PSDB não consegue se erguer
Foto: Maicon Hinrichsen / Palácio Piratini
O governador gaúcho Eduardo Leite, presidente nacional do PSDB, tem um obstáculo por ora intransponível para ter qualquer chance de se apresentar minimamente competitivo em uma eleição presidencial futura: São Paulo. Depois da perda do governo estadual na eleição do ano passado, o PSDB local caminha para um encolhimento, que pode fazer a sigla, em termos nacionais, migrar da categoria média para a de pequena, rumando para o nanismo.
O partido não tem plano para a eleição municipal do próximo ano. E nem nomes: o ex-governador Rodrigo Garcia está nos Estados Unidos, há semanas não fala com ninguém dentro do partido e a possibilidade de permanecer na legenda é vista como pequena. Seu antecessor, João Doria, voltou a ser um empresário de eventos. José Serra aposentou-se. Alckmin é o vice de Lula.
A morte do prefeito Bruno Covas deixou um vácuo não preenchido pelo seu filho, Tomás, sem idade para disputar. Boa parte do PSDB paulistano ainda está encrustrada na prefeitura comandada por Ricardo Nunes, do MDB. O apoio à reeleição de Nunes é ruim para um projeto presidencial de Leite, que precisa ganhar um rosto em São Paulo, mas disputar com quem?
O partido também está sem comando claro em São Paulo. Sua condução é disputada por prefeitos de alcance político local, entre os quais o melhor situado é o de Santo André, Paulo Serra. Seu oponente de maior visibilidade é o de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, que entrou na Justiça para contestar a entrega do partido a Leite.
O partido, nacionalmente, terá este ano para gastar R$ 37 milhões do fundo partidário, o que é pouco para a estrutura de prefeituras que conquistou em 2020. Para viabilizarem seus projetos continuístas, muitos prefeitos procurarão outros partidos, com mais caixa para bancar campanhas.
O próprio Paulo Serra, o grande ponto de apoio de Leite em São Paulo, admite o encolhimento futuro. “O número de filiações precisa ser orgânico, não artificial. Não devemos manter esta base inchada”, comentou. Já reeleito em 2020, Serra deve herdar o comando do que restou da sigla em São Paulo e a tarefa de construir um antipetismo que não seja bolsonarista.
Para esta tarefa, que não é só paulista, o PSDB teve que contratar uma consultoria. Terceirizou a consulta às bases e a construção de um rosto partidário para a consultora Irina Bullara, ex-diretora do Renova BR, a ONG formada por empresários que apoiou a eleição de diversos políticos de centro-direita. Ela irá escutar tucanos com mandato partidário para rejuvenescer a imagem da sigla entre setembro e novembro, época das convenções locais.
A maior parte dos prefeitos tucanos no estado ainda aguarda algum tempo para se posicionar. Serra argumenta que Morando ficou isolado ao contestar a nova direção nacional. “Nenhum outro prefeito quis entrar nessa”, observou. Morando rebate, lembrando a baixa adesão de um encontro promovido em São Paulo em homenagem a Leite. “Eles convidaram três dezenas de prefeitos, apareceram seis”, afirmou.
Sem retaguarda em São Paulo, a tendência é não ter futuro. Em 1989, Leonel Brizola deixou de ir para o segundo turno da eleição presidencial por meio ponto percentual. Sua candidatura marchou para a derrota graças a São Paulo, onde conseguiu míseros 1,5% dos votos.
A falta de estrutura em São Paulo costuma ser letal para todo projeto presidencial. Única exceção à regra foi a de Bolsonaro em 2018, em uma eleição que destoa em tudo das demais.
Os primeiros movimentos do governador Tarcísio de Freitas também reduzem o espaço vital de Leite em São Paulo. Tarcísio alinha-se com o bolsonarismo, sem abrir mão do centro. Isso explica, de certa forma, o desânimo do entorno do governador com uma candidatura puro-sangue do bolsonarismo na capital paulista. Enquanto tiver autonomia para fazer o jogo que está fazendo, deixa o pessoal da Terceira Via sem chão em São Paulo.
Um Bolsonaro forte atrapalha o governador a fazer este jogo pendular, já que a ruptura com o ex-presidente não é uma opção. Tira a sua autonomia. O jogral dos dois, governador e ex-presidente, em Ribeirão Preto (SP), durante a Agrishow, sinalizou que Bolsonaro ainda está forte e foi a melhor notícia que o deputado federal Ricardo Salles (PL) poderia ter em seu projeto de concorrer a prefeito.
Quando foi submetido a uma condução coercitiva, em março de 2016, o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva advertiu: “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo, e a jararaca está viva”. O desenrolar dos fatos nos últimos sete anos mostrou a inteireza do significado desta frase.
Lideranças como a de Lula, ou a de Jair Bolsonaro, ou a de Donald Trump nos Estados Unidos, tendem a capitalizar episódios negativos. Um exemplo recente é o que está a acontecer nos Estados Unidos, desde que Trump foi tornado réu em um caso de desvio de recursos de campanha para o pagamento do silêncio de uma atriz pornô. O ex-presidente americano transformou o constrangimento em um palco.
Bolsonaro sinalizou ir para o mesmo caminho, ao reeditar o discurso anti-vacina depois de ser alvo de um mandato de busca e apreensão da Polícia Federal por ser suspeito de falsificar documentos.