Janja mostra confiança em cassação de Moro
A primeira-dama Janja da Silva entrou na disputa interna do PT do Paraná por uma possível vaga aberta no Senado que colocou em clima de guerra as lideranças locais do partido. Janja manifestou em suas redes sociais, nesta quarta-feira (28) apoio à presidente nacional da legenda, a ex-senadora e atual deputada federal Gleisi Hoffmann, que pleiteia a cadeira de Sergio Moro (União).
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Após a publicação de reportagem do blog sobre a briga interna no PT, na manhã desta quarta-feira, Janja publicou no seu perfil no Twitter uma foto em que aparece entre Gleisi e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. “E o dia começou com uma excelente conversa [com] essas duas mulheres maravilhosas!! Ministra Anielle Franco e a futura Senadora Gleisi”, escreveu a primeira-dama.
O PT dá como certa a cassação de Moro, ex-juiz da Lava-Jato que é alvo de um pedido de cassação no TRE paranaense, mas ainda sem previsão de desfecho – e que muito provavelmente não será decidido neste ano.
Ainda assim, a mera possibilidade de uma eleição suplementar já mobiliza alguns dos principais políticos do estado. Dentro do PT, a perspectiva de uma candidatura própria já criou nos bastidores do partido um clima de guerra entre o filho de José Dirceu, o deputado federal e líder do partido na Câmara, Zeca Dirceu, e Gleisi.
Os dois tentam se viabilizar e, para isso, buscam atrair o apoio de Requião pai e Requião Filho, que migraram do MDB para o PT em 2022 e também quer disputar a vaga do ex-juiz da Lava Jato. O gesto de Janja, que é paranaense e trabalhou durante anos na Itaipu Binacional, é a demonstração mais representativa dentro do PT na briga paranaense até o momento.
Nos bastidores, rivais consideraram a publicação da primeira-dama como uma “provocação barata”.
Moro é alvo de uma ação do PL que pede sua cassação no Tribunal Regional Eleitoral por abuso de poder econômico e caixa 2. Caso ele seja condenado, deve ser feita uma eleição suplementar.
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O caso só deve ser julgado no final do ano pelo TRE-PR e, se for derrotado, Moro ainda pode recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O ex-governador Roberto Requião e o deputado estadual Requião Filho, atual líder da oposição na Assembleia Legislativa, ainda não definiram qual dos dois encabeçará o projeto, mas vêm argumentando nos bastidores que não podem ficar de fora de uma disputa tão simbólica.
Na última eleição, Requião pai teve 26% dos votos válidos para o governo do estado. Não ganhou, mas teve o melhor desempenho da história do PT no estado.
Só que Zeca Dirceu está obstinado. E já marcou para o próximo dia 7 uma reunião com Requião Filho em Curitiba para discutir uma possível aliança.
A conversa entre o filho de José Dirceu e o filho de Requião deve envolver propostas de contrapartidas nas eleições municipais de 2024 – o deputado estadual, que está no terceiro mandato, não descarta disputar a prefeitura de Curitiba.
Pode haver também um acordo em torno da disputa pelo governo do estado em 2026 – o atual governador, Ratinho Júnior (PSD), não pode concorrer a um terceiro mandato, e ainda haverá duas cadeiras no Senado em disputa além da de Moro, cujo mandato termina em 2031.
O problema é que, até agora, pai e filho não se mostram dispostos a fazer nenhuma concessão, e ameaçam deixar o PT paranaense para disputar a vaga de Moro caso não recebam o apoio do partido.
“Havendo uma negativa do PT, nós vamos procurar o nosso espaço”, disse Requião Filho à equipe da coluna, ressaltando que os dois decidirão quem encabeçará a candidatura mais à frente, conforme cenário eleitoral. “O Requião tem um legado, uma história no Paraná”.
Dois motivos justificam a competição tão acirrada dentro e fora do PT para um pleito que pode nem ocorrer.
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Se Moro for cassado, a eleição suplementar deverá ocorrer no ano que vem, e políticos com mandato como Zeca, Gleisi e Requião Filho poderão disputar o Senado sem ter que abrir mão de seus cargos. Mesmo que percam, continuam onde estão até 2026, quando ainda podem tentar a reeleição.
Além disso, eles calculam que será uma chance rara de superar a larga e histórica vantagem da direita no Paraná, onde Bolsonaro teve 62,4% dos votos no segundo turno contra Lula. Dada a situação de maior fragilidade de Bolsonaro, a esquerda calcula que haverá uma fragmentação da direita que abriria espaço para seus candidatos.
A direita, claro, não concorda. O ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara Ricardo Barros (PP) já manifestou publicamente interesse na disputa e o PL trabalha para lançar Paulo Eduardo Martins para a vaga de Moro.
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O ex-deputado federal, que ficou em segundo lugar na disputa pelo Senado na eleição passada, ainda poderá ser apoiado por Ratinho Jr., de quem é próximo. Nos bastidores, se cogita ainda uma candidatura de Álvaro Dias (Podemos), derrotado em 2022, ou mesmo seu endosso a uma candidatura de “terceira via”.
Ou seja: a mera possibilidade de que Moro seja cassado e sua vaga fique disponível já colocou todos os campos políticos em polvorosa. Mas no caso da esquerda a disputa está tão acirrada que já provocou efeitos em outras searas.
Correligionários relataram à equipe do blog, sob reserva, que Zeca atuou junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para que Lindbergh Farias (PT-RJ), namorado de Gleisi, não assumisse cargos relevantes em comissões.
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Lindbergh acabou escanteado da composição da CPI mista do 8 de janeiro, embora sua indicação fosse dada como certa até então. Gleisi, por sua vez, teria usado sua influência como presidente do PT para bloquear a indicação de Andrea Godoy, mulher de um dos advogados de Zeca, para a superintendência do Ibama no Paraná.
Procurado, Zeca Dirceu afirmou que o encontro com Requião Filho está marcado “há muito tempo” e negou haver qualquer disputa com a presidente do PT.
“Eu e Gleisi temos uma sintonia fina. O PT é democrático, faz parte da nossa tradição que mais de uma candidatura seja colocada”, afirmou o deputado à equipe do blog. “Nunca houve retaliações. Eu acabei de indicar na semana passada o Lindbergh como vice-líder da maioria na Câmara e a Gleisi como nosso principal nome na CPI do MST”.
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Procurada, a dirigente do PT não retornou até o fechamento da reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
Já Requião e Gleisi sempre foram próximos, mas se afastaram depois que o ex-governador foi preterido na presidência da Itaipu Binacional, entregue a um aliado da presidente do PT, o deputado Enio Verri. Posteriormente, Requião rejeitou publicamente uma vaga oferecida no conselho da estatal, que ele chamou de “boquinha de luxo”.
O filho do ex-governador justifica a corrida antecipada por uma eleição suplementar que ainda não passa de uma hipótese.
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“É muito provável [a cassação de Moro], e vale a máxima de que não há espaço vazio na política. Com certeza algumas candidaturas serão colocadas ao Senado visando a prefeitura de Curitiba, e outras no sentido inverso também”, afirma Requião Filho.
“Além disso, é preciso avaliar a conjuntura política e o tamanho dos nomes que devem ser colocados. Não é uma vaga para qualquer um no desenho atual do Congresso”, argumenta, em referência ao tamanho da bancada bolsonarista nas duas Casas.
Independente do desfecho da querela petista, o fator determinante para a disputa antecipada pela vaga de Moro será mesmo o julgamento da ação do PL no TRE paranaense e, em última instância, o plenário do TSE. Até segunda ordem, a próxima eleição para o Senado no estado está prevista para 4 de outubro de 2026.
O Globo