PSDB segue caminhando para o sumiço
Foto: Grégori Bertó/Secom
À frente da direção nacional do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, não titubeia ao dizer que o partido é oposição ao governo Lula, sobretudo na área econômica. O tucano cita, entre as críticas ao petista, a suposta falta de empenho do presidente em conduzir a reforma tributária. “Não vemos o presidente da República falando sobre a reforma, não vemos a reforma na agenda política. Não há um empenho do presidente em conduzir esse processo com a importância que ele tem”, alega em entrevista ao Valor.
Leite diz ter aprendido, com a aprovação de reformas no governo gaúcho, que o chefe do Executivo precisa se envolver para encaminhar esse tipo de projeto. “A reforma tributária tem sido até aqui a reforma da burocracia da máquina pública, liderada com esforço pelo Bernard Appy, um técnico respeitável, e tantos outros, como o próprio ministro [da Fazenda, Fernando Haddad].”
O governador enumera outras reclamações: vê o arcabouço fiscal como importante, mas “insuficiente”, e ataca a ideia de mudar o marco do saneamento: “O PT insiste num modelo fracassado. O presidente Lula diz que tem que se dar um voto de confiança nas estatais. Elas existem há mais de 60 anos, já tiveram muito voto de confiança.”
Ao lado dele, na entrevista feita em um hotel do Rio de Janeiro, estava o tucano histórico Tasso Jereissati. O ex-senador, ex-governador do Ceará e ex-presidente do partido foi relator do marco do saneamento no Senado. “Tasso tem sido meu ajudante de ordens”, brinca o gaúcho.
Leite chegou a renunciar ao governo no ano passado, quando ainda almejava a Presidência. Depois da desistência, disputou de novo o Palácio Piratini e voltou à cadeira, algo inédito em um Estado onde governadores não conseguem se reeleger. Aos 38 anos, o chefe do PSDB evita se colocar como presidenciável em 2026, mas garante que a intenção do partido é ter candidato próprio – no ano passado, não o fez pela primeira vez desde a fundação, em 1988.
“É a lógica de um partido que tem projeto, visão de país. No centro, que não é simplesmente ficar no muro ou ficar equidistante dos polos, e sim um terceiro polo, quem tem projeto, visão de futuro, agenda e vocação para liderar é o PSDB. O partido buscará apresentar uma candidatura”, afirma. “Mas não podemos personalizar, senão faremos o que os outros fazem, essa discussão entre Lula e Bolsonaro. Na frente vamos discutir o melhor nome. Se entenderem que é o meu, poderá ser, mas não é algo que esteja definido.”
No centro, quem tem projeto e vocação para liderar é o PSDB”
— Eduardo Leite
Quando assumiu o partido, o governador contratou uma consultoria para ouvir lideranças tucanas Brasil afora. O objetivo é fazer um diagnóstico do que é hoje o pensamento tucano e traçar, a partir daí, as diretrizes de reconstrução de uma legenda que elegeu no ano passado apenas 18 deputados em federação com o Cidadania e perdeu o governo de São Paulo, maior Estado do país e fortaleza histórica tucana.
“O PSDB se forjou em boa parte desses 35 anos sendo antagonista ao PT. E houve de uns tempos para cá a ocupação de antagonismo ao PT pelo bolsonarismo. Estamos buscando identificar a necessidade de conexão com as origens do partido”, observa.
Leite evita apontar culpados pelo esvaziamento do tucanato e cita o contexto internacional de fortalecimento do extremismo, mas vislumbra como saída para o futuro a construção do tal “terceiro polo”. O conteúdo programático passaria por unir aspectos econômicos mais associados à direita, como a defesa das privatizações, e temas caros à esquerda, a exemplo da defesa da sustentabilidade, da inclusão social e do respeito à diversidade.
Uma coisa que o gaúcho reconhece ter mudado para melhor com o mandato de Lula é o ambiente político de diálogo entre a União e os entes federativos. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diz, era hostil com os governadores, que compunham a lista de alvos dele para “terceirizar” os problemas do país. Com Lula, a relação é “respeitosa, embora haja divergências”.
No quesito diálogo, elogia também a condução da Fazenda pelo ministro Fernando Haddad, que estaria trabalhando bem como mediador e demonstrando preocupação com os Estados. Não deixa, contudo, de voltar a alfinetar a visão do governo sobre a economia: “Haddad tem um esforço de diálogo, isso é bom, positivo. Tem sido um mediador. Mas está envolvido por um modelo político do governo que nós consideramos pouco arrojado, antigo, defasado.”
Um dos aspectos prioritários do Rio Grande do Sul no diálogo com o governo federal – assim como Rio, Minas e Goiás – é a renegociação do Regime de Recuperação Fiscal. As metas estabelecidas quando os Estados assinaram a entrada no programa não previam a acentuada queda de receitas provocada pela própria União no ano passado, com mudanças no ICMS. “Nossa despesa não caiu, mas a receita despencou. No Rio Grande do Sul, perdemos R$ 3 bilhões. Demandamos para a União o ajuste dos parâmetros da exigência dos indicadores, o que significará um alongamento do prazo do regime: estava previsto em nove anos e pode ir talvez para 15 anos.”
Em São Paulo, depois de sair do Palácio dos Bandeirantes, o PSDB registra um processo de perda de prefeitos para partidos que dispõem hoje de máquinas mais robustas. “É natural. Não tenho uma expectativa de que o PSDB no curtíssimo prazo tenha aumento no número de prefeitos”, assume Leite. “Temos um processo político no país em que muitos quadros priorizam buscar benefícios imediatos, com fundo partidário e tempo de TV, que são determinados a partir do tamanho da bancada no Congresso.”
O líder dos tucanos vê as eleições municipais do ano que vem como importantes para reforçar a imagem que tenta impor ao partido. “O PSDB buscará ter candidaturas em locais estratégicos para aproveitar o momento de audiência. Em princípio observamos, sim, ter candidaturas em cidades estratégicas, capitais, até mesmo São Paulo e Rio de Janeiro, buscando criar condições para apresentar ao eleitorado um PSDB vivo.”