Ex-chefe da PRF quase sai preso da CPI
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Primeira testemunha a depor na CPI do 8 de Janeiro, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques foi acusado de mentir durante a sessão desta terça-feira e teve a prisão pedida por parlamentares de esquerda. O Código Penal prevê a detenção em flagrante de depoentes que dão falso testemunho em comissões de inquérito.
Acompanhado de dois advogados e apoiado pelos senadores e deputados da oposição, Vasques retificou algumas de suas declarações, mas negou ter faltado com a verdade. O presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), entendeu que não havia fundamento para decretar a prisão dele.
Confira abaixo os momentos em que Silvinei foi acusado de falso testemunho:
No dia do segundo turno das eleições de 2022, a PRF fiscalizou 2 mil ônibus na região Nordeste e 571 no Sudeste. Esse direcionamento de blitzes em rodovias de estados do Nordeste levou a Polícia Federal a investigar se os bloqueios tinham finalidade política, de impedir a circulação de eleitores, sobretudo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Levado à CPI para dar esclarecimentos sobre essas suspeitas, Vasques classificou a acusação como a “maior injustiça da história” e explicou que o elevado número de operações no Nordeste ocorreu devido à “maior infraestrutura” da corporação na região.
— O que se falou muito é que a PRF, no segundo turno da eleição, direcionou a sua fiscalização para o Nordeste brasileiro. Isso não é verdade, porque o Nordeste brasileiro é o local em que nós temos nove estados, nove superintendências. Temos a maior estrutura da PRF no Brasil (…) Nos estados do Nordeste também se encontra hoje lotado, há muito tempo, o maior efetivo da instituição — afirmou ele.
A declaração foi rebatida pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que apresentou dados repassados pela atual gestão da PRF:
— Não é verdade, dr. Silvinei. O seu maior efetivo está no Sudeste. Eu peguei o quadro aqui, eu mesma somei. O efetivo está maior no Sudeste, não está no Nordeste. Isso não é verdade. O quadro está aqui, eu posso lhe repassar. (…) Portanto, os seus dados não são verdadeiros — afirmou ela.
Ao fim da sessão, Vasques acrescentou que a atuação da PRF evitou “compra de votos” e que o “trabalhou ocorreu muito bem em todo o Brasil”.
Durante o interrogatório da relatora da CPI, Eliziane Gama, o ex-diretor da PRF afirmou não ter conhecimento de “nenhum” processo administrativo que ele respondeu na corporação — mais precisamente, oito sindicâncias abertas contra ele que foram colocadas em sigilo durante o governo Bolsonaro.
— Eu nunca fui notificado de nenhum processo administrativo pela PRF — disse ele em um primeiro momento. Depois, ao ser interpelado novamente pelo presidente da CPI, Vasques fez uma retificação:
— Os processos, que já estão encerrados, naturalmente eu respondia. No entendimento que eu tinha é que ela [Eliziane] estava falando de novos processos. Ocorre que a relatora não perguntou sobre “novos processos”. Ela, então, pediu que Arthur Maia tomasse uma atitude em relação à declaração falsa.
O presidente da CPI classificou o episódio como um “erro de comunicação” e decidiu não optar pela medida mais drástica, que seria a prisão do depoente por falso testemunho.
— É lamentável a forma que o senhor respondeu. (…) Ele retificou a resposta dele, e eu entenderei essa retificação como tendo ele sanado a sua falha — afirmou o deputado.
Durante a sessão, Vasques também foi acusado de mentir ao declarar que nunca foi contratado pela empresa Combat Armor. A companhia foi contratada durante a sua gestão para fornecer veículos blindados à corporação em um negócio de mais de R$ 36 milhões. O contrato virou alvo de investigação do Ministério Público Federal.
Vasques admitiu que esteve na empresa apenas para pedir emprego, mas não conseguiu.
— Estou desde o dia que me aposentei procurando emprego. Estive nessa empresa, estive em mais de dez empresas. Estou à procura de emprego, à disposição, ainda não consegui. As que quiseram me dar emprego não atenderam às minhas expectativas, mas assim que eu tiver uma oportunidade, com certeza, vou trabalhar — afirmou ele.
O deputado Rogério Correia (PT-MG), por sua vez, confrontou o ex-diretor, dizendo ter provas de que ele trabalhou para a empresa. Segundo ele, Vasques chegou a morar por dois meses em Indaiatuba (SP), cidade onde fica a sede da Combat Armor. Ele ainda o perguntou sobre um cartão de visitas em que Vasques era apresentado como “vice-presidente” da companhia.
Vasques negou a informação, dizendo que “não conhece quem fez aquele material”, mas admitiu ter estado em Indaiatuba. — Como em várias cidades da região — completou.