Agonizando, PSDB não terá candidato em SP
Foto: Saulo Guimarães/UOL
Um racha interno pode levar o PSDB a não ter candidato próprio a prefeito de São Paulo nas eleições de 2024 — algo inédito na história do partido, que completou 35 anos.
O diretório municipal entende que Ricardo Nunes (MDB) é sucessor de Bruno Covas (prefeito tucano que morreu em 2021) e não vê sentido em lançar um nome pouco competitivo. Mas os diretórios nacional e estadual defendem que a legenda tenha um representante na disputa para se manter viva no jogo político. A direção nacional diz que está “em processo de tomada de decisão”.
O diretório estadual quer lançar vereadores como candidatos. Carlos Bezerra Jr., João Jorge e Xexéu Trípoli poderiam representar o partido em 2024 pois obtiveram boas votações em 2020, de acordo com Marco Vinholi, presidente do PSDB paulista. Ele também não descarta a possibilidade de concorrer.
Vinholi está inelegível por condenação de improbidade administrativa em segunda instância. Em maio, o STJ condenou o tucano por ter sua candidatura à deputado estadual em 2014 beneficiada pelo uso da estrutura oficial da Prefeitura de Catanduva — à época, comandada por seu pai.
Apoiadores de candidatura própria não chegam a 5% do partido, alega o presidente do diretório municipal. Luiz Fernando Alfredo diz que defensores da ideia sabem da sua inviabilidade, mas querem usá-la para barganhar espaço dentro da legenda. Ele afirma que os oito vereadores tucanos de São Paulo apoiarão Nunes.
O presidente do diretório municipal cogita se candidatar nas prévias, caso a insistência por nome próprio continue. Alfredo afirmou que, se os rivais lançarem de fato um pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo partido, ele pretende entrar na disputa interna para ganhar e levar o partido a apoiar Nunes em 2024.
O PSDB tem candidatos à Prefeitura de São Paulo desde antes de existir. Em 1985, Fernando Henrique Cardoso disputou o cargo pelo PMDB. Três anos depois, foi um dos fundadores do PSDB, que desde então teve representantes em todas as disputas — e venceu com José Serra (2004), João Doria (2016) e Bruno Covas (2020).
O partido enfrenta uma crise há mais de uma década, que se agravou nos últimos anos — com desavenças e embates internos. Acostumados a ter quadros de projeção nacional, nas eleições do ano passado os tucanos tiveram o pior resultado de sua história — fora da corrida presidencial, perderam o governo de São Paulo, não elegeram senador e a bancada da Câmara foi reduzida à metade.
Em São Paulo, Nunes não foi à comemoração pelos 35 anos do PSDB. Realizado na última segunda-feira (10), o evento do diretório municipal reuniu cerca de 100 pessoas em uma pizzaria na zona sul paulistana — entre elas, Aloysio Nunes (ministro das Relações Exteriores no governo Temer), Bruno Araújo (ex-presidente nacional do PSDB) e Tomás Covas (filho de Bruno Covas).
Vinholi também não foi — mas mandou um vídeo e foi alvo de vaias quando a gravação foi exibida. Ele afirmou que está em férias e viajou para fora do país.
O diretório estadual quer lançar candidaturas no maior número possível de cidades paulistas. A ideia é eleger prefeitos em um terço dos 645 municípios. Para isso, o partido deve apostar em novos nomes e ex-prefeitos bem avaliados — como Barjas Negri (Piracicaba) e Ortiz Junior (Taubaté).
Sem candidato próprio, o diretório municipal quer negociar a presidência da Câmara, a vaga de vice de Nunes e a chefia de secretarias. Na visão de Alfredo, ocupar esses espaços possibilitaria formar novas lideranças com chances em futuras eleições.
A candidatura própria na capital violaria acordo firmado em 2022. Na ocasião, MDB, União Brasil e PSDB acertaram o apoio a Nunes nas próximas eleições municipais. Questionados sobre a situação, defensores da candidatura própria afirmam que “a discussão sobre o tema será ampla, buscando o melhor caminho para o partido”.
A quebra de acordo repetiria 2008. Naquele ano, o então tucano Geraldo Alckmin (hoje no PSB) foi candidato e quebrou um pacto firmado por José Serra (PSDB) em 2006, que previa que o partido apoiaria Gilberto Kassab (então no PFL), prefeito à época. Resultado: Alckmin não foi ao segundo turno e Kassab foi reeleito.
O comentário do presidente do diretório municipal em um post contra candidatura própria gerou mal-estar. Na última segunda, Alfredo deixou aplausos em uma publicação na qual Sergio Kobayashi, presidente da Fundação Mario Covas, chamou de “paranoia atávica [hereditária]” a possibilidade de o PSDB lançar nome próprio em 2024.
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Dar as costas ao atual prefeito Ricardo Nunes é, sim, novamente não realizar o que parece caminho natural. Ou seja, manter a parceria argutamente construída por Bruno Covas, que triste e prematuramente destinou a cadeira ao seu vice.
Sergio Kobayashi, presidente da Fundação Mario Covas, em publicação no Instagram
O PSDB elegeu os últimos dois prefeitos paulistanos e tem obrigação de lançar um candidato se quiser continuar no jogo político. Apoiar o Ricardo não seria um absurdo, visto que ele apoiou o Rodrigo Garcia e o MDB é um partido próximo ao nosso. Mas estrategicamente é importante lançar um nome, ainda que eventualmente a gente venha a apoiar o Ricardo num segundo turno
Marco Vinholi, presidente do diretório estadual do PSDB-SP
O nosso compromisso é com a reeleição do Ricardo Nunes. Eu não tenho dúvidas que se o nosso grande líder Bruno Covas estivesse entre nós, ele estaria firme, confiante e trabalhando assiduamente pela reeleição do Ricardo. O PSDB vive um momento em que nós não temos nome forte para apresentar aqui na cidade de São Paulo. Então, quando vem alguém defender a candidatura própria é legítimo, é democrático, é do partido defender isso — desde que nós tenhamos viabilidade.
Luiz Fernando Alfredo, presidente do diretório municipal do PSDB em São Paulo
O PSDB tem por princípio buscar sempre lançar candidatos próprios em todas as eleições majoritárias, especialmente nas localidades com maior número de eleitores. Há exceções. Uma delas foi na eleição presidencial de 2022. Estamos avaliando o cenário para 2024. Na cidade de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes é uma opção, até por ser uma continuidade da gestão do nosso Bruno Covas, mas ainda estamos em processo de tomada de decisão.
Diretório Nacional do PSDB, em nota enviada ao UOL
Nosso partido governou a cidade por seis mandatos – destes, dois consecutivos tiveram a mim como prefeito. Na última eleição, tive 67 mil votos para deputado estadual pelo PSDB, o que me garantiu a primeira suplência na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Muitos destes votos são daqui, de Taubaté. O partido na cidade está bem estruturado, organizado para ter uma chapa competitiva e eleger vereadores. A estimativa é que o Diretório faça, ao menos, três cadeiras.
Ortiz Júnior, presidente do Diretório Municipal do PSDB de Taubaté-SP e ex-prefeito da cidade