Bolsonaristas do PP tentam evitar aliança com Lula

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Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Ex-ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro e líder do PP no Senado, Tereza Cristina (MS), diz que apesar da aproximação de nomes da sua sigla com o governo Lula, não há possibilidade de a legenda integrar a base. Segundo ela, caso algum filiado assuma um ministério, será uma escolha pessoal do presidente, e não uma indicação do partido.

Tereza evita se colocar como candidata após ser citada pelo presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), como possível vice em 2026, e diz que o importante é os partidos que deram sustentaram a Bolsonaro — além do PP, PL e Republicanos — não se dividirem. Ela, porém, se posiciona na contramão de Bolsonaro e parte da direita, ao defender a aprovação da Reforma Tributária no Senado. Mas antecipa que deve apresentar emendas contra pontos que vê como prejudiciais ao agronegócio, sua base eleitoral.

Integrantes do PP tem negociado aderir ao governo. Como vê essa possibilidade?

O presidente (do PP) Ciro (Nogueira) tem dito que ele é de oposição, tenho visto todo dia ele falando. No governo passado a minha escolha (como ministra da Agricultura) e do (Luiz Henrique) Mandetta, por exemplo, não foi indicação do DEM, partido que éramos filiados. Foi uma escolha pessoal (do Bolsonaro), e o DEM ficou fora do governo. Agora acontece a mesma coisa. O PP pode ter alguém indicado por A ou B, mas é um nome, não quer dizer que o partido vá para o governo.

Há alguma chance de o PP barrar filiados no governo?

Eu não vejo esse movimento. Aqui no Senado a nossa bancada é muito coesa, tem sido de oposição, mas uma oposição responsável, votando pelo Brasil. Não é só porque é oposição que tem que votar contra tudo. Falando do meu caso, nunca recebi uma orientação: “Vote contra ou a favor disso”. O PP encaminha sim, mas temos a liberdade de tomar nossas decisões. Mesmo porque, o Brasil sendo um país tão grande, os problemas dos deputados do Nordeste são diferentes dos deputados do Sudeste e do Sul. O PP não é um partido de fechar questão. Se tiver alguém indicado para o governo não será uma indicação do PP.

A senhora passou a ser citada, inclusive pelo presidente do seu partido, como possível vice em 2026. Qual sua disposição para entrar na disputa?

Ninguém é candidato de si próprio. Agora, eu acho que são especulações de nomes, assim como o governador (de São Paulo) Tarcísio (Freitas), o governador (de Minas Gerais) Zema, o governador (do Paraná) Ratinho Jr., o próprio senador Ciro, tem várias pessoas nesse campo (da direita) e os nomes vão surgir. Tem muito tempo ainda, muita água para correr debaixo dessa ponte. Nosso campo só não pode se dividir, temos que estar juntos, PP, PL, Republicanos e outros mais. Se a gente estiver unido, vamos achar o melhor candidato para presidente e vice, pragmaticamente, para ganhar as eleições.

Seu nome já foi cotado em 2022 como vice de Bolsonaro. Chegou a ser consultada?

Nunca. Às vezes, Valdemar (Costa Neto, presidente do PL) brincava comigo: “Você pode ser a melhor vice do mundo”. Eu sei que ele gosta muito de mim, assim como gosto dele, mas nunca sentaram comigo: “Tereza, venha aqui vamos conversar sobre ser vice”. Nunca aconteceu.

Com Bolsonaro inelegível, fica mais fácil ou difícil vencer Lula?

Isso fecha uma das opções que o campo da direita tinha. Mas Lula era inelegível há dois anos e meio atrás. Volto a dizer, é muito cedo. Hoje estamos fazendo as especulações, mas a política é dinâmica.

Em relação à Reforma Tributária, a senhora deve seguir a posição de Bolsonaro contrária à proposta?

Não é que ele foi contra. A reforma está aí, ela passou. Vamos ficar fora da reforma ou tentar melhorar? É isso que as pessoas precisam entender. Eu sou oposição ao governo, mas sou responsável, tem coisa que temos que trabalhar para melhorar e tentar colocar nosso ponto de vista.

Como representante do agro, deve apresentar emenda?

A agricultura foi contemplada, mas tem coisas ainda. O trabalho pesado ficou para o Senado. Temos um ponto, que é o artigo 20, que não é só para agricultura, mas para todos os produtos, as commodities para exportação, que precisa de algumas adequações. (O artigo abre brecha a estados e municípios criarem novo tributo sobre produtos primários e semielaborados). Estamos trabalhando para apresentar emendas sobre esse artigo 20. Tem o problema desse conselho, que para os estados é uma coisa muito cara, e essa Casa é a casa dos estados. Tenho ouvido que deve votar em outubro (no Senado) para voltar para Câmara, então temos dois meses e meio de muita discussão.

Como vê a atuação da oposição na CPI do MST?

Se o governo tivesse sido firme (em coibir invasões de terra) no início, talvez a CPI nem tivesse existido. Um governo que é pró-reforma agrária, mas que deixa um movimento fazer invasão de propriedade privada, é muito ruim.

Como estão as negociações para aprovação do chamado PL dos Agrotóxicos?

Há acordo para votar agora no segundo semestre. É um acordo feito com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que passou a relatoria para o senador Fabiano Contarato (PT-ES). O governo entendeu que isso não é um assunto de governo, é altamente técnico, a modernização da utilização dos pesticidas. O ministro da Agricultura (Carlos Fávaro) já esteve aqui (no Senado) conversando, dizendo que o governo quer que aprove.

O Globo