Placar no Senado é importante para Zanin
Foto: Rodolfo Buhrer
O advogado Cristiano Zanin, indicado pelo presidente Lula para o Supremo, será sabatinado nesta quarta, a partir das 10h, pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Tudo caminhando como o previsto, haverá, na sequência, a votação secreta em plenário. Ele precisa de 41 votos para ser aprovado. Ninguém aposta no insucesso. Há quem preveja um placar acima de 50 mesmo nestes dias difíceis. Espera-se, pois, que fique acima dos 47 obtidos por André Mendonça, com 32 “nãos”. O placar, entendo, será um termômetro do estado geral da política e, em muitos aspectos, do governo Lula. Se bancada quisesse dizer alguma coisa, Zanin já poderia correr para o abraço: os partidos que integram a base do governo ou que contam com ministérios somam 45 senadores: PSD (10), União Brasil (11), MDB (10), PT (9), PDT (2), PSB (2) e Rede (1).
Ocorre que, em alguns casos, bancada não quer dizer voto. Nem a favor nem contra. Sergio Moro (União-PR) certamente não endossará o nome do seu antípoda na Lava Jato nos processos contra o presidente Lula. O postulante não chegou a se encontrar com o ex-juiz. Por outro lado, parlamentares de oposição já anunciaram adesão ao indicado: Carlos Portinho (PL-RJ), Mecias de Jesus (Republicanos-RR), Plínio Valério (PSDB-AM) e Ciro Nogueira (PL-PI). Ao Globo, 41 senadores afirmaram a disposição de referendar o nome de Zanin; 31 não responderam, e apenas 8 disseram que votarão contra. Marcos Pontes (PL-SP) está de licença médica. Todos esperavam, inclusive este escriba, que fosse haver mais resistência ao nome de Zanin, com um alarido infernal nas redes sociais. Convenham: não aconteceu. O relativo silêncio tem algumas explicações. A primeira delas é a mais óbvia: se o governo ainda encontra dificuldades na articulação política, especialmente na Câmara, a oposição vive situação muito pior: não tem eixo, beira ou eira. Está perdida. A arruaça que promove na CPI do MST e na CPMI do 8 de Janeiro é evidência eloquente. Soubesse para onde ir e contasse com um líder com alguma preocupação outra que não a inelegibilidade e a cadeia, talvez tivesse conseguido organizar uma reação ao “advogado de Lula”. Mas quem é o chefe da patota? Bolsonaro? Há um outro dado: o perfil de Zanin contribui para conquistar adesões, ainda que muitos de seus eventuais eleitores se oponham a Lula. O advogado pertence à corrente, se assim se pode chamar, dos garantistas em matéria de direito penal, embora não seja sua área de origem. Isso implica um compromisso com o devido processo legal: em vez da manipulação da lei com intuitos punitivistas — à moda Lava Jato —, a garantia dos direitos individuais. É, a propósito, autor de um livro sobre “lawfare”, expressão que designa o uso político de instâncias do Estado para perseguir adversários: “Lawfare – Uma Introdução”, escrito em parceria com os também advogados Valeska Martins, sua mulher, e Rafael Valim. Não estando os olhos turvados pela ideologia, só uma escolha é prudente a qualquer pessoa, especialmente quem exerce função pública: o respeito às regras do jogo. Vimos, com a Lava Jato, em que podem redundar o ilegalismo, o voluntarismo irresponsável e o uso de instrumentos de persecução penal para atingir inimigos políticos. Sei, sei… O lava-jatismo, a seita dos Impunes dos Últimos Dias, cujos profetas estão com um pé da cadeia, acha que essa conversa é só uma conspiração a unir petistas e bolsonaristas. Mas quem dá bola a essa gente, exceto alguns bolsões decadentes da imprensa? Isso não quer dizer que Zanin terá uma sabatina fácil. É claro que senadores de oposição darão relevo à sua proximidade com Lula, indagando em que circunstâncias se daria por impedido. A suposta hipertrofia do STF, que invadiria o espaço do Legislativo, parece um papinho inevitável. Dado que estarão diante do ex-defensor de Lula, as inexistentes arbitrariedades do STF contra os “patriotas” do 8 de janeiro também tendem a ter seu lugar. Temas como legalização do aborto, descriminação das drogas para consumo — em votação do Supremo, diga-se — e criminalização da homofobia vão gerar mais trevas do que luz — e a escuridão não virá do futuro ministro, é claro! Os reaças tentarão, ainda, arrancar do indicado uma declaração de princípio em favor do que chamam “liberdade de expressão” nas redes. Como é notório, a extrema-direita ergue tal bandeira para, com ela, encobrir crimes de ódio. E é provável que queiram saber a opinião de Zanin sobre o marco temporal para a demarcação de terras indígenas, também em votação na Corte. A comissão é composta por 27 senadores. Lá estão, por exemplo, Sérgio Moro (União-PR), Marcos do Val (Podemos-ES), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Magno Malta (PL-ES) e Eduardo Girão (Novo-CE). Oriovisto Guimarães (Podemos-PJ), um lava-jatista raiz, integra a turma. Nem é divertimento garantido nem seu dinheiro de volta… Se a oposição, até aqui, não tem propósito, nada indica que vá encontrar o rumo. A economia emite sinais positivos, Lula pisou no freio de arrumação da coordenação política, e há uma boa chance de que o governo já tenha enfrentado o pior. Assim como “uzmercáduz” estão revendo as suas projeções, também as tais “vivandeiras do caos” perderam um tanto de sua disposição para o barulho, às vésperas da certa e fatal inelegibilidade de Bolsonaro. Não! O barco não vai afundar. Acho que uma revisão das apostas também tende a se traduzir no placar de votação desta quarta. A despeito dos “clowns” de sempre.