Golpe seria presente-surpresa para Bolsonaro?
Foto: Adriano Machado – 12.mar.19/Reuters
Na semana passada, a Polícia Federal encontrou no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, planos e conversas sobre como executar e justificar o golpe de Estado tentado pelo ex-presidente após a eleição de 2022.
No celular de Cid havia uma minuta de golpe, como a encontrada na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres. A minuta declararia estado de sítio e GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Os golpistas tomaram o cuidado de cobrir a assinatura do documento com uma folha de papel.
Mas esse não era o único plano sendo discutido. Segundo outros documentos presentes no celular de Cid, também se pensava em apresentar um documento ao comando das Forças Armadas relatando “abusos”, tanto do Judiciário quanto da mídia, e pedir um golpe nos termos daquelas idiotices do Ives Gandra sobre artigo 142 e “Poder Moderador”.
Não sei por que achavam que precisavam disso. Nenhum juiz sério aceitaria as teses de Gandra sem uma arma apontada para sua cabeça. Mas se os bolsonaristas já tivessem colocado a arma na cabeça do juiz, quem precisaria de um argumento jurídico? Qualquer tuíte do Carluxo bastaria, e a tese de Gandra é só marginalmente melhor.
No celular de Cid havia, também, uma conversa com Jean Lawand Junior, coronel do Exército Brasileiro. Nas mensagens, Lawand implora que Cid convença Bolsonaro a dar a ordem para o golpe. Cid diz que Jair relutava porque não confiava no comando do Exército.
O ajudante de Bolsonaro nunca responde que o presidente não planeja um golpe. Muito pelo contrário: em vários momentos, responde aos apelos de Lawand com “Estamos na Luta!” ou “Muita coisa acontecendo…Passo a passo…”.
Lawand contra-argumenta que “se a cúpula do Exército não está com ele [com Bolsonaro], de [general de] Divisão pra baixo, está”. Conta que um amigo seu ouviu do general de divisão Edson Skora Rosty que, se Bolsonaro desse a ordem para o golpe, seria obedecido.
Lawand estava, inclusive, pronto para se insurgir contra superiores que resistissem ao golpe: “Como é que eu vou aceitar a ordem de um General que não aceitou a ordem do Comandante?”, perguntava-se.
A conversa ajuda a jogar luz na dimensão-chave do golpe bolsonarista: os movimentos, em geral, opacos, dentro das Forças Armadas. Havia oficiais legalistas e golpistas, e ainda não sabemos bem quem era o quê, ou quantos havia de cada lado.
E todo o resto, as manifestações, as depredações, as postagens em redes sociais, mesmo os planos terroristas, eram pensados para ajudar os militares golpistas a recrutar colegas relutantes.
Os advogados de Bolsonaro, naturalmente, alegam que seu cliente não tem nada a ver com isso.
Se for verdade, Cid tentou organizar um golpe por Jair, sem combinar com Jair. Seria uma espécie de golpe-festa surpresa.
Como seria isso? Imagino que Michelle seria encarregada de tirar Jair de casa para fazer alguma dessas coisas que todo casal faz junto, como extravio de joias ou rachadinha. Na volta ao Alvorada, um Bolsonaro algo perplexo encontraria o palácio às escuras.
Quando acendesse a luz, os chefes das Forças Armadas bateriam palmas, gritariam “Surpresa!” e Ives Gandra sairia de dentro do bolo, vestido de Marilyn Monroe, cantando “Happy golpe, Mr. Presideeeeeeent”.
Vai ver era isso mesmo, sei lá eu.