Major golpista e bolsonarista cometeu abuso sexual

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Foto: Reprodução

Quando Jair Bolsonaro (PL) deixou o seu local de votação no segundo turno das eleições do 2022, a Escola Municipal Rosa da Fonseca, o ex-major Ailton Barros, desconhecido à época, estava colado ao então presidente. A região militar em que a dupla circulava naquele dia é a mesma onde, duas décadas antes, Barros acumulou problemas que levaram à sua exclusão do Exército.

Como capitão paraquedista lotado em Deodoro, no Rio, Barros foi acusado, entre 1999 e 2002, por atropelamento intencional de um soldado e casos de intimidação e insubordinação. Antes, em 1997, foi preso por oito dias após um episódio no qual tentou “abusar sexualmente” de uma mulher em acampamento da brigada paraquedista de Natal (RN). O histórico de infrações ganhou novo capítulo na última quarta-feira. Ele foi detido pela Polícia Federal (PF) por atuar na fraude do comprovante de vacinação de Bolsonaro.

Segundo a investigação da PF, Barros foi procurado em novembro de 2021 pelo então ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, para intermediar a obtenção de documentos fraudulentos de imunização para Covid-19. O ex-major ajudou familiares de Cid a obterem certificados falsos com auxílio de servidores da prefeitura de Duque de Caxias. O mesmo estratagema foi usado em dezembro de 2022 para emitir comprovantes para Bolsonaro e assessores às vésperas de viajarem para os Estados Unidos.

No mesmo mês, Barros enviou mensagens a Cid estimulando um golpe militar contra a posse do presidente Lula.

“Tem que continuar pressionando o (comandante do Exército, general Marco) Freire Gomes para que ele faça o que tem que fazer”, disse Barros, em áudios obtidos pela PF e revelados pela CNN. Na época, o ex-militar ocupava um cargo comissionado na secretaria de Casa Civil do governo do Rio; ele foi exonerado em janeiro deste ano.

No processo em que o Superior Tribunal Militar (STM) o puniu com a perda da patente em 2008, Barros alegou ser alvo de perseguição após ter denunciado um superior por “abuso de autoridade e atitudes preconceituosas em relação à cor da pele”. Além do racismo, o então militar disse que passou a “sofrer repressão de cunho político” em 2002, “após o lançamento de sua candidatura a deputado estadual pelo PT” — no mesmo ano em que Lula se elegeria à Presidência pela primeira vez.

Os ministros do STM justificaram a exclusão de Barros do Exército alegando que ele “denegriu a instituição (…) e, pior, terminou servindo de péssimo exemplo em termos de hierarquia e disciplina”.

Em 2022, Barros voltou a concorrer a deputado estadual, pelo PL, partido de Bolsonaro. Em áudio usado na campanha, o então presidente chamou o ex-major de “segundo irmão” e “velho colega”. Capitão reformado, Bolsonaro passou à reserva do Exército em 1988, época em que servia no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, o mesmo onde Barros atuou uma década depois.

A proximidade com Bolsonaro foi reforçada por Barros com uma série de registros ao lado do então presidente nas redes sociais. A lista de compromissos incluiu desde locais como a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), no Rio, até cerimônias no Palácio da Alvorada, em Brasília. Em julho de 2022, Barros compartilhou foto sentado ao lado de Bolsonaro pouco antes de uma live do então presidente.

Com acesso ao entorno presidencial, Barros aproveitava para distribuir conselhos, como na orientação feita a Cid sobre um pretenso golpe militar, além de se vangloriar de sua rede de conexões. Na tentativa de obter o comprovante fraudulento de vacinação para a mulher de Cid, o ex-major disse estudar “três linhas de atuação”.

“Outra parada também irmão, relaxa hein! Eu só peço para resolver”, afirmou, em mensagem obtida pela PF.

Ao comunicar a Cid, posteriormente, que a solução encontrada teve como intermediário Marcello Siciliano, ex-vereador citado na investigação da morte da vereadora Marielle Franco em 2018, Barros buscou tranquilizar o interlocutor sobre a ficha do colega. O ex-major afirmou que Siciliano, cuja participação no caso já foi descartada pela polícia, “entrou de bucha na história”, e alegou ter conhecimento do mandante do assassinato — informação que não conseguiu fornecer, porém, ao ser questionado por investigadores da PF após sua prisão, anteontem.

“Sei a porra toda”, declarou na mensagem a Cid.

O GLOBO não conseguiu localizar a defesa de Ailton.

O Globo