“Pastores” estão com medo de defender Bolsonaro

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Diversas lideranças evangélicas que se mantiveram alinhadas a Jair Bolsonaro durante o último governo e que apoiaram o ex-presidente nas eleições do ano passado optaram pelo silêncio sobre o caso envolvendo uma suposta fraude em cartões de vacinação. Passada exatamente uma semana da operação da Polícia Federal que chegou a cumprir mandado de busca e apreensão na casa de Bolsonaro, pastores relevantes e ativos nas redes sociais preferiram, por ora, não sair em defesa do antigo aliado.

Ferrenho defensor do ex-presidente, o pastor André Valadão, da Igreja Lagoinha, ganhou destaque nas redes por seus posicionamentos políticos. No ano passado, chegou a ter seu perfil suspenso por decisão judicial após compartilhar notícias falsas e estimular atos antidemocráticos nas horas que sucederam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas.

Bolsonaro, contudo, não foi sequer citado nas postagens mais recentes de Valadão. Entre os últimos conteúdos compartilhados, o único que trata de política ironiza falas de Lula sobre a compra de picanha durante a campanha de 2022.

A mesma postura foi repetida por Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus. Em 2022, Bolsonaro chegou a fazer eventos de campanha em seu templo junto ao governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. Agora, não há qualquer respaldo ao ex-presidente.

Na Igreja Batista, o pastor da vertente Getsêmani, José Linhares, tem todas as suas publicações fixadas no Instagram com referências a Bolsonaro. Durante o pleito, ele chegou a gravar um vídeo, ao lado do então candidato, no qual se declara: “Eu amo você”. Não foi o bastante para que ele encampasse narrativas favoráveis ao ex-presidente após o escândalo mais recente.

Outro exemplo é Claudio Duarte, da Igreja Projeto Recomeçar, que no ano passado pregava com frequência nas redes enquanto postava fotos de apoio ao ex-chefe do Executivo. O pastor chegou a comparecer a eventos de campanha ao lado de políticos do PL como o deputado federal Nikolas Ferreira (MG) e o governador do Rio Cláudio Castro, mas também preferiu o silêncio sobre a suposta fraude nos cartões de vacinação.

A única exceção relevante localizada pelo GLOBO ficou por conta do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos mais fiéis escudeiros de Bolsonaro. Nas redes, o religioso sustentou a tese de que o ex-presidente é perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelo aval dado à operação da PF.

Na avaliação de Magali Cunha, diretora-geral do Coletivo Bereia, agência de fact-checking voltada ao público cristão, o silêncio foi preenchido por críticas a Lula:

— (houve um) Silêncio total neste assunto preenchido com críticas ao preço do hotel de Lula em Londres e às roupas de Janja. Foi a válvula de escape de sempre: sufocar críticas e crises da extrema-direita com críticas antipetistas e, agora, antigovernistas — explica Magali.

Este é o caso do pastor Junior Trovão, da Assembleia de Deus. Nas eleições passadas, ele chegou a se candidatar a deputado no Rio e atualmente é suplente. Já com o viés político, Trovão faz uma série de postagens sobre Lula, mas não mencionou a situação do ex-presidente nas redes. “Lula e ‘Esbanja’ pagando diárias exorbitantes com o nosso dinheiro. Esse é o pai dos pobres”, escreveu no Instagram.

Para estudiosos do tema, o movimento de silêncio pode estar atrelado a um certo desgaste da figura de Bolsonaro no segmento. De acordo com pesquisadores do Instituto de Estudos da Religião (Iser), um distanciamento entre o ex-presidente e os evangélicos ocorre desde o início do ano e tem se intensificado com escândalos recentes, como as jóias da Arábia Saudita.

O Globo