabe se voltará a disputar cargo eletivo. Diz ter sido sondada para concorrer à prefeitura de São Paulo e garante que “nem começa conversa” se for para disputar vaga de vereadora.

— Acho que ainda não vou colocar as minhas pantufas, não — diz Joice.

O ex-deputado federal Alexandre Frota se orgulha de dizer que foi “o primeiro a se afastar do bolsonarismo”. Eleito em 2018 com 155 mil votos, tentou uma vaga na Alesp, mas ficou apenas como suplente, conquistando menos de um sexto dos votos de quatro anos antes.

Hoje o ex-parlamentar está escrevendo roteiros de dois filmes “de ação e violência”, como ele classifica, e também de uma série sobre música dos anos 1980. Frota discotecou no mês passado em uma festa com a mesma temática numa casa de eventos na Zona Sul de São Paulo.

Frota, que está com “saudades da TV”, se diz “injustiçado” por não ter sido eleito em 2022, quando fez campanha para Lula contra Bolsonaro. Filiado ao PSDB, o ex-parlamentar diz que ainda não sabe o caminho que trilhará nas eleições de 2024, decisão que pretende tomar até outubro:

— Estou me preparando, tenho estudado e saí das redes para dar um tempo. Não me aproximei do Lula, simplesmente ajudei a elegê-lo porque era a oportunidade de tirar o Bolsonaro. O único do governo que me estendeu as mãos e fala comigo é o ministro Alexandre Padilha.

No fim do ano passado, a Justiça decretou a falência pessoal de Frota, que tem dívidas que ultrapassam R$ 1 milhão — “muitas adquiridas defendendo Bolsonaro”, destaca o ex-deputado, substituindo o nome do ex-presidente por um xingamento.

Assim como Joice, quem também tem se dedicado a produzir conteúdo nas redes é o ex-ministro Abraham Weintraub, demitido da pasta da Educação em 2020. Ele mantém um canal no YouTube em que grava vídeos semanais com críticas a Lula, a Bolsonaro e ao governador Tarcísio de Freitas, seu ex-colega de Esplanada. O ex-ministro pede contribuições em dinheiro aos inscritos em seu canal, embora tenha declarado à Justiça Eleitoral ter patrimônio superior a R$ 15 milhões.

O Globo