MP-RJ acelera investigação sobre Carluxo

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Foto: Isac Nobrega/PR

Depois de identificar o possível operador do suposto esquema de “rachadinha” no gabinete do vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), o Ministério Público do Rio de Janeiro trabalha em novos cruzamentos de dados para apurar se o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi, de fato, beneficiado.

Em uma das frentes, a Promotoria se debruça sobre pessoas ligadas ao chefe de gabinete de Carlos, Jorge Luiz Fernandes, que entraram no radar durante a análise dos dados bancários obtidos via quebra de sigilo. Um dos caminhos, apurou o Valor, passa por descobrir se esses terceiros, além de Fernandes, fizeram o dinheiro supostamente desviado chegar a Carlos.

Como “O Globo” revelou na semana passada, Fernandes recebeu R$ 2 milhões em repasses, num período de dez anos, de outros seis assessores, o que é um forte indício de que havia desvios no gabinete. Agora, depois de a Promotoria responsável pelo caso fazer novas perguntas ao Laboratório de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, o MP tocará uma análise mais minuciosa dos dados da quebra de sigilo fiscal para identificar, por exemplo, se pessoas que receberam recursos significativos de Fernandes no período analisado pagaram despesas pessoais do filho de Bolsonaro.

A quebra de sigilo fiscal envolve dados mais abrangentes que os bancários – que serviram para captar as transferências para Fernandes, mas são limitados. O laudo dos R$ 2 milhões foi o primeiro produzido pelo laboratório desde que as informações bancárias chegaram ao MP, depois da autorização judicial de dois anos atrás. Nesse tipo de relatório, é possível mapear todas as transferências e os depósitos feitos pelas pessoas atingidas pela medida.

No momento, o que há de registros que podem vir a ser considerados lavagem de dinheiro ainda são vistos como frágeis pelo MP para confirmar se houve desvios em benefício de Carlos. Parte das transações imobiliárias feitas em espécie está afetada pela prescrição. No caso de um dos irmãos dele, o senador e ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro, a atuação intensa no mercado imobiliário, com uso de dinheiro vivo e preços atípicos, foi peça-chave para amarrar a acusação. Flávio foi denunciado no âmbito das “rachadinhas” em 2020, mas derrubou o caso – sem enfrentar o mérito – com base em brechas processuais.

Outra dificuldade passa por um dado revelado nesta semana pela “Folha de S. Paulo”. Como Carlos sacou quase 90% do que recebeu de salário entre 2005 e 2021, fica mais complicado apontar transações em espécie como provas cristalinas de lavagem de dinheiro. Se o salário foi sacado, é mais normal que pagamentos também tenham sido feitos dessa forma. Por isso o MP vê como importante o caminho de identificar se os terceiros ligados a Fernandes, assim como ele próprio, beneficiaram o filho de Bolsonaro.

Procurado, o advogado do filho de Bolsonaro, Antonio Carlos Fonseca, voltou a repudiar o vazamento de informações e diz que o vereador está “totalmente à disposição para prestar esclarecimentos e fornecer qualquer tipo de informação ao Ministério Público.”

Espécie de “segundo pai” para Carlos, Fernandes trabalha com o vereador desde o início de seus mandatos, em 2001, mas virou chefe de gabinete apenas em 2018. Quando apresentou à Justiça os argumentos para quebrar o sigilo de todos os investigados, em 2021, o MP apontou indícios de irregularidades na dinâmica entre ele e duas outras funcionárias do gabinete: Regina Célia Sobral Fernandes, com quem é casado, e Juciara da Conceição Raimundo da Cunha.

No novo laudo, produzido com os dados bancários, outros quatro assessores aparecem como suspeitos de integrar o esquema que teria Fernandes como operador, já que repassaram recursos para ele. Agora, além dessas seis, entrarão no foco do MP personagens até então coadjuvantes – os que receberam transferências do suposto operador e que podem ter feito o dinheiro chegar a Carlos.

Valor Econômico