
Nem partido de Salles o quer candidato em SP
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Ex-ministro do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro (PL) e relator da recém-criada CPI do MST na Câmara, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) enfrenta a resistência de seu próprio partido para viabilizar sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2024. Dirigentes municipais, estaduais e nacionais do PL afirmam que o radicalismo de Salles e a falta de vínculo com lideranças do partido podem fazer com que o ex-ministro não tenha apoio da legenda para disputar a capital. O presidente do PL paulistano, Isac Félix, é um dos mais explícitos. Ele reclama da falta de diálogo com Salles e diz que o colega não conhece a legenda. “Ele é um estranho no ninho. Primeiro ele precisa respeitar o partido, conversar com o partido, saber quem é o PL.” Para o vereador, o ex-ministro é um “aventureiro” que quer usar a sigla para disputar em 2024. “Chega um aventureiro, que se elegeu deputado e quer concorrer à prefeitura. Já pensou se todo mundo começar a fazer isso?” Na avaliação de integrantes do PL, a participação de Salles na CPI do MST pode afastar de vez a eventual candidatura do deputado pelo partido em 2024. Lideranças do PL avaliam que o ex-ministro tende a reforçar o discurso “radical” e de “extrema direita” contra os sem-terra. O partido, no entanto, busca um candidato “moderado” de centro-direita para concorrer em São Paulo. Em 2022, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Bolsonaro perderam na capital. Dirigentes do PL analisam que um nome ligado ao bolsonarismo radical terá dificuldades. A nomeação de Salles para a CPI foi feita com o aval do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e seria uma forma de prestigiar o deputado, que recebeu a 5º maior votação do país para a Câmara em 2022. Dirigente nacional do PL e um dos principais quadros do partido em São Paulo, o deputado federal Antonio Carlos Rodrigues ressalta que Salles é de “extrema direita”. “É só ver o posicionamento dele”, diz. “E um nome de extrema direita vai ter dificuldade em São Paulo”. Mesmo sem negar publicamente apoio a Salles, o presidente nacional do PL tem dito que o partido vai procurar um candidato de centro-direita para a eleição paulistana e tem afirmado que Salles é de “extrema-direita”. O PL de São Paulo participa da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e prefere apoiar a candidatura à reeleição do prefeito. Félix tenta garantir a vice e já convidou Nunes a migrar para o PL. Na quarta (24), Valdemar Costa Neto deve se reunir com o presidente do MDB, Baleia Rossi, para discutir o cenário eleitoral e alianças para 2024. A migração de Nunes, que é presidente do MDB paulistano, é descartada por ora, mas as conversas sobre a indicação da vice pelo PL têm avançado. Salles lançou a pré-candidatura em março e tem se vinculado ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a bolsonaristas “raiz”. O deputado diz ter o aval de Jair Bolsonaro para concorrer, mas pondera que o ex-presidente vai seguir a orientação do comando do PL. “Tenho apoio de toda a bancada bolsonarista estadual e federal”, diz. “Bolsonaro não quer impor nada. É preciso convencer o Valdemar”. O pré-candidato avalia que a CPI do MST deve projetá-lo e reforçar o embate entre “direita e esquerda”. Além do MST, Salles pretende investigar o MTST, que tem um de seus líderes, o deputado Guilherme Boulos, pré-candidato pelo Psol. “Eu e Boulos vamos nos tornar ainda mais conhecidos com a CPI do MST”, afirma.