Aliados dizem que cassação ajuda Bolsonaro, mas não querem

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Foto: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Agência O Globo

Em meio ao voto do relator, Benedito Gonçalves, na ação contra Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode deixar o ex-presidente inelegível, seus correligionários fizeram ataques ao magistrado e reforçaram a tese de que uma condenação o fortaleceria politicamente, caso se confirme. Mais cedo, o próprio Bolsonaro havia admitido que a tendência é se tornar inelegível.

O colegiado analisa uma ação movida pelo PDT por questionamentos feitos pelo ex-mandatário ao processo eleitoral, sem apresentar provas, em uma reunião com embaixadores realizada em julho de 2022. Benedito julgou procedente o pedido para condenar Bolsonaro, pela prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação e pediu a sua inelegibilidade por 8 anos seguintes ao pleito de 2022.

Mesmo com a sessão do TSE marcada com antecedência, Bolsonaro passou o dia em Brasília, mas longe da sua militância ou de políticos da sua confiança. Com os trabalhos da Câmara feitos de maneira remota nesta semana, nomes como o líder do PL na Câmara, Altineu Cortes, e Alexandre Ramagem, ficaram no Rio de Janeiro.

O presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, também afirmou ao GLOBO que não passaria o dia no Distrito Federal. Nem mesmo seus filhos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, estiveram com o ex-presidente na sede do PL, onde cumpriu agendas e realizou reuniões, por meio de vídeo conferências, ao longo do dia.

Autora da PEC do voto impresso e uma das principais apoiadoras de Bolsonaro, a deputada Bia Kicis (PL-DF) fez críticas ao relatório do ministro. Para ela, mesmo a petição inicial não contém elementos que justifiquem a inelegibilidade do ex-presidente.

— Reunir-se com embaixadores para demonstrar a falta de transparência do sistema eleitoral não ameaça as eleições nem constitui abuso de poder político. É importante salientar que a iniciativa de Bolsonaro foi uma resposta à reunião anterior, do então presidente do TSE, Edson Fachin, com os mesmos embaixadores, para lhes pedir que pressionassem os seus países a aceitar de pronto o resultado das futuras eleições—disse a parlamentar ao GLOBO.

Já a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), outra aliada de Bolsonaro, vê um possível fortalecimento da direita. Damares foi a ministra mais popular do governo do ex-presidente, ao comandar a pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos. Ela conquistou uma cadeira no Senado, derrotando outra ex-ministra, Flávia Arruda (PL-DF), e tem grande apelo junto ao público evangélico e conservador.

— Acredito que ele sairá vitorioso, mas, independentemente do resultado, Bolsonaro continuará sendo nosso líder maior. Em 2024, o Brasil verá nas urnas o quão forte e grande continua o capitão—disse.

Líder da oposição na Câmara, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) atacou a ação do PDT e o TSE.

— Bolsonaro, em sua função, fez uma mera reunião com embaixadores para responder às dúvidas sobre o processo eleitoral. Ele não atacou ninguém. Mas outras provas vêm sendo adicionadas ao processo para criar fatos e justificar qualquer resultado. É algo inconstitucional.

Na terça-feira, o próprio Bolsonaro admitiu que a tendência é se tornar inelegível. Em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Bolsonaro diz nunca ter atacado o sistema de votação do país. Segundo ele, adversários querem puni-lo “pelo conjunto da obra”.

— A tendência, o que todo o mundo diz, é que eu vou me tornar inelegível. Eu não vou me desesperar. O que que eu posso fazer? Eu sou imbrochável até que se prove o contrário. Vou continuar fazendo a minha parte — disse.

O Globo