Moraes diz que não consegue falar com Lula

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Foto: Evaristo Sá/ AFP

Os senadores e deputados não são os únicos a se queixar da falta de interlocução com o Palácio do Planalto nos últimos dias. No Supremo Tribunal Federal (STF), também, reina a insatisfação com a falta de acesso direto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e um dos que mais reclamam é Alexandre de Moraes.

O ministro não escondeu sua insatisfação nas rodas de conversa do casamento do filho do ministro do Superior Tribunal de Justiça Luis Felipe Salomão, Rodrigo Salomão.

No evento, realizado no Rio de Janeiro no último sábado, Moraes expressou suas queixas em alto e bom som diante de advogados e outros ministros. Segundo ele disse na ocasião, enquanto tomava uísque, conversar com Lula é excessivamente difícil, porque o presidente não usa celular e para falar com ele é necessário sempre passar pelo filtro de um assessor.

Moraes contou que vem mandando mensagens para o Planalto há dois meses e até agora aguarda retorno de Lula.

Além de comandar os inquéritos das fake news, das milícias digitais e dos atos golpistas de 8 de janeiro, Moraes ainda é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde tramitam 16 ações que podem tornar Jair Bolsonaro inelegível – das quais oito são movidas pelo PT.

Seu maior interesse em falar com Lula, porém, tem a ver com o próprio Judiciário. O principal é a intenção de convencer o presidente a indicar o pai do noivo, o ministro Salomão, para a vaga aberta no Supremo com a aposentadoria de Ricardo Lewandowski, ocorrida em abril.

Mas Lula já deu todos os sinais de que vai indicar o seu advogado pessoal Cristiano Zanin. Só falta mesmo encontrar o melhor momento para oficializar a indicação. Outra vaga será aberta em outubro com a aposentadoria da presidente do STF, Rosa Weber.

Além dele, também estavam no casamento outros três ministros do Supremo – Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli – e 17 integrantes do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

As queixas expressas por Moraes diante dos convidados de Salomão vêm sendo repetidas nos bastidores também a outros interlocutores — como o presidente da Câmara, Arthur Lira, e advogados com causas no tribunal.

Mas interlocutores que já ouviram essas mesmas sobre a distância de Lula em outras ocasiões apostam que a razão pela qual o presidente vem dando um “perdido” no ministro – e em outros magistrados que também se ressentem de não poder falar com o presidente – é justamente evitar a pressão para escolher outro candidato ao Supremo que não Zanin.

“Lula não está a fim de encarar essa pressão”, diz um líder importante do Congresso que esteve recentemente com o presidente.

O que se ouve no entorno do petista é que ele não irá indicar o advogado que o defendeu na Lava Jato sem antes conversar ao menos com Lewandowski, Moraes e Gilmar Mendes. “Mas se ele já decidiu e precisa comunicar os ministros, poderia dar um telefonema e acabar logo com isso”, comenta o parlamentar.

A pauta de Moraes com Lula, porém, é extensa. Conforme informou a coluna, Moraes pretende ainda ocupar as duas novas vagas que serão abertas nesta semana no TSE para ampliar o poder e manter a influência sobre as decisões da corte eleitoral mesmo depois de deixá-la, em junho de 2024.

Nos bastidores, o presidente do TSE tem feito campanha pelo advogado Floriano de Azevedo Marques, professor da USP e seu amigo há cerca de 40 anos, o que influenciou a decisão do ministro Carlos Horbach de desistir de ser reconduzido ao cargo.

O Globo