Lula recusa ir a marcha evangélica

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Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva emitiu sinais distintos a dois grupos entre os quais enfrenta fortes resistências, ambos simpáticos ao ex-presidente Jair Bolsonaro: representantes do agronegócio e evangélicos. O petista participou pela primeira vez em seu terceiro mandato de um evento do setor produtivo na Bahia nesta terça-feira, mesmo dia em que recusou o que chamou de um “honroso convite” para participar na quinta da Marcha para Jesus, em São Paulo. Ele, contudo, enviará aliados para representá-lo no evento.

Apesar na negativa, o apóstolo Estevam Hernandes, idealizador da Marcha, interpretou o movimento de Lula como um “bom gesto”. O evento religioso ocorre durante o feriado de Corpus Christi. A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que é evangélica, assim como o advogado-geral da União, Jorge Messias, foram escalados para comparecer em nome de Lula.

No documento enviado a Hernandes, o presidente reforçou sua admiração pelo encontro religioso e lembrou que foi ele quem criou, em 2009, o Dia Nacional da Marcha para Jesus, um dos seus “orgulhos”:

“Considero uma das mais extraordinárias expressões da fé de nosso povo. Quero reafirmar minha admiração à Marcha e meu compromisso de garantir, para sempre, o pleno direito de cada pessoa desse país seguir professando sua fé”, diz trecho do documento.

Embora Lula tenha criado o dia do evento, foi o ex-presidente Bolsonaro o primeiro mandatário a participar dele. No ano passado inclusive, o então candidato à reeleição o usou como palanque:

— Somos conta o aborto, a ideologia de gênero e a liberação de drogas. E somos defensores da família brasileira.

Na Bahia, contudo, apesar de ter ouvido gritos de “ladrão” dos presentes, Lula tentou uma aproximação com representantes do agronegócio. Durante a cerimônia de abertura do Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães, o petista defendeu uma relação harmônica entre o setor e o pequeno produtor.

O apelo acontece no rastro das ofensivas das ocupações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em abril, que motivaram a abertura da CPI do MST na Câmara dos Deputados, colegiado em que os dois grupos rivalizam. As ações do movimento pressionaram o governo, que não quer se indispor com parte de sua base eleitoral nem desagradar grupos ruralistas.

— Joguem o ódio na lata do lixo (…) Nós não somos galos de briga — disse o presidente durante a feira, a maior do segmento de tecnologia agrícola do Norte e Nordeste do país. — O pequeno proprietário e o agronegócio são duas coisas totalmente necessárias para o país. Não há rivalidade, não há porque o preconceito do grande contra o pequeno ou do pequeno contra o grande. O Brasil precisa dos dois porque os dois ajudam o Brasil.

Logo depois, em um aceno para o agro, o governo anunciou uma linha de crédito de R$ 7,6 bilhões para investimentos em sustentabilidade, ampliação da capacidade de armazenagem e segurança alimentar, além de R$ 3,6 bilhões para o Plano Safra (Safrinha) e R$ 4 bilhões em linha de financiamento em dólar para investimentos no Crédito Rural.

O agronegócio tem travado uma relação sensível com Lula desde o período eleitoral, e o governo tem tentado ampliar seu trânsito no setor, no qual Bolsonaro tem ampla capilaridade.

Recentemente, o governo entrou em uma saia-justa com o setor após o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmar que foi “desconvidado” para a cerimônia de abertura da Agrishow após Bolsonaro ter confirmado presença. O governo chegou a dizer que o Banco do Brasil retiraria o patrocínio da feira.

Lula deu as declarações durante participação na cerimônia de abertura do Bahia Farm Show, em Eduardo Magalhães (BA). Ele estava acompanhado pela primeira-dama, Janja da Silva, pelo governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), pela presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, e pelos ministros Rui Costa (Casa Civil), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Carlos Fávaro (Agricultura), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Renan Filho (Transportes) e André de Paula (Pesca).

O Globo