Bolsonaristas tentam atrair ministra do Turismo
Foto: Cristiano Mariz
Na política, a solidariedade pode vir de onde menos se espera. Foi o que descobriu ontem a ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Torpedeada pelo União Brasil e prestes a ser demitida do governo Lula, ela recebeu apoio de deputados do PL.
“A senhora tem aqui um aliado”, disse o bolsonarista Bibo Nunes. “Cristianismo é levar pedrada, é ser perseguido. Mas a palavra final vem de Deus”, emendou o pastor Roberto Monteiro, que se referiu à ministra como “irmã em Cristo”.
Em visita à Câmara, Daniela citou a Bíblia, jurou fidelidade a Lula e disse ser vítima de “machismo estrutural”. Apesar dos esforços, deve perder o cargo nos próximos dias. A ministra não será dispensada pelo que fez ou deixou de fazer no governo. O Planalto avisou que precisa da cadeira para barganhar votos com o União Brasil.
O partido quer a nomeação do deputado Celso Sabino, ex-apoiador de Jair Bolsonaro. Ele também é ligado a Arthur Lira, a quem costuma chamar de “amigo irmão”. O chefão da Câmara pertence ao PP, mas exerce influência sobre um amplo consórcio de legendas do Centrão. O União Brasil é a principal delas, com 59 deputados.
A troca não garante que o governo terá todos os votos da bancada. A ideia é reduzir o índice de traição registrado nos últimos meses. Como Daniela já pediu desfiliação da sigla, sua permanência no cargo ficou insustentável. Segundo aliados, Lula busca uma “saída honrosa” para ela e o marido Waguinho.
Na passagem pela Câmara, a primeira-dama de Belford Roxo pareceu conformada com a queda iminente. “Deus está no controle de tudo. Nada acontece por acaso”, discursou.
O controle do Ministério do Turismo não deve saciar a gula do União Brasil. O partido já avisou que também quer abocanhar as presidências da Embratur e dos Correios. Lira tem um sonho de consumo mais ambicioso: o Ministério da Saúde. Sua candidata à pasta é a médica Ludhmila Hajjar — desde que ela se comprometa a dividir tudo com o Centrão.