Leite reconhece que PSDB encolherá ainda mais
Foto: Grégori Bertó/Secom
Encarregado de reestruturar o PSDB e conter o processo de encolhimento do partido que comandou o Palácio do Planalto por oito anos, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, reconhece que a legenda precisa estreitar laços com o eleitor para se apresentar como alternativa de centro nas próximas corridas eleitorais. O tucano admite a possibilidade de perder mais quadros da sigla e, ao abordar o tabuleiro político nacional, avalia que, apesar das divergências, a relação com o presidente Lula é melhor do que com o antecessor, Jair Bolsonaro:
— Pelo menos restabeleceu o diálogo.
Depois de perder o governo de São Paulo, o PSDB vive uma crise com a desfiliação em massa de prefeitos no estado. Como estancar as perdas?
O PSDB elegeu 179 prefeitos em São Paulo em 2020 e chegou a 250 nos últimos anos. Está com 212 agora, ou seja, mais do que elegeu. É natural que haja mudanças. Entendemos que pode ainda haver migrações para outros partidos, mas vamos apresentar caminhos para sustentar os prefeitos das principais cidades. Podemos passar ainda por momentos difíceis em termos de perdas de nomes, mas confio que vamos conseguir apontar o horizonte. Vamos debater internamente qual é o nosso DNA e as bandeiras que devemos defender com mais veemência para estabelecer uma nova estratégia de comunicação, reconectar o PSDB com o eleitor e mostrar uma alternativa no centro.
Há possibilidade de o MDB entrar na federação com PSDB e Cidadania? O MDB tem três ministérios, e o PSDB não é da base.
O PSDB é um partido de centro, o que não significa ausência de posição. Temos visões mais associadas à direita, e outras, à esquerda. Isso nos faz dialogar com partidos que eventualmente estão em um campo ou no outro. O MDB está também mais ao centro, e tenho certeza que há divergências em relação a ações do governo, mas olharam mais para aquilo que une do que para o que separa. A gente respeita isso. Uma eventual união seria uma ampliação da federação com o Cidadania, que vai até abril de 2026. Nós devemos consultar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para consolidar a visão de que é possível agregar um partido a esta federação sem alterar o prazo, o que significa fazermos essa federação ampliada especialmente para as eleições municipais, sem interferir nas posições que nossos partidos têm sobre estar no governo ou na oposição. A federação com o MDB é uma conversa muito inicial, que merecerá ainda muitas outras reuniões para haver um entendimento se podemos avançar. Também temos uma discussão com o Podemos.
O PSDB continua na oposição a Lula então?
Sim. Será oposição, porque tem entendimento diverso em um pilar central da atuação do governo federal, que é na economia.
Como vê a condução do governo nesta área?
Há posicionamentos muito equivocados, especialmente nos ataques ao Banco Central, que não contribuem na solução para a questão dos juros. Com o arcabouço fiscal, pode-se finalmente criar um ensejo para começar uma redução de juros, mas não basta isso. O governo vai ter que mostrar caminhos para que o Banco Central possa fazer os movimentos. A tentativa de rever o marco do saneamento é um retrocesso. O presidente diz que tem que se dar um voto de confiança às empresas estatais. Esse voto foi dado durante décadas e pouco conseguiram atender às expectativas de investimentos em saneamento.
A maioria dos deputados do PSDB votou a favor do arcabouço fiscal, mas os dois tucanos do RS foram contra. Concorda com eles?
Discordo. O arcabouço merece críticas e sugestões, mas melhor com ele do que sem. Seria necessário algo mais robusto, que apostasse menos na evolução das receitas e demonstrasse mais compromisso com a redução dos gastos. A regra ainda é pouco consistente, mas já é uma evolução. Pelo menos, o PT admite que precisa ter controle de gastos.
O diálogo com o governo Lula tem sido melhor ou pior do que com Bolsonaro?
Pelo menos restabeleceu alguma condição de diálogo. Eu tenho divergências ideológicas e programáticas com o presidente Lula, especialmente no que diz respeito ao tamanho do Estado e atuação na economia. Mas são divergências que devem ser exercidas no campo da política. Do ponto de vista institucional, a relação é mais sadia agora. Sob Bolsonaro, especialmente da metade para o fim do governo, ele dirigiu a artilharia a governadores e prefeitos.
Será candidato a presidente em 2026?
Não é possível falar sobre a próxima eleição. Há outras tantas figuras que podem eventualmente representar esse campo. O que eu quero é uma alternativa à polarização.
Quais outros nomes?
Praticamente todos que não sejam Lula ou Bolsonaro.
Os governadores Tarcísio e Zema são opções?
Tarcísio e Zema não são exatamente representantes do centro, mas são, na direita, políticos que têm demonstrado equilíbrio e que podem colaborar com um debate mais sobre os problemas do que sobre evitar um ou outro governo simplesmente.
O PSDB vai ter candidato a prefeito no Rio ou vai apoiar a reeleição de Eduardo Paes?
Não temos definição. Eu diria que prevalece nossa vontade de candidatura própria, porque é um dos principais colégios eleitorais do Brasil. Mas se na circunstância política do município, um entendimento com outro partido for melhor no cenário local, o PSDB está aberto a discutir.
Está descartado um apoio a Ricardo Nunes em São Paulo?
Vamos buscar uma candidatura própria, mas, neste momento, não há uma definição. Então não estou descartando (apoiar Ricardo Nunes).