Aras trai Bolsonaro para continuar no cargo

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Foto: Evaristo Sá/AFP

Conduzido duas vezes ao comando da Procuradoria-Geral da República pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Augusto Aras vem trabalhando nos bastidores para tentar emplacar uma terceira passagem de dois anos pelo posto. Embora o entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda trate a possibilidade como remota, Aras conquistou elogios públicos de importantes caciques petistas, como o senador Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Os defensores do procurador-geral próximos ao Planalto apontam como principal mérito a derrubada da Operação Lava-Jato, responsável pelas condenações que levaram Lula à prisão e o tornaram inelegível, tirando o petista da disputa presidencial em 2018. Aras dissolveu a força-tarefa em Curitiba em fevereiro de 2021 e fez críticas ao trabalho dos procuradores em diferentes momentos.

Por outro lado, entre os que descartam uma recondução, o argumento central menciona uma blindagem a Bolsonaro durante o governo anterior, sobretudo no contexto da pandemia da Covid-19. Aras sempre foi visto por adversários do ex-presidente como excessivamente leniente em relação a ele, visão que é compartilhada, por exemplo, por alguns integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF).

O que pode pesar a favor

Pá de cal na Lava-Jato

Em fevereiro de 2021, Aras — que teceu críticas à operação Lava-Jato em diversos momentos — encerrou formalmente a força-tarefa autônoma no Paraná, incorporando os procuradores a outros grupos.

‘Caixa de segredos’
O fim da força-tarefa não foi o primeiro embate de Aras com a Lava-Jato. Após uma inspeção da PGR em Curitiba, em julho de 2020, ele acusou o grupo de funcionar como uma “caixa de segredos”, guardando dados sobre 38 mil pessoas.

8 de janeiro
Após os ataques em Brasília, Aras esteve na reunião que Lula realizou com governadores e outros chefes de Poder. Dias depois, foi criado um grupo específico na PGR para atuar em investigações de manifestações golpistas, que vem denunciando centenas de envolvidos na barbárie.

Bolsonaro na mira
Acusado de inação durante o último governo, Aras enquadrou Bolsonaro após os atos antidemocráticos na capital federal e pediu sua inclusão no inquérito que trata do episódio. Em entrevista recente, ele frisou que também abriu investigações contra o ex-presidente, seja por iniciativa própria ou em decorrência da CPI da Covid.

Postagens esmiuçadas
Ampliando o cerco contra Bolsonaro, a PGR pediu ao STF, no âmbito do inquérito sobre o 8 de janeiro, que as redes sociais apresentem dados de perfis e publicações do ex-presidente que tratam de eleições, urnas eletrônicas, Forças Armadas e o próprio Supremo, entre outros temas. A defesa do ex-presidente reclamou de “monitoramento político”.

O que pode pesar contra

Alinhamento
Um levantamento do GLOBO mostrou que, em 184 acusações contra Bolsonaro ou seus filhos apresentadas ao STF, as manifestações da PGR se alinharam aos interesses do bolsonarismo em 95% dos casos.

Ex-presidente poupado
Até deixar o cargo, Bolsonaro tornou-se alvo de um único inquérito aberto por iniciativa da PGR, sobre uma suposta interferência na Polícia Federal relatada por Sergio Moro ao deixar o cargo de ministro da Justiça. Outros quatro foram iniciados no próprio STF ou em decorrência da CPI da Covid, com a PGR opinando pelo arquivamento da maior parte deles.

Covid-19
Uma das searas que mais rendeu críticas a Aras foi a postura da PGR relativa à pandemia, em meio a várias acusações envolvendo o governo Bolsonaro. Ele chegou a ser abertamente questionado por integrantes da CPI da Covid pela demora para decidir a respeito de apurações decorrentes do colegiado.

Braço-direito
Aras escolheu como vice-procuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo, vista como um dos nomes mais simpáticos a Bolsonaro no órgão. Ela foi responsável, por exemplo, por um pedido de arquivamento da investigação envolvendo Moro e o ex-chefe a apenas duas semanas do primeiro turno das eleições presidenciais.

Posição do STF
A avaliação de que Aras adotou postura leniente sobre Bolsonaro existe inclusive dentro do Supremo, o que levou a PGR a ser preterida em alguns inquéritos, com ministros tomando decisões sem um parecer do Ministério Público.

O Globo