Aliado a Lula, Centrão mantém discurso de “independência”

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Foto: BNews

Perto de embarcar no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Centrão acertou com o Palácio do Planalto que partidos como PP e Republicanos irão manter o discurso de “independência” no Congresso, ainda que ambas as siglas estejam negociando, nos bastidores, cargos em ministérios e no segundo escalão da Esplanada. O pacto foi feito como forma de evitar que a aliança constranja governadores e parlamentares mais conservadores do Centrão. A informação foi confirmada ao Valor, em condição de anonimato, por interlocutores de ambos os lados. Na semana passada, o Centrão demonstrou intenção de ocupar espaços no governo Lula e apresentou uma lista de desejos. Os pedidos incluem o controle de órgãos como os ministérios do Esporte, do Desenvolvimento Social, além da Caixa Econômica Federal e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão ligado ao Ministério da Saúde. Ao aceitar essa condição, o governo Lula está replicando o mesmo arranjo que foi feito com o União Brasil no início do governo. Em janeiro, o partido fez uma série de indicações políticas para a gestão petista, mas não se declarou como partido da base aliada na Câmara e no Senado. O resultado foi que diversos parlamentares do União não entregaram os votos esperados pelo governo Lula. Como parte desse entendimento, os partidos do Centrão farão suas indicações para os ministérios de forma reservada, mas dirão publicamente que os novos ministros fazem parte da “cota pessoal” do presidente da República. Sobre isso, a cúpula do governo justifica que essa possibilidade já estava “precificada” e que o pacto não vai repetir os problemas verificados na aliança com o União Brasil. A explicação é que, desta vez, os nomes a serem sugeridos pelo Centrão têm bom trânsito no Congresso e tendem a angariar mais apoio para o Executivo. Ainda assim, os dois lados reconhecem que o acordo deve se limitar a pautas econômicas e de infraestrutura, ou seja, não contemplará pautas de cunho ideológico, como, por exemplo, bandeiras da esquerda. Até o momento, as negociações apontam, por exemplo, para as indicações dos deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), para o Ministério do Esporte, e André Fufuca (PP-MA), para o Desenvolvimento Social (MDS). Já a Caixa Econômica Federal pode ficar com o ex-ministro Gilberto Occhi (PP-MG). Não há um nome de consenso, entretanto, para a Funasa, cuja indicação deve ser de “consenso” e com algum “verniz técnico”. Além disso, o governo Lula também avançou, ontem, na tentativa de construir uma aliança mais consistente com o União Brasil. Isso porque Lula se reuniu com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), um dos principais dirigentes da sigla. Na conversa, segundo interlocutores, o senador do Amapá reforçou a indicação do deputado Celso Sabino (União-PA) para o cargo de ministro do Turismo, no lugar da atual titular, Daniela Carneiro. Além disso, o parlamentar teria formalizado o interesse da legenda em assumir o controle da Embratur e dos Correios. A conversa aconteceu no Palácio do Planalto sem que o encontro fosse divulgado na agenda presidencial. A expectativa agora é que Lula convoque Sabino para uma reunião e formalize, nos próximos dias, o convite para que o deputado assuma o cargo. O único impasse continua sendo o controle da Embratur. Atualmente, a agência está sob o comando de Marcelo Freixo, aliado de primeira hora do presidente. Diante desse obstáculo, Lula teria desconversado e não se comprometeu, segundo fontes, com a entrega do órgão. A reunião acontece em meio às negociações para que Daniela Carneiro deixe o cargo. Isso porque ela pediu desfiliação do União Brasil e não representa mais o partido.

Valor Econômico