PSDB está cada dia menor

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Foto: Edilson Dantas/O Globo

Filiado há 19 anos no PSDB, o prefeito Luiz Fernando Machado, de Jundiaí (SP), está prestes a migrar para o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, em um movimento cada vez mais comum entre lideranças tucanas em São Paulo. Machado avalia que o PSDB está isolado, enfrenta uma crise interna e perdeu a conexão com o eleitorado do interior paulista, que apoiou nas últimas eleições Bolsonaro e o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “O PSDB perdeu sua identidade.”

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Fora do comando do governo paulista depois de 28 anos, o PSDB tem registrado a saída de prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e pré-candidatos às eleições de 2024 rumo a partidos da órbita do governo estadual, como PL, PSD, Republicanos e PP. Até mesmo o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, ex-governador por quatro mandatos e ex-tucano, tem atraído lideranças do PSDB para seu partido, o PSB. Há um mês, Alckmin filiou o ex-tucano Rubens Furlan, prefeito de Barueri, cidade com 279,3 mil eleitores. “Estamos sem horizonte”, diz Machado.

No plano federal, o partido está distante do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No Estado, os tucanos foram isolados no governo Tarcísio, depois da derrota do ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB) em 2022. Com esse cenário, prefeitos e parlamentares do PSDB têm procurado partidos ligados ao governador, em busca de uma relação mais próxima, para a liberação de convênios e de emendas. A migração é embalada também com a perspectiva de mais recursos para disputar em 2024. O PL, por exemplo, tem a maior fatia do fundo partidário, com direito a R$ 205,8 milhões.

Machado cita outro problema enfrentado pelo PSDB: o eleitor do interior do Estado, mais conservador, “não reconhece mais o partido, sobretudo depois da saída de Alckmin” para aliar-se a Lula. Esse eleitorado, diz, tende a apoiar quem está com Tarcísio e Bolsonaro. “O eleitor pode trocar de candidato, mas não troca de valores”, diz o prefeito de Jundiaí, cidade com 330,9 mil eleitores.

No começo de 2022, o partido administrava 40% das cidades paulistas, com cerca de 250 prefeitos. O diretório paulista diz ter 210 prefeitos, mas o número não é preciso porque o PSDB-SP não tem dados atualizados. A avaliação de tucanos é que a migração deve se intensificar nos próximos meses. O prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Júnior, deve ser um dos próximos a deixar o PSDB rumo ao PSD. A cidade do ABC paulista tem 146,7 mil eleitores.

“O partido está à deriva”, resume um dirigente paulista. “O PSDB precisa dar uma luz no fim do túnel para os prefeitos, mas não conseguimos fazer isso ainda. Não conseguimos dar um norte”, diz um dos fundadores da sigla.
A crise do PSDB paulista foi agravada com o processo de prévia nacional, no fim de 2021, que opôs o então governador João Doria e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, na disputa para definir o candidato à Presidência. Doria venceu, mas desistiu de concorrer por falta de apoio ns direção nacional. Meses depois, deixou o PSDB. Leite assumiu o comando nacional e ainda não conseguiu aparar as arestas. Tucanos que apoiaram Doria queixam-se de terem sido isolados.

O prefeito de Jundiaí é símbolo do grupo que resiste a Leite. Machado foi coordenador da campanha de Doria na prévia e critica a atual direção. As convenções para a troca do comando dos diretórios foram adiadas de fevereiro para o segundo semestre. A ação foi vista como uma forma de Leite ganhar tempo para articular a eleição de seus aliados.

O prefeito Orlando Morando, de São Bernardo do Campo (SP), maior cidade do PSDB no país, recorreu à Justiça para tentar tirar Leite do cargo. “O partido vive uma instabilidade”, diz Morando. O presidente do PSDB nacional, no entanto, diz ter respaldo da Executiva. O presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi, minimiza e diz que o “partido está unido” e “buscando a construção coletiva”.

Além da perda de quadros, o partido enfrenta dificuldade para renovar lideranças. Na capital, dois anos depois da morte do ex-prefeito Bruno Covas, o PSDB não deve ter candidato próprio em 2024. A sigla pode ficar fora da chapa à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que assumiu após a morte de Covas e negocia a vice com PL e Republicanos.

Valor Econômico